Novas tecnologias melhoram a vida das pessoas com deficiência visual

Já imaginou um software leitor de tela? Adão Nhama e Emanuel de Jesus, mais conhecido por Nelinho de Deus, portadores de deficiência visual, viram as suas vidas melhoradas com a chegada de recursos de acessibilidade.

“As novas tecnologias mudaram a minha vida”, disse Nelinho de Deus, músico gospel de 13 anos de idade, deficiente visual desde a infância.

O artista revelou ao Jornal de Angola que, antes da chegada deste recurso, passou por muitas dificuldades em executar tarefas do dia-a-dia. Por isso, sentia-se excluído do resto do mundo.

Em 2023, por influência de um amigo, Nelinho de Deus conheceu o software TalkBack, leitor de tela para celular, desenvolvido pela Google. Trata-se de um recurso de acessibilidade que ajuda pessoas com deficiência visual ou visão reduzida a seleccionar as opções presentes em menus de telemóveis.

Quando activado, os itens da tela são destacados com uma caixa e o dispositivo dá aviso em voz alta sobre todas as informações disponíveis. Isso permite às pessoas com deficiência visual interagir com amigos e familiares por meio de mensagens de voz ou texto.

Primeiro contacto com o software

Segundo Nelinho de Deus, o primeiro contacto não foi fácil, porque enfrentou algumas dificuldades com o TalkBack.

“Quando fui informado sobre a existência deste recurso no meu telemóvel, fiquei surpreso. Todavia, na primeira vez que fiz uso, enfrentei muitas dificuldades”, salientou.

Após alguns dias de orientação, o artista passou a manusear o telemóvel sem dificuldades. “Depois de um período de aprendizagem, ganhei novas habilidades e passei a manusear o aparelho normalmente, sem limitações”, acrescentou.

Questionado sobre as mudanças na sua vida, respondeu que o TalkBack trouxe mudanças significativas. “Eu era muito limitado antes disso. Mal conseguia resolver tarefas, mas, com a chegada deste dispositivo, deixei de me sentir isolado. Hoje consigo fazer muita coisa a partir do telemóvel”, salientou.

 O artista revelou que possui habilidades apenas para dispositivos do sistema operativo Android e espera que a função de acessibilidade possa estar presente em todos  os smartphones.

 Página no Facebook

Nelinho de Deus possui uma página na rede social Facebook, gerida pelo seu produtor, Delfino Massini. Este explicou que, apesar de ser o gestor, o artista fica a par de tudo que se publica.

“Eu é que manejo todas as páginas dele. Sendo artista, ele não pode manejar a sua página, porém, tudo que acontece dentro da página, ele tem conhecimento. Também vai lá dar uma olhada ao que está a acontecer”, acrescentou.

O produtor sublinhou que, no campo das TIC, o músico faz tudo que qualquer outra pessoa pode fazer. “Ele consegue entrar no Facebook, TikTok, Youtube e WhatsApp, porque a tecnologia já facilita tudo. Só não é muito assíduo na página, porque tem um agente que cuida desta tarefa”. sublinhou.

Adão Nhama
“Hoje sou completamente independente”

“Graças às novas tecnologias, hoje sou completamente independente”, foram as palavras de Adão Nhama, professor com deficiência visual.

Em entrevista ao Jornal de Angola, Adão Nhama, professor de Geografia da 7ª e 8ª classes no Complexo Escolar do Ensino Especial 8001, no município do Kilamba Kiaxi, revelou que viu a sua vida transformada com a chegada das novas tecnologias.

Graças às TIC, Nhama faz as suas actividades de forma autónoma. “Faço as minhas coisas sozinho, no telefone. Mesmo enviar fotos e baixar outras coisas como livros, músicas, faço tudo sozinho, não dependo de ninguém para enviar mensagens, fazer ligações, gravar número, tudo isso eu faço sozinho. Então, esta grande mudança tornou-me autónomo no que concerne ao manuseamento do telefone, e também do computador. Essa é a grande mudança que aconteceu na minha vida”, revelou.

Tudo começou em 2014, quando conheceu a Associação Nacional dos Cegos de Angola e encontrou outras pessoas com deficiência visual a utilizar telefones inteligentes e computadores, com um sistema áudio.

 Primeiro contacto

Em 2016, o professor recebeu uma oferta de um telemóvel de fabrico americano, com a função já instalada.

 “Eles já vêm com este aplicativo. E ntão é só activar! e o aplicativo funciona normalmente. Tudo aquilo que queremos fazer, escrever, enviar mensagens, entrar nas redes sociais, o telefone vai soltando a voz e a pessoa consegue direccionar-se e fazer o manuseamento do aparelho de forma normal”, afirmou.

Adão Nhama esclareceu que o facto de constatar outras pessoas com deficiência visual a usarem o telefone digital de forma normal lhe suscitou a curiosidade, e, acima de tudo, vontade, porque, na altura, usava telefone analógico (de botão), dependendo de terceiros para quase tudo.

 “Era precisamente isso. Quase tudo dependia de terceiros. Enviaram-te uma mensagem. Tinhas que dar  a alguém para ler. Queres procurar um número, tinhas que dar a alguém para procurar. A única coisa que eu conseguia fazer no telefone analógico chamado de botão era pôr os números que já tinha em mente. Esses, eu conseguia discar e ligar normalmente. O resto dependia de terceiros”, frisou. Aos risos, o professor revelou que, no primeiro contacto, a sensação foi de muita alegria. “Satisfação e, acima de tudo, realização, porque já não tinha que depender de ninguém para fazer tudo que eu necessitava ao telefone”, acrescentou.

 Redes sociais

Adão Nhama realçou que nas redes sociais interage normalmente. “A interacção nas redes sociais é boa. Escrevo, envio mensagens de voz. Normalmente. A única coisa que não conseguimos é visualizar as fotografias, Tudo o resto, fazemos”, disse. Isso permite-lhe comunicar-se, sem dificuldades, com as pessoas próximas. “Eu  comunico normalmente com os meus familiares, amigos, irmãos da igreja, fazendo o uso das novas tecnologias, sem nenhuma dificuldade”, acrescentou.

Questionado sobre o uso das TIC na instituição onde trabalha, revelou que, apesar de haver uma sala de Informática, ainda não é uma realidade. “Infelizmente, a escola não faz uso das novas tecnologias. Infelizmente, fica o ano lectivo  fechado”, lamentou.

Wilson Relvas consegue realizar muitas tarefas sozinho

Os amigos que ainda não usam a ferramenta que permite às pessoas com deficiência visual utilizar o telefone de forma autónoma apelidaram-no de “Cego do primeiro Mundo”.

“As novas tecnologias tornaram-me independente”, disse o professor Wilson Relvas, de 39 anos de idade, pessoa com deficiência visual, que lecciona a cadeira de História na 7ª Classe, no Colégio 6084, na Centralidade do Zango 8000.

Wilson Relvas consegue realizar muitas tarefas sozinho, como digitar, ler livros e ouvir música.

O primeiro contacto com as novas tecnologias aconteceu em 2007, quando passou a fazer o uso de um computador. Mas ficou a saber da ferramenta por intermédio de colegas que residem em Portugal.

“Os colegas que residem em Portugal é que nos despertaram sobre esta ferramenta. Todo o aparelho já traz este suporte, é só entrar nas definições, onde vem Voice Over, e activar. Porém, as pessoas ditas normais, como o senhor, posso dar o meu telefone, não conseguem manusear, porque quando a voz é activada, o telefone trabalha com dois toques. Se queremos gravar um número, dois toques, e assim sucessivamente”, revelou.

Wilson Relvas reconhece que as coisas ficaram mais fáceis. “A ferramenta nos traz tudo, diversão e conhecimento”, afirmou.

Aos risos, o professor revelou que os amigos que ainda não usam a ferramenta o apelidaram de “Cego do primeiro mundo”.

“Os nossos amigos que não usam a tecnologia, que também querem tanto, mas por falta de condições financeiras não conseguem, dizem, em tom da brincadeira, que nós somos cegos do primeiro mundo”, disse.

O entrevistado reconheceu ainda que as novas tecnologias vieram facilitar muita coisa no exercício da sua actividade. “Por meio desta ferramenta, consigo fazer as minhas pesquisas no meu telemóvel”, destacou, acrescentando que a ferramenta é eficaz para quem lecciona.

Wilson Relvas disse que tem uma relação saudável com os seus alunos. “A relação com os meus alunos é super boa. Chego na sala, peço ao delegado para escrever o sumário no quadro e dou a aula normalmente”, afirmou.

 Uso do ATM

Além de professor, Wilson Relvas é o vice-presidente da Associação Nacional dos Cegos e Amblíopes de Angola (ANCAA). Informou que a instituição está a trabalhar com o Banco Nacional de Angola (BNA) para permitir o uso dos ATM por parte das pessoas com deficiência.

“Estivemos reunidos há pouco tempo com o Banco Nacional da Angola. Estamos a procurar que isso também seja possível”, disse, lembrando que, actualmente, é possível o uso de caixas electrónicas por parte de pessoas com deficiência visual.

 O responsável associativo esclareceu que a única ferramenta necessária é o auricular. “A única coisa de que precisamos são auriculares, para que as pessoas que estiverem à volta não usem o nosso código”, sublinhou.

Sobre a massificação do uso das novas tecnologias por pessoas com deficiência visual, a fonte apelou às famílias a ajudarem na aquisição de telemóveis que incorporam TalkBack ou Voice Over.

“Apelo sobretudo às famílias que ajudem os seus membros com deficiência visual a adquirirem esses aparelhos”, disse, sublinhando que “esses programas vieram tirar as pessoas com deficiência visual do obscurantismo”.

Recursos e serviços adaptados
Tecnologias assistivas para pessoas com deficiência visual

Tecnologias assistivas é um termo utilizado para identificar os recursos e serviços adaptados que contribuem para ampliar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência. Possibilitam a execução de tarefas que a deficiência torna impossíveis ou difíceis de realizar.

No caso das pessoas com deficiência visual, a principal função da tecnologia assistiva é transmitir informações sobre o mundo que a deficiência tornou inacessível. As pessoas com baixa visão utilizam recursos que ampliam, aproximam e adaptam imagens e contrastes ou alteram a intensidade da luz.

Considera-se tecnologia assistiva a bengala longa, a máquina Braille e recursos tecnológicos, como softwares acessíveis para smartphones e computadores.

 Leitores de tela

Os leitores de tela são ferramentas essenciais para pessoas com deficiência visual, permitindo que acessem e interajam com informações digitais de maneira independente. Esses softwares convertem texto em voz ou em Braille, possibilitando que os usuários ouçam ou leiam, por meio de dispositivos tácteis, o conteúdo exibido na tela do computador, smartphone ou tablet. São aparelhos que permitem a leitura de livros de forma estruturada, por meio de vozes sintetizadas ou naturais.

 Leitor de livros

Um leitor de livros digitais possui suporte para vários tipos de arquivos, tais como pdf, docx, txt, epub, html e daisy.

Devido à sua praticidade, acessibilidade e funções, os leitores de livros digitais são um aliado muito importante na vida das pessoas com deficiência visual que estudam e trabalham.

Braille

A máquina de escrever em Braille é uma das tecnologias assistivas mais difundidas na alfabetização de pessoas com deficiência visual. Permite a escrita usando o sistema criado no século XIX, por um francês com deficiência visual, Louis Braille.

O primeiro protótipo da actual máquina de dactilografia Braille foi desenvolvida em 1939, pelo professor David Abraham, e a sua produção foi iniciada em 1946, nos Estados Unidos.

O Sistema Braille de leitura e escrita é o mais simples e efectivo método para a alfabetização e comunicação de pessoas com deficiência visual.

Vídeo-ampliadores portáteis

Os vídeo-ampliadores portáteis são dispositivos destinados para pessoas com baixa visão. Eles têm a capacidade de ampliar, aproximar ou adaptar as imagens, ajustando contrastes e intensidade de luz, aperfeiçoando a habilidade de leitura dessa pessoa.

Vídeo-ampliadores como lupas electrónicas portáteis e lupas mouse são equipamentos indispensáveis no dia-a-dia da pessoa com baixa visão, devido à sua eficiência e pela qualidade da ampliação, melhorando muito a sua qualidade de vida.

 

Fonte: JA

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