MSF suspende ajuda à população do Sudão

Médicos Sem Frontreiras denunciaram que a guerra cortou o acesso da população aos cuidados de saúde.

A guerra no Sudão, que começou em Abril de 2023 e causou a maior crise de deslocados do mundo, “cortou completamente o acesso” da população aos cuidados de saúde, comunicaram ontem os Médicos Sem Fronteiras (MSF). “A guerra cortou completamente o acesso das pessoas aos cuidados de saúde em todo o país”, declarou o coordenador de Emergência dos MSF, Victor Garcia Leonor, que acabou de regressar do país, citado pelo site Notícias ao Minuto.

Segundo o responsável do MSF, “os preços dos medicamentos e dos alimentos subiram em flecha, ficando fora do alcance da população, especialmente das pessoas deslocadas, e a maior parte dos centros de saúde já não funciona correctamente”.

Ao mesmo tempo, o país enfrenta um vazio humanitário que agrava ainda mais as enormes necessidades de saúde não atendidas”, acrescentou. No comunicado, os MSF destacaram a situação no Darfur Central, um estado controlado pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), onde o “Sistema de Saúde entrou em colapso em todo o Estado e o único hospital que oferece cuidados secundários, o Hospital Universitário, foi saqueado e atacado em várias ocasiões”.

Os MSF prestam cuidados médicos neste hospital, onde as suas equipas reabriram, no mês passado, os serviços de urgência, maternidade, um centro de alimentação terapêutica para doentes internados e pediatria, para continuarem a prestar cuidados às cerca de 300 mil pessoas que permanecem na cidade. As organizações humanitárias que estavam presentes antes da guerra ainda não regressaram.

No caso específico da cidade de Zalingei, capital do Darfur Central, as Nações Unidas (ONU) não estão presentes há dois meses e apenas algumas organizações estão a prestar assistência na cidade, “o que representa apenas uma gota no oceano das necessidades”, acrescentaram os MSF. A região do Darfur, no Oeste do Sudão, está no centro das atenções devido à catástrofe humanitária em curso e porque em Al Fasher, a capital do Darfur do Norte e o último bastião do Governo sudanês, as RSF estão a lutar com o exército para assumir o controlo da zona. A guerra no Sudão já causou mais de 30.000 mortos, segundo dados da União Médica Sudanesa.

Dez milhões de deslocados

A guerra no Sudão levou o país a um clima insuportável que já motiva um deslocamento interno de cerca de 10 milhões de pessoas, denunciaram ontem organizações internacionais. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) considera esta crise a pior do género no mundo, e alerta para a fome e as consequentes doenças resultantes dos baixos níveis de imunidade.

Dos quase dez milhões de pessoas deslocadas, 7,1 milhões fugiram das suas casas desde Abril de 2023 e delas 50 por cento são mulheres e mais de 25 por cento são crianças menores de cinco anos, acrescenta o relatório da OIM. Por outro lado, mais de dois milhões cruzaram as fronteiras para os vizinhos Tchad, Sudão do Sul e Egipto.

O pior cenário actual do conflito, segundo site Notícias ao Minuto, é a cidade de Al Fasher, capital do Norte de Darfur, onde cerca de 800 mil civis permanecem encurralados em meio a intensos confrontos entre o Exército e os paramilitares que mantêm cerco àquela cidade, considerada um bastião do Governo. Desde meados de Abril do ano passado, a nação africana está atolada numa guerra interna, depois de terem surgido contradições sobre questões de poder entre o chefe do Exército, Abdel Fatah al-Burhan, e o líder das Forças paramilitares de Apoio Rápido, Mohamed Hamdan Daglo. No Sudão, onde ocorreu um golpe militar em 2019 e outro em 2021, eclodiu um conflito que matou milhares de civis, incluindo cerca de 15 mil só na região ocidental de Darfur.

 

Fonte: JA

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