O domingo estava reservado para o descanso. A meio da tarde o telefone tocou, era um amigo, com quem tenho tido pouco de interacção nos últimos dias. Perguntou a minha agenda para aquela tarde. Respondi-lhe que estaria em casa a descansar.
Falou-me de um “grande” concerto gospel que estava para acontecer naquela tarde, numa das maiores salas de evento de Luanda.
Disse-lhe que não sabia. Gozou comigo, “ofereceu-me” alguns adjectivos. Questionou o facto de ser jornalista e “não saber nada” sobre o evento, que ele julgou ser grande.
Perguntou-me se estava disponível para ir, ao que respondi, não. Após alguma insistência e depois de me “vender bem o peixe” aceitei.
Fomos ao lugar. Eu estava ansioso. Quando chegamos, desconfiei do fraco movimento na parte de fora, evitei fazer comentários. Entramos, a sala estava composta e muito bem composta.
Justamente no momento da nossa entrada estava a começar o concerto. Cantores e cantoras foram “tomando de assalto” o palco. Lembro-me de um que tão logo entrou, falou algumas palavras, quase levou a plateia ao êxtase. Começou a cantar e as pessoas retomaram os seus assentos e ficaram em silêncio, como se estivessem num velório.
A dada altura, o meu amigo me disse que o concerto não estava a corresponder ao nível da sua ansiedade e que “as pessoas eram estranhas”.
Ofereci-lhe um sorriso com ironia, pois ele “me tinha vendido peixe estragado”.
Pelo número de intervenientes, mais se assemelhava a um festival, com músicos pouco maduros para se atreverem a “vender” os seus serviços. Mas foi anunciado como concerto.
Em Angola precisamos rever muitos conceitos.
Quase ao meio da actividade, disse ao meu amigo, que era daquele tipo de actividade que começa num dia e termina no outro. Com algum exagero, reconheço.
Melhor seria se fizessem uma actividade na sua congregação, poupariam recursos, e não só. Até porque, pelo que vi, maior parte dos presentes eram da mesma denominação.
Perguntei ao meu amigo, de seu juízo, qual era o objectivo de saírem da congregação para fazer o evento naquele espaço. Disse-me que o mais provável era ganhar dinheiro.
Como é que vão ganhar dinheiro se não oferecerem um serviço de qualidade, questionei e acrescentei que esse é o problema do mercado evangélico, ao que ele rapidamente me corrigiu: “do mercado. Tire o Evangelho dos teus negócios.”
Decepcionados ficamos. Depois de quase 5 horas no local, pensei naqueles que eventualmente tinham chegado muito antes de nós.
Queríamos ter uma tarde agradável, assistindo um belo concerto. Nos enganamos, mais uma vez. Com todo respeito que temos e devemos, para com aqueles irmãos, não é o que queríamos ver. Aliás, pagamos e temos o direito de reclamar.
Quando uma organização publicita e vende ingressos, deve também deve oferecer algo que agrade o consumidor.
Infelizmente estamos numa era em que as pessoas querem vender os seus produtos e serviços, mas não pensam na satisfação do cliente.
Com o velho chavão de que é para Deus, acabam de alguma forma, forçando os consumidores se calarem.