Assumiu o cargo em Junho de 2012, com o propósito de redinamizar a juventude do CICA. Passados mais de dois anos, o Arautos da Fé, entrevistou o Director da juventude do CICA, Manuel Domingos, que dentre outros assuntos, falou dos projectos que a sua instituição desenvolve e do desejo de trabalhar para que os jovens tenham uma vida espiritual mais activa.
Arautos da Fé: Quando assumiu as funções, quais foram os objectivos e metas que definiu?
Manuel Domingos: Quando nos chamaram, já nos deram uma certa responsabilidade, que é de redinamizar o Departamento da Juventude. Por aqui já passaram alguns líderes juvenis. Tivemos os irmãos, Veloso, da Igreja Metodista Unida (falecido), Nguina Mao, da igreja Kimbanguista, Lopes, da IECA, Cristina, da Metodista Unida, o Pastor Adriano Kilende, da Metodista Unida que não terminou o seu mandato porque foi convidado para dirigir a juventude da Conferência de Igrejas de toda África, que esteve baseada no Quénia.
A sua saída deixou um vazio. Durante alguns anos o Departamento ficou fechado. Foi assim que em 2012, nos chamaram com o objectivo principal de redinamizar o Departamento. Este foi e continua a ser o grande objectivo.
De lá pra cá fizemos algum trabalho. Em Novembro de 2012, realizamos no CEFOCA, o encontro nacional de líderes. Trouxemos os líderes juvenis das igrejas membros do CICA, de algumas províncias que nos foi possível contactar, para reflectir sobre o trabalho deste Departamento.
No ano 2013, dentre os vários trabalhos, destacamos a 2ª Conferência geral ordinária, que para algumas igrejas é a Assembleia da juventude. Foi em Maio, na igreja dos Peregrinos – IECA, onde para além de reflectir temas como, O Resgate das Vocações, com a Pastora Adelaide Catanha, O Movimento Ecuménico em Angola, com o Reverendo Luís Nguimbi e outros, discutimos assuntos ligamos a vida interna da juventude do CICA.
Na altura levamos uma proposta para o regulamento interno, que foi aprovada as 23 horas do dia 25 de Maio de 2013, durante a conferência. Este regulamento foi homologado pela Assembleia Geral do CICA em Novembro de 2014.
Pelo facto do regulamento ter sido aprovado no dia 25 de Maio, os delegados aprovaram este, como sendo o dia da juventude do CICA.
Para além desta Conferência tivemos outra sobre alterações climáticas. Trouxemos especialistas no assunto. Pessoas ligadas ao Ministério do Ambiente e também trouxemos a Ingrid, uma jovem da Noruega e a Débora que veio do Quénia. São jovens que têm trabalhado muito em projectos ligados as alterações climáticas.
Em 2014, na província de Benguela, realizamos um estudo sobre a seca e na província do Huambo, um sobre a desflorestação. Resultados destes estudos foram apresentados numa conferência que realizamos no mês de Dezembro, dia 26, na Mediateca de Luanda. São muitas acções mas, essas são as que mais destacamos.
AF: Que avaliação faz da juventude que dirige? Na área espiritual e social.
MD: Nós elaboramos um plano de acção 2015/2016. E este plano tem como objectivo ganhar mais jovens para cristo e com isso contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais pacifica e mais desenvolvida.
Demos conta que, se calhar estamos a desenvolver mais acções sociais do que espirituais. E neste plano, queremos desenvolver mais acções espirituais como forma de levar os jovens a uma vida espiritual mais activa.
Fazer uma analise geral é muito complicado porque o CICA é composto por 19 igrejas e duas organizações baseadas na fé, que são a Associação Cristã da Mocidade e a União Cristã Feminina. Cada Igreja tem a sua realidade. Mas de uma forma geral estamos no bom caminho.
Há vozes que se levantam a dizer que a juventude está perdida, perdeu os valores morais. É bom pensarmos que a juventude corresponde ao maior número de pessoas na nossa sociedade. E é na juventude que encontramos os maiores desafios que a vida nos apresenta. É na juventude onde começamos a dar os primeiros passos para ganharmos maturidade e aí há um grande conflito. É na juventude, onde cada jovem procura dar o seu máximo para conseguir formar-se e com isto, estabilizar-se na sociedade. É na juventude onde muitos procuram ter os bens materiais e nesta luta, alguns conseguem enveredar por um comportamento salutar e outros por praticas menos boas.
Em 2015 procuraremos unir mais a juventude, reforçar o ecumenismo porque pensamos que todos juntos faremos mais coisas. Vamos criar, este ano, um espaço, denominado Café da Juventude. Que será um espaço de debate mensal. Neste espaço vamos trazer vários temas e especialistas. No primeiro café vamos trazer pessoas ligadas a comunicação social, jovens que trabalham nos diversos órgãos de comunicação social, para reflectirmos a cobertura que a imprensa angolana faz ao trabalhos espiritual e social da igreja. No segundo Café, vamos trazer líderes juvenis de igrejas membros do CICA e de igrejas não membros, para reflectirmos o que temos em comum e o que podemos fazer juntos de formas a contribuirmos para uma sociedade mais segura, mais moral.
AF: Nos últimos tempos fala-se muito da degradação de valores e alguns líderes cristãos falam da ausência de valores cristãos na sociedade. Os jovens do CICA tem alguma estratégia para reverter a situação?
MD: Primeiro, é que há alguns entendidos na Psicologia, na Sociologia principalmente, e mesmo na Teologia, que afirmam não estarem a favor desta afirmação. Se perdeu é porque antes tinha e agora já não tem. Mas o que acontece na realidade é que os adultos não transmitem valores aos jovens. Há uma quebra, não há uma transmissão de valores para a juventude. E por não haver está transmissão de valores, encontramos jovens sem os valores que muitos de nós procuramos. Há jovens com estes valores morais e cívicos, e princípios do cristianismo. E há jovens sem estes eles. O que temos de fazer, é estarmos juntos e trabalhar no sentido de propagar o Evangelho de Cristo. Porque se alguém receber Cristo na sua vida, certamente vai mudar de comportamento, vai fazer uma reviravolta na sua vida. E ao anunciarmos o Evangelho, nós estaremos, não só a trazer pessoas para Cristo, mas também a contribuir para que os princípios do cristianismo estejam cada vez mais patentes na sociedade e assim estaremos a moralizar a sociedade.
AF: O consumo excessivo de álcool também constitui preocupação para a juventude do CICA?
MD: Bem! Para as igrejas membro do CICA, o uso do álcool é proibido. Não se consome álcool. O que se fala muitas vezes é o uso excessivo, para nós não há este uso.
Eliminação desta prática, para nós é como que caminhar contra a corrente de um rio ou contra as ondas do mar. Porque se de um lado, nós apregoamos o não consumo, nós não falamos em redução, falamos da eliminação, por outro lado há alguém a dar a custo zero para os jovens. Mas ao nosso nível, à nível das igrejas, vamos continuar a fazer o nosso trabalho. Sabe que a nossa luta é espiritual, nós estamos ao serviço de Deus, fazemos o serviço para Deus e Deus luta por nós. Fazemos a nossa parte e Deus toma conta de tudo.
AF: Violência domestica é outro tema que tem aquecido os debates!
MD: Nos dois anos passados, tivemos, em parceria com um outro Departamento aqui do CICA, que é a Comissão Medica Cristã e com o Departamento da Mulher, algumas acções conjuntas de formação e palestras dirigidas aos jovens no sentido promover a paz nos lares, nas igrejas, nas escolas e na sociedade.
Constitui preocupação do CICA no geral, prova disso é que o CICA através do Departamento da Mulher, tem um Centro de aconselhamento que atende não só as vítimas, mas vai até aos lares onde haja indícios, desde que alguém dê a informação.
Através deste tipo de aconselhamento, através de palestras, também temos feito o nosso trabalho no sentido de promover a paz. E então estas actividades são prova de que a violência nos preocupa. Mas continuaremos a fazer e temos fé que Deus, através das acções que os grupos cristãos, as igrejas, os seus filhos vão fazendo, poderá trazer como tem estado a trazer, a paz nos lares.
AF: Quais são as principais actividades que os jovens do CICA pretendem realizar este ano?
MD: A nível espiritual, teremos retiros para oração e estudos bíblicos. Teremos palestras sobre diversos temas bíblicos. À nível social, campanhas de limpeza e de plantação de árvores.
Visitas a lares de infância e da terceira idade. Visitas a hospitais, com doação de sangue e de alguns bens. Também o nosso plano prevê visitas as cadeias no sentido de conversar e orar com os presos. Vamos fazer um seminário sobre segurança nas estradas e campanhas de sensibilização sobre a sinistralidade rodoviária. Algumas destas actividades serão em simultâneo com algumas províncias.
A nível político, consideramos actividades politicas aquelas que tem por objectivo influenciar decisões, que é por exemplo este espaço de debate “Café da Juventude”. Estamos a prever uma marcha de sensibilização no Huambo, tem haver com o abate árvores.
Teremos cultos de louvor e adoração. Já em Fevereiro, temos marcado para o dia 21, o Festival da Canção.
Teremos também no fim do ano um concerto evangélico, que vai envolver a música, o teatro e a dança. Provavelmente na semana em que se comemora o dia da Bíblia, teremos uma feira da Palavra viva, onde vamos fazer uma Conferencia Evangelistica. Na feira vamos convidar as livrarias evangélicas, músicos evangélicos, vamos convidar pessoas que tem obras, que tem haver com o Evangelho. Será uma feira de três dias.
Na conferência vamos falar da evangelização de forma geral e da evangelização através das redes sociais, através do teatro e da música.
Em suma, são estas as actividades que vamos realizar neste ano e em 2016.
Uma mensagem para a juventude angolana!
MD: Gostaríamos de dizer que, todos nós somos criaturas de Deus. Cada um de nós foi feito a imagem e semelhança de Deus. Não é bom, em primeiro lugar, fazer as coisas porque as outras pessoas fazem.
Em segundo lugar, a juventude deve abster-se de todas as práticas que nos levam ao mal e se apegar a Palavra de Deus, a Bíblia, que nos apresenta ensinamentos proveitosos para a nossa instrução, para nos corrigir quando estivermos a caminhar mal e ensinamentos proveitosos para a nossa própria salvação, que é o que todos nós buscamos.
Em terceiro lugar, é preciso que a juventude se dedique na formação. Costuma-se dizer que a informação é poder. Quem está informado, tem poder. Então quem tem conhecimento, também tem poder. Apelamos que a juventude aposte incondicionalmente na formação sem olhar para as dificuldades, sem olhar para os obstáculos. Aposte na busca do conhecimento.
Se tivermos conhecimentos bíblicos, se tivermos conhecimentos gerais, nós seremos pessoas poderosas e poderemos viver em qualquer lugar onde Deus nos colocar.
Perfil
Nasceu no seio de uma família cristã, na comuna de Samba Lukala, município de Samba Cajú, Província do Kwanza Norte, no dia 12 de Fevereiro de 1977.
Filho de um Pastor reformado da igreja Metodista Unida, foi baptizado com o Manuel Gomes Bartolomeu Domingos.
Em 1993, mudou-se do Dondo, onde vivia na altura, para Luanda e começou a frequentar a Igreja Metodista Episcopal Africana Sião, porque era a igreja que frequentava a família, que o acolhera e não mais mudou de igreja.
Na Igreja Metodista Episcopal Africana Sião, desempenhou dentre outras responsabilidade, a de Director Geral Adjunto para Missões (Departamento de Evangelismo) e Director da juventude da Paróquia Reverendo Pereira Inglês. (Luanda).
Em 2012, aceitou o convite de dirigir o Departamento de jovens do Conselho de Igrejas Cristãs em Angola, CICA. Cargo que exerce desde Junho deste mesmo ano. Como muitos servos de Deus, humildemente, procura contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais pacifica e mais desenvolvida.
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