Músico e empresário, Rui Policarpo “Last Man” é, a semelhança dos seus manos Michelino e Bruno Ngombo, uma figura de destaque no meio gospel. Na música começou como baterista da Banda Coroa da Glória, mas é como rapper que hoje mais se identifica. Tem participações em várias obras de artistas nacionais como , Dodó Miranda, Beth Mambo e Gonçalves Diogo.
Do seu vasto currículo como promotor de eventos, destaca-se o projecto Rimas Evangélicas – o primeiro projecto que congregou rappers gospel ao nível de Luanda.
Em entrevista exclusiva ao portal Arautos da Fé, o patrão da Sandjuka Produções fez revelações e analises inéditas sobre a música gospel angolana.
A Sandjuka, revelou, mudou o conceito de sonorização e iluminação em eventos gospel, deu oportunidade a artistas que não tinham nome e fez com que outras produtoras trabalhassem.
A segunda parte da entrevista será publicada nos próximos dias.
Como é que começa a sua carreira musical?
Começa na Igreja Exército da Salvação, Corpo de Ingombota – hoje São Paulo, na Banda Coroa da Glória. Integrei a banda em 99, me recordo muito bem porque foi exactamente na passagem de ano 99/2000. Na Banda Coroa da Glória, na altura, era baterista e estava a dar os primeiros passos como rapper.
Na passagem de ano 99/2000 a banda começa a ter participações fora da igreja, mas ainda, (vivia) aquele problema que a maior parte do pessoal que começou a fazer música na igreja passou. Fomos fazendo, em 2004 fizemos Atlântico, me recordo foi a gala ML3. Cantei neste dia e depois quando o movimento começou a ganhar mais força e surgiu a oportunidade de se criar a Asso-Música, o Praiseart, fizemos parte deste processo e fomos dando um contributo naquilo que era o Rap.
Mas (como) Last Man, começo em 2011 a solo.
Quem eram os seus companheiros na banda?
Era liderada pelo Michelino Ngombo – era o arranjista e director da banda, o Bruno Ngombo era o vocalista, tínhamos a linda Marcelina, a Keta Domen, a Fidel que agora está na Asso-Música. Tínhamos o Nguezinto, era o guitarrista, o Herdeiro – baixista e estava eu como baterista.
Sentiu que já não cabia na banda por isso é que decidiu dar outros passos?
Na verdade, nós trabalhamos intensamente durante cerca de 10/11 anos, mas as oportunidades na altura, não eram as mesmas que temos hoje. A visão de querer fazer música a solo, quando se trabalha em conjunto a velocidade não pode ser de um, tem que ser uma única velocidade ou seja, ninguém pode estar mais acelerado. Em 2010/11, mais ou menos nessa altura, alguns elementos da banda começaram a criar família o que é bem normal e isso diminuiu o envolvimento deles na banda. A visão da banda era, tínhamos o Bruno como vocalista, ir passando os outros membros também dentro daquilo que fazia. Por exemplo, apesar de ser baterista, já fazia rapper e tudo mais, e alguns temas da banda eu já cantava. Então a visão era trabalhar alguns temas com o Bruno e depois outros elementos. Quando alguns elementos da banda criaram família, desacelerou o funcionamento, o ritmo da banda e nessa altura eu já estava musicalmente bem mais maduro. Porque já tínhamos aí 10 anos de banda, mais ou menos. Já me sentia preparado para fazer alguma coisas e então senti que seria um bocadinho difícil continuar como baterista. Dizer que não deixei a banda, apenas deixei de ser baterista. Porque quem dava suporte ao Rui Last Man e até agora, muitas vezes continua sendo a Banda TDC.
Em 2011 começa a sua jornada a solo. De lá pra cá, que Rui Last Man temos?
De 2011 para cá, houve de facto um artista que foi se formando em mim, um Rui Last Man que buscava muito mais por conhecimento, muito mais por saber fazer as coisas em perfeitas condições. Evolui bastante no quesito Rap, reggae e ragga. Houve muitos convites para participar em eventos e o engraçado é que eu tenho participações discográficas na ordem de 6 a 7 álbuns de vários amigos, vários irmãos, vários grupos. Citando aqui Alaridos que já lançaram, Discípulos que estão por lançar, Evangelista, Dodó Miranda, Beth Mambo, Gonçalves Diogo. Também fiz 3 ou 4 apresentações individuais, dediquei-me um bocadinho mais para a produção a tentar levantar o movimento Rap, onde realizamos festivais, lançamos o projecto Rimas Evangélicas – que foi o primeiro projecto que congregou rappers gospel ao nível de Luanda e que de certa forma provocou uma outra dinâmica no movimento. Estava mais dividido entre produtor e artista.
A sua carreira sofreu influência de outros artistas?
Sim. A minha formação artística é muito voltada a música. No Exército da Salvação, a música é um elemento muito importante para os cultos e para a evangelização em si. Essa foi uma das primeiras influências. Os meus irmãos, foram a segunda influência. O Michel é um director artístico muito bom e para a época, tinha visões muito avançadas isso influenciou as músicas que podia fazer ou ouvir. Também os SSP por causa da época da adolescência. The Fuges foram outra grande influência, o Dodó (Miranda) por causa do Bruno. Comecei a ouvir o Dodó por causa do Bruno, foi uma influência por causa da versão Jazz. Wyclef Jean. Depois mais para o gospel, as músicas congolesas foram das primeiras músicas com as quais tive contacto. Deni Ngonde, José Nzita depois veio irmã Sofia, depois outros como… esqueço-me o nome, mas é um músico angolano que teve muito sucesso na época. Essas foram as principais influências para poder definir essa trajectória. Também os amigos. Tive muitos amigos que faziam Rap na altura, então fomos trocando experiências e isso ajudou bastante a amadurecer o lado rapper com o qual mais me identifico.
Qual foi a reacção da comunidade quando saiu e depois começou a se envolver com estes estilos rotulados como mundanos?
Eu costumo dizer que tive a graça… Não tive muitos problemas dentro da minha igreja de ser contrariado ou ser mal visto por fazer Rap. Porquê? Apesar de ter convivido com muitos rappers seculares e ter aprendido muito com eles, eu queria muito trazer aquilo para o cristianismo porque eu me identificava com aquele estilo. Comecei fazendo na igreja, talvez por causa da minha maneira de ser, interajo muito com as pessoas, gosto de brincar, aquilo foi tipo uma água que foi aquecendo paulatinamente. Eu não apareci logo quente. Comecei frio e ficando morno com eles até me tornar quente ou seja, todos eles acompanharam esse processo do Rui fazer Rap até ganhar o protagonismo que tenho hoje.
Quando tínhamos actividades dentro da igreja já fazia uns versos brincando, meio engraçados , as pessoas já gostavam, já riam. Quando fomos passando para actividades mais sérias e eu fui fazendo Rap dentro da igreja, para eles foi uma espécie de… novidades, mas também normal. Já sabemos como esse rapaz é. O processo foi mais ou menos assim. Não tive muito choque, muita resistência por parte do pessoal em aceitar o meu estilo e género musical.
Depois surge o Rui empreendedor. O que lhe motivou?
Está tudo implicitamente ligado. Nós começamos a fazer actividades na igreja, saímos da igreja como banda, fomos para fora fazendo as actividades e era tudo hobbie. Só que esse hobbie queimava tempo. Roubava tempo de estudo, de trabalho de casa, de convívio com os amigos. Senti que, antes mesmo já havia produzido, porque fui também dirigente de júniores na igreja, na escolinha e produzi dois concertos com crianças. O último concerto, exactamente foi em 2011, que eu considero que foi o primeiro concerto produzido pela Sandjuka, deu-me essa motivação de estruturar melhor esse lado de produtor ou de empreendedor. Fui buscar conhecimento neste sentido e com a ajuda dos irmãos e amigos que já gostavam do que fazíamos, fomos lançando isso mais para o contexto empreendedor. Porque consumia de nós tempo, finanças, então era mais do que justo pegar naquilo que gostamos de fazer e que está de facto a consumir e empreender nesta área.
Quando é que lança a Sandjuka? Acho que é o seu primeiro projecto!
Exacto. Em 2011 nós fizemos o concerto dos Jovens Soldados do Corpo de São Paulo – Igreja Exército da Salvação, mas na verdade, em 2009 a Banda TDC é convidada a participar na bienal, hoje trienal. A Banda TDC é convidada a participar na bienal de Luanda e o engenheiro de som, Rodrigues, admirou a performance da banda que era gospel num evento em que não existia nenhuma banda gospel, nenhum grupo gospel a fazer parte da bienal e apresenta-se com temas como Sepela, Afro, temas assim bem afros e com uma grande qualidade. Dali surge os primeiros contactos para amadurecer essa ideia. Quando decidimos fazer o concerto em 2011 e eu vi a qualidade técnica que já apresentava, musica, iluminação, ele trabalhou comigo neste concerto. Quando ele viu a estrutura organizacional que levamos para este concerto, convidou-nos a sentar e sugeriu: olha, que tal criarmos um projecto, uma produtora de música gospel, fazer eventos gospel. Eu vi a vossa apresentação em 2009, vi agora o trabalho que vocês fizeram é excelente.
Então, Sandjuka surge exactamente de um tema da da Banda TDC que é o Sepela, que é Sanjuka em Umbundu. Dessa conversa ele sugeriu o nome ser Sandjuka e fizemos. Fizemos o concerto já com a chancela Sandjuka Produções e dali fomos fazendo várias actividades.
De lá pra cá, o que a Sandjuka ofereceu ao mercado?
A Sandjuka, primeira coisa – e hoje eu falo isso como empresário porque quando se entra no ramo empresarial temos que saber no2s afirmar. Temos que dizer as coisas como elas são, sem ter medo de que não está a concorrer, está a se achar, não. No mercado tens que saber te posicionar. A Sandjuka não é a primeira produtora gospel, porque quando a Sandjuka veio encontra já a Chancel Vi, encontra parcialmente a Tamar. A Tamar, acho que foi em 2010 ou 2008, começou fora, mas a Sandjuka encontra já a Tamar. Mas foi uma força motriz para alavancar outras produtoras, para que outras produtoras trabalhassem.
Quando a Sandjuka começa a trabalhar, reunimos vários artistas e fomos fazendo rondas em várias igrejas. Mudamos o conceito de sonorização e iluminação em eventos. Porque íamos e levávamos luz e som. Com uma qualidade que as igrejas ou as actividades gospel gostariam tê-la mas achavam que aquilo era muito caro. E nós levávamos aquilo, praticamente free. Então isso foi mudando, foi despertando o interesse de muitos pastores – já estávamos a ter muitos pastores jovens – em querer ter aquela estrutura. E muitos deles foram trabalhando com o Rodrigues nos seus eventos. Então isso mudou. Mudou ainda mais quando a Tamar puxou ou contratou os mesmo elementos. O Michel , Rodrigues, Dodó, quase todos passaram a integrar a Tamar. Deu outra dinâmica naquilo que é produção de eventos. Esse considero como sendo o primeiro grande contributo da Sandjuka.
O segundo grande contributo foi a regularidade nos eventos. Penso que isso foi mais 2015/2016, porque depois a Sandjuka parou. Em 2016 nos viemos no Link Space com a realização de eventos regulares. Fizemos durante 7 meses eventos sem parar. Começamos com o teatro, foi a primeira vez que uma produtora decide fazer teatro. Começamos a fazer temporadas a solo com artistas, na mesma qualidade de som e iluminação. Isso despertou de facto muita gente, este eu considero como o grande contributo da Sandjuka. E depois é a adopção de padrões para a produção e a inovação ou seja, inserimos os conceitos de festivais. Começamos com os festivais de Hip Hop, uma coisa que não fazia-se muito. Fizemos coreografia, já existia vários festivais de coreografia, mas tentamos reunir grupos diferentes e isso criou outra dinâmica.
Demos oportunidade a artistas que não tinham nomes. Isso também foi um grande contributo e uma grande inovação que a Sandjuka fez. Então, de lá pra cá foi mais ou menos isso. 2017 paramos um bocadinho em termos de produção de eventos, fomos para discografia. Entramos para a área de edição juntamente com a Valam (que é a produtora do Dodó Miranda) fizemos lançamos do “Conexão”, o disco do Dodó Miranda. Lançamos o disco da Banda TDC com Bruno Ngombo. Editamos Disco para Congo de Shoazi. Editamos o mais velho Fifi, o mais velho Jacinto. Em termos de edição foi mais ou menos isso que fizemos. Lançamos workshops. Fizemos a produção do workshop com Simoni Mansini. Fomos dando suporte a outras produtoras, a outros artistas. Fizemos lançamento de videoclipes, fizemos alguns eventos internos mais pequenos.
Nesse momento o foco da Sandjuka está virado para que direcção?
Neste momento fizemos uma requalificação, vamos assim dizer, no projecto porque a estrutura inicial da Sandjuka não é a mesma. Muito dos elementos emigraram e tudo mais, então a Sandjuka adoptada uma estrutura mais robusta que é a Naquenis.08 – que é uma empresa de gestão de projectos culturais, também criada por nós. Foi criada por mais de uma pessoa propriamente o Wilmar, Rui Last Man e agora estamos com o Milton Gonçalves. Essa estrutura de gestão de projectos que já não é só voltada para o segmento gospel, é voltada para projectos culturais, pegou a gestão da Sandjuka, tal como pegou a gestão de outros projectos. Isso virou as baterias da Sandjuka. Novamente actuamos em shows regulares, estamos agora com o Centro Cultural Zango das Artes para fazer temporadas de shows. Vamos provavelmente fazer, vamos anunciar na devida altura, no Kilamba. Mas o nosso foco está para formações voltadas a gestão de projectos culturais, organização de shows.
Essa parceria com a Valam do Dodó Miranda, vamos nos focar para a capacitação de artistas, capacitação de produtores de eventos gospel para que as próximas produções tenhamos eventos de qualidade internacional.
Têm um cast de artistas?
Não temos um cast de artistas. Nós lançamos um projecto nesta parceria com a Valam, tentamos ver alguns artistas que foram produzidos e posteriormente editados na possibilidade de gerar oportunidades para outros. Um bocadinho sobre isso, se calhar numa entrevista que o portal poderia depois marcar com o Dodó Miranda para falar mais sobre isso porque temos responsabilidades dívidas nesta parceria. Mas dizer que houve artistas que gravaram na Valam e editaram os seus discos e estão a vender muito bem. Caso concreto a irmã Cubana – gravou e editou na Valam. Houve artistas que começaram a gravar aqui, caso concreto a Cutana. Houve também uns que começaram mas não terminaram.
Como era um projecto embrionário, fomos ultimamente analisando como é que a coisas estão a acontecer, fomos identificando algumas falhas, então está a ser dado com calma. Mas dizer que tanto a Valam que é a gravadora, tanto a Sandjuka que é a produtora, porque o processo é dividido. Grava-se depois passa-se para edição e lançamento, estão abertas para projectos que de facto sejam interessantes, que tenham, vamos assim dizer, projecções. Que sabe-se que consegue-se trabalhar e pôr no mercado, as pessoas vão de facto consumir. Desde que o artista também tenha uma preparação.
Da vasta experiência que tem do mercado, o mercado gospel é atractivo?
Como produtor tive a oportunidade de produzir eventos gospel e não gospel. Tive a oportunidade de trabalhar com artistas de renome nacionais e posso citar Yola Semedo, Matias Damásio, Edmasia. Desenhei e produzi concertos para esses artistas, pés embora, concertos intimistas mas deram-me experiência. E tive também a oportunidade de trabalhar com concertos gospel como do Dodó Miranda, Banda TDC, Gonçalves Diogo e outros que produzimos. Durante esse processo compreendi que o mercado é feito. E o gospel esta-se a fazer mercado e vai encontrar muitas barreiras porque o mercado tem regras de funcionamento e o gospel como tal, tem a componente evangélica que não se coaduna com o comércio.
Então, até se transformar num mercado como tal, vamos ter que lidar com esses componentes porque nem os próprios artistas estão preparados para isso. Pensam que estão a colocar um álbum evangélico, quando na verdade é comercial. Então tem esse conflito que vai ser tratado com o tempo. Mas é necessário que se faça, é necessário que trabalhemos. Eu costumo a dar o exemplo da parábola dos talentos. Quando te dão um talento é necessário que trabalhes. Este mercado deve ser feito. Este espaço, esta abertura, este futuro, deve ser feito. Hoje, nós temos outras produtoras não gospel, outras editoras, gravadoras que estão a pegar artistas gospel para trabalhar porque, para eles, numa vertente comercial mais aberta, mais agressiva, sabem que isto está a crescer, isso vai crescer. No meu ponto de vista nós temos muito trabalho pela frente, mas não devemos olhar como mercado que dá, má devemos olhar como um mercado que nós temos que dar.
Acha que é uma ameaça a “intromissão’ destas produtoras no meio evangélico?
Não é uma ameaça. Antes porém, isso funciona como um impulso. Se você não fizer, alguém fará. Essa é a grande questão. Está lá, as pessoas têm necessidade de consumir, é um estilo, é um género musical que é consumido a nível mundial e aqui também está a ser consumido. Se nós não nos organizarmos e fizermos bem, alguém fará. Engana-se o cristão, a produtora gospel que pensa que produzir eventos gospel ou música gospel é uma propriedade dos cristãos. Engana-se.
Mas quando falamos em produtoras gospel, será que temos muitas produtoras ou temos mais nomes e no fim as estruturas são de outras organizações seculares?
Temos que chamar produtoras por uma questão de respeito. Por uma questão de profissionalismo, vamos assim dizer. Porque senão, se fomos olhar nos requisitos para ser considerada produtora, vamos ver que nem todas têm. Mas quando falo produtoras me refiro particularmente daquelas que conheço e vejo que trabalham ou pelo menos tentam trabalhar neste padrão. Senão, o que temos tido aí são muitas organizações, algumas até são igrejas, não são produtoras, são igrejas que realizam, que promovem alguma actividade do género. Outros também, até a bem pouco tempo, eram organizações apoiadas por entidades individuais ou partidárias ou coisas assim parecida.
Se tivesse que estabelecer uma linha limite entre o que deve ser comercializado e o que não deve ser comercializado no mercado gospel, onde colocaria os marcos?
Eu diria que tudo que não deve ser comercializado deve ser feito por uma entidade religiosa. No caso uma igreja, uma associação sem fins lucrativos. Tudo nesta vertente, desde shows, discos, porque estás organizações não têm fins comerciais. Se uma organização não tem um fim comercial, tudo que ela fizer não pode ser comercializado. Se uma organização tem fim comercial, então tudo que ela fizer será comercializado. Se eu especificar: não deve gravar, não deve cobrar no show, não deve cobrar na igreja, aí teria que entrar no estatuto da organização, verificar… por isso é que eu disse, se nós já estamos chamar de mercado, o mercado por si só se regula e o mercado é regulado. O que não é comercializável não entra no mercado. Se entrou no mercado vai ter que sofrer as influências do funcionamento do mercado.
Porém, digo sempre, se o que estamos a fazer, pés embora as nossas organizações sejam comerciais, porque uma produtora, falando propriamente do nosso caso, nós temos que pagar impostos, para pagar impostos temos que produzir, ao produzirmos temos que vender. Então, apesar disso, na nossa constituição temos valores. Temos questões que prezamos que é ética, valores. Nós não cobramos. Por exemplo, Last Man enquanto artista nunca cobra para cantar na igreja. Porque uma igreja não é uma organização comercial. Eu comecei cantando na minha igreja e nunca cobrei para cantar na minha igreja, então não vou cobrar para cantar na igreja do outro? Isso são acções que Last Man enquanto artista adoptou. E a todo artista que trabalha com a Sandjuka, nós passamos mesma informação. Seu uma igreja nos convida para cantar num culto não cobramos. Porque um culto não tem um fim comercial.
Agora, se sou convidado para um show, para uma actividade que é comercial e achar que vou ter um custo, eu repasso esse custo para que está a convidar.
Se tivesse que eleger alguns temas que precisam ser discutidos, precisam ser esclarecidos no meio gospel, quais seriam?
Temas que precisam ser esclarecidos…
Além deste o que é comercial e o que não é, quais são os outros temas que estão presentes, mas as pessoas não os assumem ou ainda fazem muita confusão em volta dos mesmos?
Organização de eventos; levita e artista. É preciso separar quem é levita e quem é artista. Penso que as pessoas não sabem diferenciar. A artista que não sabe se é levita ou artista. Organização de eventos é diferente de muita coisa que a gente tem visto acontecer por aí. Gestão, quando falo de organização falo de gestão. Técnica e espiritualidade. É necessário discutirmos e separarmos isso. Cultura de música gospel. Na verdade são temas que estamos aqui a falar e que também estão em carteira, a gente vai criar debates a respeito. Temos uma expo a ser desenhada para daqui a bocadinho. São vários, mas esses são os que acho que devemos discuti-los porque a velocidade com que as coisas estão acontecer, é maior do que a velocidade de debater e pensar sobre estes temas.
Se uma produtora gospel se propõe a vender discos, a fazer concertos – para tal vendendo ingressos, ela também deve se submeter a leis, regras que defendem e protegem o interesse do consumidor. Tenho notado em alguns eventos em que vou, que há pessoas que pagam mas depois não assistem o concerto porque começa 3 ou 4 horas depois. Na Sandjuka têm reflectido no valor daquelas pessoas que frequentam as vossas actividades, que compram os vosso produtos?
Quando nós desenhamos algum projecto, nunca pensamos em nós. Os nosso projectos são desenhados pensando no público. O que nós fazemos não é para nós. É para o público. Pensamos, vamos desenhar isso para jovens e fizemos aquilo para jovens de maneira que os jovens possam se sentir felizes em lá estar e que possam voltar. Até agora, em todos os projectos que temos feito, claro, a luta é superar cada vez mais os erros e as falhas, nunca tivemos um problema do género, de alguém chegar e não poder participar e no gostar, sentir que pagou por uma coisa que não valia a pena.
Como eu disse, a experiência enquanto produtor não bastou para estruturarmos um projecto empresarial de produção de eventos gospel. Uma coisa que faço sempre questão de separar, é que o facto de colocarmos o nome gospel a frente, não quer dizer que não tenho de seguir o padrão de funcionamento de uma produtora. Porque, primeiro aquilo é uma produtora. Então, tenho de saber o que é uma produtora, como uma produtora funciona. Eu devo seguir aquelas regras. A única diferença é que o segmento com quem estou a trabalhar é evangélico. Mas as regras, a assiduidade, o respeito, a pontualidade, a credibilidade, a questão técnica, a segurança, todos esses pormenores temos que seguir. O facto de produzir um evento gospel não quer dizer que tenho de anunciar as 17 e começar as 20. Só porque é gospel vão entender, fica tudo na paz do Senhor. Não. Tenho de começar na hora que eu anunciar. Se eu colocar um artista de cartaz devo fazer todo possível para que este artista esteja e não depois pedir desculpa, Deus vai abençoar porque tudo coopera para o bem dos que amam a Deus. Não. Eu tenho que cumprir com a minha programação independentemente de ser gospel. Até agora temos feito os possíveis, claro que também tivemos falhas, mas a luta é superar.
Leia a segunda parte da entrevista: “O ARTISTA NÃO PODE SER CONSUMIDOR, O ARTISTA DEVE SER CRIADOR”
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