O profissional da música é alguém que tem a música como sua principal profissão. Já o amador trabalha com a música por hobby ou algum outro motivo secundário. Por muitos anos acreditei que os músicos que eu ouvia nos discos eram profissionais da música 24 horas do dia; não faziam outra coisa; por isso eram tão bons. Com o passar dos anos conheci a história de muitos deles e me surpreendi ao saber que a música era apenas uma das atividades de suas vidas. Paralelamente esses músicos eram fazendeiros, escritores, professores, pastores, corretores de imóveis, exportadores, estudantes, etc. Apenas alguns exerciam a profissão de músico em tempo integral. Mas por que são tão profissionais mesmo sendo amadores? Simples: eles são amadores com atitude de profissional. Dessa conclusão deduzi que existem ao menos cinco tipos de músicos circulando no universo profissional e amador: profissional com atitude de profissional; profissional que pensa que é amador; amador que pensa que é profissional; profissional com atitude de amador; amador com atitude de profissional.
O profissional com atitude de profissional penso que não preciso falar muito a respeito. O óbvio ululante é que ele seja um exemplo de profissionalismo, humildade e seriedade. Nota 10.
O profissional que pensa que é amador pratica exaustivamente, se prepara, mas nunca coloca nada para fora, não se mostra, não se apresenta, não cobra pelo que faz, não desfruta do seu esforço, porque se considera amador, indigno de ser chamado profissional. O profissional que pensa que é amador é cidadão sem expressão. Peca contra si mesmo. É símbolo de humildade, mas deixa de realizar muitas coisas interessantes e nem faz discípulos. Nota 5.
Na outra ponta está o amador que pensa que é profissional. Ele engana os amigos, a esposa, os filhos, e o pior, a si mesmo – por algum tempo, mas não por todo o tempo. Pensa que é leão, quando, na verdade é gatinho. Considera-se professor, porém nem sabe se portar como aluno. Quando alguém vai cantar de improviso, ele “acredita” que pode acompanhar. “Imagina” que sabe tocar todas as músicas “de ouvido”, por isso despreza cifras e partituras, e esnoba os companheiros. Se alguém o desmascara está comprada uma briga. Amador que pensa que é profissional é crítico impiedoso; não perdoa ninguém. Todo mundo é ruim, ninguém é afinado, ninguém toca bem; só o que ele toca é bom. Nota 1 (pra não dar zero).
Já o profissional com atitude de amador está sempre imitando alguém, treina quando sobra um tempinho, pensa que já sabe tudo, não ensaia o suficiente, pois a música é muito simples, mas quer receber, afinal todo profissional recebe. Nota 7. Esse tem futuro.
Já o amador com atitude de profissional – que na prática é um profissional – tem estilo e personalidade, treina exaustivamente o seu instrumento, nunca para de aprender, treina uma música simples buscando chegar à perfeição, espera a sua vez, se acha digno de um cachê porque se dedicou – o que é justificável. O amador com atitude profissional busca se aproximar da perfeição, trabalha no limite da capacidade pessoal, compreende os limites dos companheiros e tenta ajudá-los ao invés de criticá-los, além de respeitar todos os estilos. Nota 10.
Especificamente na Casa de Deus, ser profissional é fazer o melhor, com humildade, até porque o principal ouvinte é Deus que resiste aos soberbos e dá sabedoria ao que é simples e humilde de espírito; o amador, aquele que não tem obrigação de ser profissional. O músico cristão pode até se considerar um amador, mas deve ter atitude de profissional. Por fim não interessa se o músico vive ou não da música para ser chamado de profissional. Ser profissional é um estado de alma e de espírito; tudo está dentro da pessoa. O rei Salomão, músico e compositor “amador, mas com atitude de profissional”, sabia mesmo das coisas: “Porque como ‘imagina’ em sua alma, assim ele é” (Provérbios 23:7).
Atilano Muradas | Comunhão