As denominações religiosas devem continuar a trabalhar para a formatação de novas consciências, que possam levar os cristãos a se sentirem parte integrante do país e cumprirem com as suas obrigações de cidadãos.
O apelo foi feito em Luanda, pelo líder espiritual da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo (Tocoísta), Bispo Afonso Nunes, para quem as denominações religiosas precisam inculcar nos seus fieis, em Angola, o sentimento de cidadania.
No seu entender, a Igreja tudo deve fazer para esclarecer os fiéis que, embora sejam “cidadãos dos céus”, têm também obrigações e direitos enquanto cidadãos de um pais.
Procedendo em sentido contrário, afirmou o Bispo tocoísta, a Igreja “não estará a cumprir com a sua missão”.
Para o líder religioso, que orientava uma palestra sobre “O papel da Igreja na construção das duas cidadanias, após 40 anos de independência”, o contexto actual do país é difícil e a solução dos problemas demora a chegar, daí a necessidade dos fiéis contribuírem, enquanto cidadãos.
No seu entender, é injusto que algumas denominações religiosas imponham aos seus crentes doutrinas restritivas que impedem o exercício desses direitos de cidadania, utilizando a Bíblia para classifica-los como “cidadãos dos céus”, dissociados das necessidades do mundo.
“Nós utilizando a mesma Bíblia e queremos contrariar esta prática, pois o próprio Cristo pagou o seu imposto, porque era cidadão judeu. Nós também, como angolanos, não podemos abandonar a nossa cidadania, porque antes de sermos cristãos, somos cidadãos deste país”, opinou.
O Bispo entende que a Igreja tem de buscar uma nova filosofia de como vai conduzir o povo, neste contexto turbulento, para que a independência nacional, conquistada com sacrifício, não venha a ser posta em causa, devido a doutrinas contrárias ao exercício da cidadania.
A palestra inseriu-se no calendário da Igreja alusivo às celebrações do 40º aniversário da proclamação da Independência Nacional, assinalados a 11 de Novembro.
A Igreja Tocoísta celebra esta data com duplo sentido, porquanto foi a 11 de Novembro de 1950 que viu o seu dirigente, o profeta Simão Gonçalves Toco, ser deportado do colonato do Vale do Loje, município do Bembe-Uije, para o colonato de Caconda, província da Huíla.
Em Caconda, o relembrador da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo desempenhou parte do seu combate espiritual contra as autoridades coloniais.
Isto custou-lhe várias cadeias e deportações, incluindo um desterro no arquipélago dos Açores, em Portugal, de onde regressou em 1974, após 11 anos de “isolamento”.
Simão Toco e os seus fiéis foram deportados para várias localidades de Angola e do exterior, como no Colonato Vale do Loge, Luanda, Benguela, Cabinda, Moçamedes, Sá Bandeira, Cela Jau, Caconda, Chibia, Porto Alexandre, Baia dos Tigres e também para S. Tomé e Príncipe.
Ao longo da palestra, foram abordados os subtemas “O papel da Igreja na construção das duas cidadanias 40 anos depois da independência”, “O papel da igreja na formação de uma consciência nova no exercício da cidadania” e “A participação da juventude cristã no exercício de uma cidadania responsável e democrática”.
A palestra visou abrir em primeira mão um espaço em que os homens e mulheres jovens e estudantes possam interagir, trocando opiniões válidas e aprofundando conhecimentos sobre os vários processos de libertação dos povos, a razão da existência e persistência do domínio do homem contra o homem.
Buscou desmistificar as mentes encharcadas de mensagens e teorias que têm sido colocadas nos corações dos homens, assim como estender o conhecimento dos participantes sobre a missão da Igreja na terra e no meio dos seres humanos.
Trazer ao conhecimento da nova geração os caminhos que a Igreja percorreu, os sacrifícios consentidos para que o caminho fosse aberto para a tomada de consciência não só como cidadãos dos céus, mas sobretudo cidadãos de uma Pátria terrestre, criada por Deus, para os povos de cada território, foi outro objectivo da palestra.
A Igreja Tocoísta foi fundada a 25 de Julho de 1949, pelo profeta angolano Simão Gonçalves Toco.
Ainda no regime colónial, em 1974, foi reconhecida pelas autoridades portuguesas. Na vigência da República de Angola, foi formalmente reconhecida em 1992.
Fonte: Angop