A música gospel angolana “não tem essencial espiritual” e não faz sucesso porque os músicos “não cumprem com a lei”, disse em entrevista a artista António de Jesus “Ancoje”.
O poeta da idade madura, como também é chamado, abordou com o portal Arautos da Fé temas da actualidade e descartou a possibilidade de um concerto só com músicos gospel angolanos, lotar o estádio dos Coqueiros.
Arautos da Fé: Porquê que acha que os músicos gospel angolanos ainda não conseguem lotar o estádio dos Coqueiros?
Ancoje: Porque não há sucesso. Não há sucesso por um único motivo. Josué 1:8 é bem claro: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medite nela dia e noite, para que tenhas o cuidado de fazer segundo a tudo quanto nela está escrito. Então, prudentemente conduzirás o teu caminho e serás bem sucedido.”
O sucesso para a música gospel tem uma plataforma que é esta: de Josué 1:8. As pessoas esquecem-se que a Bíblia é a lei. Se a música gospel angolana não faz sucesso é porque eles (músicos) não cumprem com a lei.
Se as coisas não são feitas com base na Palavra, se não são feitas com base no nosso espírito (é daí que provém a boa intenção do nosso coração), se as coisas são feitas na alma e na carne, não tem como. A nossa carne para nada serve e a nossa alma é o campo da luta entre a alma e o espírito. Se cantas com base na carne a tua música vai pender para a carne, se cantas com base no espírito, com base na Palavra, vais ter sucesso.
AF: Mas temos visto cantores a tocarem em rádios e com uma agenda muito preenchida.
Ancoje: Não percebi o que queres dizer com isso.
AF: Que fazem sucesso ao nível de rádios, de Igrejas e não só!
Ancoje: Note bem! Josué 1:8 é claro: não há sucesso fora da Palavra. Talvez seja fama… Há músicas que não têm nada haver com a Palavra. A música da irmã Sofia, “Zungueira”, não tem nada haver com a Palavra. Vai de Génesis à Apocalipse, não encontrarás base, suporte bíblico. A música do Nsimba Reoboth, ele fala “minha bênção”, não existe isso. A bênção é de Deus. Há músicas que precisam ser censuradas, apagadas, destruídas e consideradas músicas para o enxofre e o ranger de dentes.
AF: Um grupo de músicos angolanos, que hoje dizemos que são as referências da música gospel, não podiam encher o estádio dos Coqueiros?
Ancoje: Não.
AF: Sofia’s, Bambila’s, Guy Destino, entre outros!
Ancoje: Já não enchem porque foram ultrapassados no tempo e no espaço. Eles apanharam as pessoas naquele tempo com falta de conhecimento. Isso é como quando os movimentos chegaram aqui, encontraram 80% de analfabetos. Se não fossemos analfabetos nós íamos compreender logo em 75 que nós somos todos irmãos. Não haveria a guerra fratricida que houve, evitava-se toda fracção que houve. Evitava-se muita coisa e hoje o país estaria a prosperar. Seria um dos melhores países de África.
O mesmo acontece com esses músicos que começaram. Os músicos começaram e apanharam uma boa parte dos cristãos que não percebiam nada. Hoje não, as pessoas estão a discernir, estão iluminadas, sabem o que é bom e o que é mau. O que é bíblico e o que não, o que é trigo e o que é joio.
AF: Aqui pelo Praiseart (a entrevista foi feita neste espaço) passam muitos músicos que recebem grandes elogios. Nem com estes se poderia encher o estádio dos Coqueiros! Nem com 100 deles?
Ancoje: Não se esqueça que existem elogios fúnebres. Esses recebem.
Eu estou nesta desde os meus 27 anos e hoje tenho 59. O que eu noto são elogios fúnebres. Há coisas que eu não aplaudo.
AF: Quais são essas coisas?
Ancoje: Que não têm respaldo bíblico. Note bem: uma música espiritual, uma música aprovada por Deus, o espírito convence. Não é a música. É o espírito da música que com o teu espírito concordam e dizem amém. Não importa a letra, importa o que está por trás, qual é o espírito da letra! É de Deus ou não.
Há elogios que se fazem por inocência e como poeta denomino elogios fúnebres. Elogios para aqueles que ainda não despertaram e que Cristo ainda não os iluminou.
AF: Como poeta gospel mais velho de África…
Ancoje: E do mundo.
AF: Como é que olha para a música gospel que está sendo feita agora?
Ancoje: Algumas como do Víctor António, não queria idolatrar o menino, mas para dizer a verdade. Um exemplo, Víctor António faz música, não com a alma, com espírito. E outros estão a vir aí. Maria da Lu…. Noto que ela tem testemunho para cantar e há músicos que pecam nos dois sentidos: cantam por ouvir e cantam por imitação.
E Deus diz na sua Palavra: aí daqueles que imitam e aí daqueles que agem por ouvir. Reconheço que a música… está a chegar a geração que vai por de rastos aqueles que começaram. Até mesmo como o mais velho Jack. Esses todos vão ser ultrapassados como Davi ultrapassou Saul. A Saul matou mil Filisteus, Davi matou dez mil. Estão a vir músicos que vão abrir a boca do leão a partir dos maxilares até a cauda.
AF: Estes que estão a vir, acredita que poderiam encher o estádio do Coqueiros?
Ancoje: Espiritualmente sim. E se notares bem, estão a ser mais aceites e de uma forma diferente do que aqueles que a gente aceitou no princípio. Hoje esses músicos estão a encher os templos. E esses Guy’s, Buila’s, Bambila’s, Sofia’s, têm ficado para trás. Quase que já não se ouve falar deles.
AF: Como é que olha para a reclamação dos músicos, por estes dias, de que têm sofrido descriminação quando vêm cantores estrangeiros. Acompanha muitos eventos de música gospel, concorda que eles têm recebido muito pouco apoio em relação aos estrangeiros?
Ancoje: Não, isso depende da equipa que trata deste assunto. Eu penso ir a questão não de serem músicos de lá ou de cá porque a Bíblia diz: “cada um fica no lugar em que eu lhe coloquei”. Em Coríntos 2 diz isso. E eu acredito que os músicos nacionais também podem, mas é o que disse no princípio: a música não tem essencial espiritual. Uns cantam por vaidade, outros cantam por ganância, outros têm interesses e não pode. O que se passa é o seguinte: se os irmãos do Congo enchem os Coqueiros, eu não compreendo o que eles cantam, mas aqueles que compreendem com certeza notam algo espiritual. Por mais linda que seja a melodia, eu não aplaudo uma música que não compreendi. Não digo amém a uma palavra que não compreendo. Não digo.
Então, a questão não é de ser estrangeiro ou não, é ser um trabalho espiritual, humano terreno e diabólico. Já tive numa entrevista em que fui censurar músicas, não o músico, quando abrimos a linha telefónica alguém concordou comigo e disse mais, algo que estava muito longe do meu pensamento ou imaginação, muito longe das fórmulas matemáticas, físicas e químicas. O ouvinte disse o seguinte: “até há músicas que são uma autêntica adoração ao diabo e chamam música gospel”.
AF: Temos uma associação de músicos cristãos que deveria, ao nosso ver, ajudar a corrigir, a educar os músicos. Não tem feito o seu papel?
Ancoje: Não. Dá-me a impressão que eles querem concorrer. Concorrer com quem? Com uma UNAC. Querem imitar o quê? uma UNAC! E só falham numa questão que a UNAC também falha: não há censura.
Se a censura na associação, tal como na UNAC não funciona e eu estive a conversar com um homem de destaque na UNAC, disse que na UNAC não há censura, por isso é que existe tanto disparate quanto na associação.
AF: O que é que os poetas podem fazer para ajudar os músicos gospel?
Ancoje: Têm de ser ouvidos. Deus não é músico. Músico foi Lúcifer, a saber, hoje Satanás. Ele sim. Deus sempre foi o autor e consumador de todas as coisas. Sem ele, nada do que existe seria. Os poetas, eu acho que em Actos 17:28, fala: conforme os vossos poetas diziam.
O poeta é um pai, um conselheiro, um profeta. É um histórico, é um coronologico. O poeta acarreta todo esse conhecimento. Tem de se ouvir os poetas, têm de ouvir conselhos dos poetas, principalmente aqueles que estão há muito tempo nesse curso das manifestações da música e da poesia na arte do gospel.
AF: Um recado aos músicos e poetas?
Ancoje: Valorizar mais a Palavra. Acima de tudo Josué 1:8. Leiam repetidas vezes Josué 1:8. Querem sucesso vindo da parte de Deus, vindo dos céus, querem que a simpatia de Deus aumente naqueles que os ouvem, as coisas tem de ser feitas com base em Josué 1:8.
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