O individualismo, a busca extrema da satisfação pessoal imediata, a valorização do descartável, fazem com que as pessoas transitem de igreja em igreja, afirmou MAGALI DO NASCIMENTO CUNHA, Jornalista, doutora em Ciências de Comunicação e mestre em Memória Social e Documento, numa entrevista que concedeu aRevista Cristianismo Hoje.
Vários sociólogos da religião têm estudado este fenômeno e o denominado “trânsito religioso”. Eles indicam que é fruto deste fluxo de modernidade que experimentamos na contemporaneidade.
Segundo MAGALI, ocorre hoje uma exacerbação desse individualismo porque a cultura do mercado que predomina entre os povos, bebe dessa fonte, o que se reflete na religiosidade evangélica. Por isso, explicou, as canções nunca trouxerem tanto o predomínio do “eu”, do gozo espiritual intimista; ao mesmo tempo, muito pouco ou quase nada se fala do valor do outro, do serviço, da partilha e da mutualidade.
“Vivemos hoje uma forte crise de ética cristã quando privilegiamos um modo de ser baseado no “eu” e na experiência. Isso é totalmente incompatível com o Evangelho. E a coisa se agrava quando aprendemos que ser cristão é consumir bens e serviços religiosos e divertir-se não como mera assimilação da cultura do mercado, mas como expressão religiosa. Quer dizer, a cultura gospel permitiu aos evangélicos a inserção de elementos profanos na forma de viver sua fé e de relacionar-se com o sagrado.”
Magali do Nascimento Cunha é docente em diversos cursos da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo e atua ainda como palestrante e conferencista.
No seu livro, A explosão gospel – Um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil (Mauad Editora), Magali constrói uma tese segundo a qual esse movimento chamado gospel fundamenta-se não apenas na lógica do mercado, mas também numa série de novos comportamentos e maneiras de enxergar e praticar o Evangelho.
“Vivemos o surgimento de uma cultura religiosa nova”, afirma a professora. Segundo ela, a explosão gospel criou tantas demandas que afetou até mesmo a teologia cristã deste século 21. Entender este multifacetado universo de fé e todos os seus desdobramentos talvez seja tarefa para gerações.
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