2021 a Maio deste ano: Angola registou mais de 8 mil casos de hepatite

Instituto Nacional de Luta contra a Sida refere que a patologia afecta entre oito e dez por cento da população, percentagem que, entretanto, não espelha a real situação da doença no país.

O país registou 8.462 casos de hepatites virais com realce para a do tipo B, de 2021 até Maio do corrente ano, segundo o director-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLS), José Carlos Van-Dúnem.

Em declarações à imprensa, a propósito do Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, que se assinala hoje, o também especialista em Saúde Pública explicou que o total de casos da doença que o país regista representa entre oito e 10 por cento da população.

Estes dados, disse, não espelham a real situação do país em relação à doença. “Os números podem ser muito mais do que isso”, sublinhou, acrescentando que o INLS só saberá a verdadeira prevalência das hepatites virais quando forem publicados os resultados do último Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde 2023-2024, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Segundo o director-geral adjunto do INLS, o facto de o país ter oito a 10 por cento da população infectada pelas hepatites virais, com realce para a do tipo B, constitui um sério problema de saúde pública, que deve ser resolvido por todos, de forma a proteger a geração vindoura, porque esta patologia, quando não tratada, evolui para câncer do fígado.

Trabalho de rastreio

José Carlos Van-Dúnem  informou que o INLS está a realizar um trabalho de rastreio e convencer as pessoas a testarem e, caso dê positivo, são submetidas a tratamentos e seguimentos contínuos.

Por isso, realçou, o INLS criou, em 2019, um protocolo de seguimento ao paciente (Protocolo Nacional para Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e Cuidados em Hepatites Virais), revisto em 2023 e está a ser implementado nas várias unidades sanitárias do país. Em Luanda, está a ser implementado em 21 instituições de saúde onde se pode fazer testes e seguimento das hepatites.

Fora da capital do país, o protocolo de testagem, tratamento e seguimento já foi implementado nas províncias do Cuanza-Sul, Benguela e Huíla.

Definição da doença

O especialista em Saúde Pública define a hepatite viral como a inflamação do fígado que pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns remédios, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas.

De acordo com o médico, usa-se o termo hepatite viral quando é causada por um dos cinco vírus infecciosos como A, B, C, D e E. Estes vírus têm em comum a preferência para infectar os hepatócitos (células do fígado), mas apresentam formas de transmissão e evoluções clínicas diferentes.

Transmissão e tratamento

A hepatite A é causada pelo vírus (VHA) e transmite-se, principalmente, pela via fecal-oral, ou seja, através do contacto inter-humano, consumo de água e alimentos que estejam contaminados. A doença tem cura, garantiu, basta tomar os antibióticos certos para estar totalmente curado.

Segundo o especialista em Saúde Pública, a hepatite A afecta mais pessoas que vivem em países pobres, devido à precariedade do saneamento básico.

Já a hepatite B é causada pelo vírus VHB. A transmissão pode ocorrer principalmente por via sexual, razão pela qual é considerada como sexualmente transmissível.

Segundo José Carlos Van-Dúnem, a transmissão pode ocorrer também por transfusão de sangue, ou de uma mãe portadora para o bebé, à nascença, e por injecções ou feridas provocadas por material contaminado.

A hepatite B não tem cura, sendo que a principal complicação é desenvolver cirrose, o que pode aumentar os riscos do surgimento de cancro do fígado. Por não ter cura, os doentes são tratados com antirretrovirais (tenofovir/entecavir) para reduzir a carga do vírus e torná-la negativa ou indetectável.

“E de três em três meses tem de fazer exames para saber se a carga viral está a subir ou não, para daí serem tomadas outras medidas em termos de medicação”, realçou José Van-Dúnem.

Sobre a hepatite C, explicou, é causada pelo vírus VHC, e a transmissão é feita por via sanguínea.

O especialista explicou, ainda, que a transmissão da hepatite C por via sexual é pouco frequente e o vírus não se propaga no convívio social ou na partilha de objectos. De igual forma, o risco de uma mãe infectar o filho durante a gravidez é de cerca de seis por cento.

A hepatite C, disse, tem cura e o seu tratamento depende muito do subtipo do vírus e do grau de lesão do fígado.  “Mas, tal como na hepatite B, as principais complicações são o desenvolvimento de cirrose e a possibilidade de evoluir para cancro do fígado”, salientou.

A hepatite D é provocada pelo vírus da hepatite B ou vírus Delta). Trata-se de um tipo de hepatite menos frequente, mas é causada pela presença de infecção simultânea pelo vírus da hepatite B (VHB). A mesma é endémica nos países mediterrânicos e tem como principal forma de transmissão a via sexual.

Hepatites mais comuns no país

José Carlos Van-Dúnem explicou que, em Angola, as hepatites mais comuns são A, B e C. Daí que, o INLS está a trabalhar com o Ministério de tutela para se comprar mais testes e medicação suficiente para se combater e controlar a patologia.

Na maioria das vezes, acrescentou, estas hepatites são infecções silenciosas, sem sintomas. Entretanto, frisou, quando presentes, podem se manifestar com cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vómitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

Quem sentir alguns destes sintomas deve se dirigir em primeira instância ao INLS ou numa das unidades hospitalares, onde estão disponíveis o protocolo de tratamento contra as hepatites virais.

Segundo José Carlos Van-Dúnem, o INLS está em comunicação permanente com a Direcção Nacional de Saúde Pública, no sentido de reforçar cada vez mais o stock de vacinas contra a hepatite B.

Como prioridade, a vacina é administrada em crianças dos zero aos cinco anos, em cumprimento ao Calendário Nacional de Vacinação.

O Instituto Nacional de Luta contra a Sida (INLS)é uma instituição pública vocacionada para desenvolver acções no domínio da luta contra as Infecções de Transmissão Sexual (ITS), Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) e Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Sida) e Hepatites Virais. Assegura a implementação das políticas, programas e planos nacionais de luta contra essas doenças.

Mais de 300 milhões de infectados em todo o mundo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a nível global, 304 milhões de pessoas vivem com hepatites virais. A mortalidade anual global por hepatite viral é comparável a do HIV/Sida, tuberculose ou malária e, provavelmente, excederá o número de vítimas dessas três doenças combinadas até 2040.

Em África, a hepatite viral crónica afecta mais de 70 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões com hepatite B e o restante com a do tipo C.

A OMS sublinha que, apesar da disponibilidade de ferramentas de diagnóstico e tratamento eficaz, mais de 90 por cento das pessoas que vivem com hepatite B e C em África carecem dos cuidados necessários, resultando em pelo menos 200 mil mortes por ano.

Reconhecendo o importante problema de saúde pública que representam as hepatites, a 63.ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 2010, designou o dia 28 de Julho como o Dia Mundial de Combate às Hepatites virais.

Este ano, a OMS escolheu o tema “É hora de Agir”, com o objectivo de incentivar os governos a unirem esforços e estabelecer estratégias para combater a hepatite a nível regional e global.

 

Fonte: JA

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