Em Angola, a “Operação Resgate”, que pretende reforçar a autoridade do Estado, levou ao encerramento de centenas de igrejas ilegais. Para analista ouvido pela DW, liberdade religiosa está a ser posta em causa.
A “Operação Resgate” – que tem como objectivo reforçar a autoridade do Estado em Angola – levou ao encerramento de centenas de igrejas ilegais no país. Na província angolana da Lunda Norte, mesquitas foram fechadas e fiéis foram detidos em plena oração. Analista angolano ouvido pela DW África fala em excessos.
De fato, já foram encerradas centenas de locais de culto cristãos e muçulmanos desde que começou a “Operação Resgate”, em novembro passado. Só na província angolana da Lunda Norte foram fechadas 39 mesquitas.
Angola não reconhece a religião islâmica, e, segundo António Aly, secretário da comunidade islâmica na Lunda Norte, nesta altura, não há nenhuma congregação aberta na região. Na última sexta-feira (08.02), foram detidos pastores que se encontravam em oração numa das mesquitas.
“Quando estávamos a rezar, surgiram os homens da polícia e entraram dentro da igreja e começaram a algemar os pastores”, disse Aly.
Entretanto, os pastores foram colocados em liberdade.
Face a esta situação, o jornalista e analista angolano Ilídio Manuel não tem dúvidas: A “Operação Resgate” coloca em causa a liberdade religiosa em Angola.
“Há determinados locais de culto que foram encerrados no âmbito da ‘Operação Resgate’. Não tenho dúvidas sobre isso. Tanto mais que já se fala também da detenção de alguns religiosos, que terão insistido com a sua atividade religiosa”, disse Ilídio Manuel.
“Excessos”
Nesse sentido, tem havido excessos com a “Operação Resgate”. Embora se deva combater o fanatismo religioso e igrejas ilegais “oportunistas”, comenta Ilídio Manuel.
“Muitos que vão às igrejas, não é a fé que os move, são interesses materiais. São aqueles que vão à busca de emprego, de tratamento espiritual, uma vez que não conseguem nos hospitais convencionais devido à incapacidade de resposta. Há uma corja de oportunistas que se aproveita desta fragilidade das pessoas justamente para poderem extorquir-lhes o dinheiro.”
O analista entende que a melhor forma de combater este “oportunismo” não é com “operações resgate”, mas investindo na saúde e na melhoria das condições de vida da população.
Em Angola, apenas 81 confissões religiosas são reconhecidas oficialmente – entre as milhares existentes no país. A nova lei sobre o exercício da actividade religiosa, aprovada em janeiro pelo Parlamento angolano, exige 60.000 assinaturas para que se possa formar uma igreja.
Fonte: DW