Estive recentemente na Missão do Chilume, no Bailundo, e tirei fotos do local que suscitaram um debate acalorado depois de as ter publicado na minha página no Facebook. Muitos lamentaram o estado em que a Missão se encontrava.
O Chilume foi a primeira Missão feita pelos missionários canadianos, ingleses e americanos, em 1881; foi daí que surgiu a Igreja Congregacional ou (IECA), cuja história está muito ligada ao surgimento de uma parte da elite do Planalto Central.
Ekuikui II, o então Rei do Bailundo, foi muito inteligente em aliar-se a esses missionários (ou pelo menos não hostilizar os missionários que falavam Inglês), não obstante a imensa pressão de comerciantes portugueses locais, que na altura defendiam, também, a causa colonial. Ekuikui II gostou da proposta dos missionários – que lhe garantiram que, além do Evangelho, iriam capacitar o povo do seu Reino com várias outras habilidades.
A história presente do Chilume é que tudo está a desfazer-se; até o tecto da primeira igreja da IECA deixa passar água. As telhas das casas dos missionários – construídas no estilo de casas da América e Inglaterra do século XIX, partiram. Mesmo a famosa escola do Chilume, com o seu auditório e salas, está completamente gasta.
A Missão do Chilume parece aquelas cidades que são descobertas por antropólogos no meio da Amazónia, que restam de civilizações da antiguidade. Certamente que há aqui uma grande falha que tem que ser rectificada. Entre os comentários na minha página, houve uns que sugeriram que a gestão da Missão deveria ser entregue ao empresário Segunda Amões.
Eu não diria exactamente a gestão da Missão – eu sugeria que os líderes da IECA estudem minuciosamente o fenómeno aldeia Camela Amões; também faria muito sentido se fossem criar sinergias com a empresa do Segunda Amões, o Grupo ASAS. Houve comentários que seguiram as fotos a insistir que a IECA não devia só construir igrejas de qualidade em Luanda – que o interior devia, também, ser uma prioridade. O problema é que os fiéis da IECA passaram a viver nos centros urbanos por causa da guerra.
Tenho viajado pelas aldeias por cá; uma boa parte dos confrontos aconteceram nas áreas rurais: famílias inteiras foram separadas. Só agora é que está a haver um reencontro; a Igreja vai ter um grande papel neste processo. Aqui, na aldeia Camela Amões, onde estou, há duas igrejas que estão a ser construídas – uma Católica e outra da IECA. A Católica está quase concluída e já há pessoas que saem do Huambo só para ver o edifício.
Outro dia eu vi a modelo Alexa Tomás a lacrimejar quando esteve cá, ao notar o esforço que o empresário Segunda Amões tinha feito na construção de uma belíssima estrutura. A igreja da IECA, quando ficar concluída, poderá ser uma das maiores e mais lindas do país. O Segunda Amões construiu, aqui no interior, algo que atrai – e as pessoas já estão a vir.
Por que razão é que algo semelhante não pode ser feito pela IECA em outras localidades? Um dos argumentos que tenho ouvido, para justificar o que parece ser uma certa inércia na IECA, é falta de fundos. Não será que a IECA, como várias outras instituições em Angola, se habituou sempre a receber fundos do estrangeiro, sobretudo os Estados Unidos da América? O empresário Segunda Amões disse-me uma vez que muitos projectos passam a custar caríssimo por causa da participação estrangeira, que muitas das vezes inflaciona os custos. Camela Amões está a ser construída por 99 por cento de mão de obra local.
A Missão do Chilume foi originalmente construída por mão de obra local; há lá edifícios, bem intactos, que foram erguidos usando adobes, que continuam bem sólidos. A aldeia Camela Amões está a ser construída com adobes que são construídas por cá mesmo. Neste sentido, a filosofia dos missionários, que tanto marcaram a nossa região, é mais próxima à filosofia de Segunda Amões – capacitar a mão de obra local para melhorar a vida dos cidadãos em vários aspectos. O efeito positivo que os missionários tiveram nas nossas aldeias, graças à sagacidade de Ekuikui II, sente-se até hoje.
Os missionários acreditavam que a sua missão não era apenas espalhar o Evangelho; eles tinham que fazer com que os crentes não só passassem a ser alfabetizados, mas que adoptassem um estilo de vida saudável; e isto não significava abandonar a essência da sua identidade ou cultura – como a língua. Já assisti a vários cultos da IECA em várias aldeias por cá.
Os edifícios são antigos, mas há várias manifestações nas cerimónias para atrair jovens. Os edifícios podem ser antigos, mas há instrumentos musicais eléctricos – com energia fornecida por um gerador que tem que estar bem longe do edifício por causa do barulho.
É um prazer ver as igrejas da IECA (bem antigas) nas aldeias de Miyapia, Utanha, Manico e Cavava. O que é preciso é ter um programa, para uma espécie de peregrinações religiosas para estas localidades. A Igreja pode, sim, ajudar a tornar o interior cada vez mais atraente. Se tudo for bem planeado, como na Aldeia Camela Amões, não haverá, certamente, necessidade de fundos terem que vir dos Estados Unidos ou do Vaticano.
Por Sousa Jamba, em JA