A Sociedade Bíblica de Angola, dirige um programa de tradução da Bíblia de português para várias línguas nacionais, disse em entrevista ao portal Arautos da Fé, a Secretária Executiva desta instituição. Além de colocar as Sagradas Escrituras em 5 línguas “novas”, fazendo com que os falantes destas tenham o privílegio de ler a Bíblia na sua língua preferência, o programa incluí a revisão de algumas versões traduzidas pelos missionários.
Segundo Beatriz Hupa, o foco da SBA é tornar a Bíblia acessível à todos os cristãos, mas o trabalho é árduo e precisa do suporte financeiro e moral das Igrejas.
Na entrevista que você pode ler no portal, a Secretária falou também de outros projectos da instituição e solicitou dos líderes das Igrejas maior envolvimento no trabalho da SBA.
A Sociedade Bíblica de Angola desenvolve um projecto de tradução da Bíblia (português) para várias línguas nacionais. Como é que está a decorrer este trabalho?
O trabalho está a correr bem graças a Deus. Um dos focos das Sociedades Bíblicas Unidas, da qual a Sociedade Bíblica de Angola faz parte, é traduzir a Bíblia para que cada um a possa ler na sua língua materna ou na língua que lhe convém.
Temos novos projectos de tradução da Bíblia. Algumas (línguas), já tiveram tradução feita pelos missionários, estamos a fazer agora uma nova tradução. 5 (Das línguas) que temos nunca tiveram tradução. Temos dado graças a Deus que está a correr bem, pese embora, precisamos de mais suporte seja financeiro, seja moral por parte das igrejas e de todo cristão que gostaria de ver o seu irmão a ler a Bíblia na língua que lhe convém.
Quais são as línguas que já tinham sido contempladas?
As línguas que já tinham sido traduzidas antes e que está-se a fazer a nova tradução são Ngangela, Umbundu, Kikongo e Ocikwanhama. Quero referir que essa, Ocikwanhama, a primeira tradução foi feita pela Sociedade Bíblica da Namíbia e é uma tradução que só está em Inglês. Agora estamos já a fazer uma nova tradução. Como é uma língua transfronteiriça, falada nós dois países, os dois países juntaram-se, estamos a fazer uma tradução em conjunto.
O que é que levou a revisão destas Bíblias já traduzidas?
Toda língua é dinâmica e ao longo do tempo, algumas palavras vão caindo no desuso. A nossa tradução foi feita pelos missionários, é óbvio que os missionários não dominavam fluentemente as nossas línguas maternas. Haviam muitas escritas. Antigamente se dizia essa é a escrita dos protestantes, essá é escrita dos católicos. Então, depois da divulgação do governo, feita pelo Instituto de Línguas Nacionais, com o Ministério da Cultura e da Educação, vimos que havia necessidade de se fazer a tradução com base na nova ortografia, embora a tradução já estava a ser feita, porque começou em 99 e esta lei só foi divulgada em Diário da República em 2013.
Tudo aquilo que os tradutores já haviam feito, tiveram que rever. Mas também, outro aspecto é: como a língua é dinâmica, se nós pegarmos a primeira tradução que João Ferreira de Almeida fez que é a revista, até nem é actualizada, a primeira tradução ninguém consegue perceber. Era aquele português que chamamos português de Camões.
As nossas traduções passam por este gabinete que está a ver, três pessoas de diferentes igrejas, depois vão à comunidade. E lá na comunidade perguntamos: essa tradução quer-se para quem? Geralmente nós queremos para a nova geração, nós estamos a ir, somos anciãos, pessoas idosas, mas queremos para a nova geração. Então, precisamos ter uma tradução mais clara. Só para ver, a nova tradução tem esses efeitos: mais clareza no teor, ortografia padrão ou então africana, linguagem cuidada ao nível do próprio povo e de acordo ao nosso contexto africano.
O projecto contínua com a introdução de outras línguas nacionais?
Sim o projecto contínua mas, nós trabalhamos com as línguas que têm um número significativo de falantes porque senão, é um trabalho muito moroso e muito expendioso também. Só para ter noção, levamos 19 anos para ter só o Novo Testamento. Está-se a trabalhar agora no Antigo e em breve se calhar, estamos a falar em 20 ou 25 anos, teremos a Bíblia traduzida.
Traduzir a Bíblia para um número reduzido é complicado. Dependemos de doações e essas, normalmente vêm de Igrejas de fora. Seria muito bom se a Igreja em Angola pudesse juntar-se a este projecto e ali, poderíamos ver nas línguas que nós consideramos minoritárias, não fazer uma tradução da Bíblia, mas, quem sabe, a tradução do Novo Testamento. É óbvio, por causa das dificuldades não queremos pegar todas as línguas. Temos novos projectos é difícil gerir isso, mas quando um terminar vamos ver qual é a língua ou o povo que precisa desta tradução e começaremos com essa nova tradução. Por isso é que existem as Sociedades Bíblicas.
Quais são as línguas que estão sendo implementadas no projecto?
Das línguas novas, que nunca tiveram registo algum das Sagradas Escrituras, temos a língua Songo – fala-se no norte do país, mais lá pra Malanje, Xamuteba, Lukembo. Temos a língua Umbangala – que fala-se também na parte norte, Xamuteba, nas Lundas. Temos a línguas Nyaneka que se fala no sul do país, propriamente na província da Huíla e um bocadinho no Cunene. Também o Kumbi que se fala no Cunene e o Kimbundo do Cuanza Sul. Estamos a trabalhar para que o povo possa ler a Bíblia na sua língua.
Pode citar algumas línguas que não foram contempladas por terem um número reduzido de falantes?
Nós gostamos de valorizar as línguas nacionais e temos alguns aspectos que uns dizem isto é língua, outros dizem isto é variante, outros que é dialecto e as vezes criamos um certo ciúme ou então descontentamento. Para nós Sociedade Bíblica, como já frisei, as línguas maioritarias são aquelas que albergam um número maior (de falantes). Vou lhe dar um exemplo antes de dizer as línguas que estão contempladas: O Nyaneka tem várias variantes. Tem a variante Hulo, tem Kyo. O Songo, antes era estudado como uma variante do Kimbundo, mas o número de falantes foi crescendo e achamos necessidade de ter já uma Bíblia.
Essas línguas que posso referir aqui, poderão ser para alguns consideradas variantes ou dialectos, mas ainda assim, nós como Sociedade Bíblica, queremos que estas pessoas tenham a Bíblia. Por exemplo, a língua Kyoyo de Cabinda, as Igrejas estão a solicitar mas ela faz parte da variante da língua Kikongo. Mas antes de se começar uma tradução nós fizemos um estudo de viabilidade, um estudo linguístico para saber se o número é significativo para a tradução da Bíblia.
Temos Kyoyo, Hungu (já é para Nhaneka), Kassay (uma variante do Kimbundo).
Neste momento o trabalho de tradução que está sendo feito é só para o Novo Testamento?
Não. É da Bíblia completa. Mas nós fizemos o trabalho em fases. Começamos pelo Novo Testamento, depois vamos para o antigo. Cada passo que se dá para que não fiquemos no anonimato e para que as pessoas saibam que tem um trabalho a correr, e para podermos também ouvir o feedback, fazemos um lançamento.
Estamos de malas feitas para a província de Malanje onde vamos fazer uma visita preparatória porque o lançamento está para 18 de maio, do livro de Lucas e Atos na língua Songo. Como aquela comunidade sempre ouviu que se está a fazer a tradução da Bíblia na nossa língua, não tem de esperar até terem o Novo Testamento porque é um tempo muito extenso. Já temos os livros de Lucas e Atos, vamos levar, vamos deixar com a comunidade, com os falantes que estão em qualquer parte do país e queiram ler a Bíblia em Songo, vão encontrar este material nas lojas da Sociedade Bíblica ou nas outras livrarias parceiras. Eu acho que quando nós lermos o livro de Atos e de Lucas, vamos ter sede de ler Marcos e outros, depois vem o Novo Testamento. Quando o Novo Testamento terminar, vamos levar ao público.
Quanto tempo em média demora a tradução de um livro da Bíblia?
Depende muito de alguns factores. O trabalho, o empenho dos trabalhadores, as condições técnicas, como vê, temos um computador que tem um programa que chamamos Pará-teste. Este programa dá-lhes vários domínios, consultam várias versões, passam o processo em fases. Chamamos fase 1, fase 2, fase 3, fase 4 – é a final.
Na fase 1, cada um trabalha num livro, na fase 2, os 3 verificam o trabalho que um fez. Na fase 3 levam este trabalho verificado pelos 3, à comunidade falante. Trabalham com os mais velhos que são líderes das Igrejas ou membros, pessoas idóneas que têm conhecimento da própria línguas e vão fazendo as correções onde é necessário, depois passa para o consultor que é a pessoa de nível mais alto e para verificar. Essa consultora tem formação em linguística. Doutorada em linguística, ela é angolana mas vive fora do país. Verifica o trabalho, depois da verificação dela o trabalho está pronto.
A consultora tem domínio de todas as línguas?
Tem domínio de algumas. Mas é como se diz: o linguista não precisa falar todas as línguas, mas sabe como é que cada línguas funciona ou como deve ser escrita.
As equipas que estão aqui a trabalhar foram preparadas pela Sociedade Bíblica?
Foram preparadas pela Sociedade Bíblica e um dos focos das Sociedades Bíblicas Unidas é formação. O pessoal tem estado a fazer formação anual. Temos o Instituto Superior de Teologia no Lubango onde eles vão duas vezes por ano. Têm a formação que é lhes dada pela consultora e um consultor local. Muitos deles (tradutores) são Reverendos, Pastores e leigos. Estiveram em Moçambique mais de duas vezes, estiveram em Israel para verem in loco (no local), porque é lá onde começa a história da Bíblia. Formação é o que estamos a fazer porque temos que capacitar sempre e sempre.
Depois de terminar o processo de revisão, a Bíblia é imprensa em Angola ou fora?
Gostaríamos muito que fosse imprensa em Angola para minimizar os custos. Mas não temos gráficas com este potencial. Tentamos imprimir aqui o Novo Testamento em Kikongo e como sabe, o tamanho da Bíblia, o tipo de papel sugerido, infelizmente nenhuma gráfica tinha, então tivemos que recorrer ao Brasil. Eles têm já, a gráfica da Bíblia.
Depois do trabalho ser aprovado e passado por todas essas fases, é enviado para o Brasil. O Brasil faz, geralmente, livros pequenos, assim como o Novo Testamento. Imprimir no Brasil fica muito caro, depois são os recursos que estão a desaparecer. Mas, numa primeira fase quando tivermos que imprimir a Bíblia, temos o nosso parceiro, que é a Sociedade Bíblica da Korea. Eles têm gráfica e a um preço mínimo, produzem o material. Queremos pedir que o nosso governo vê-le por isso. Assim poderemos ter o material há um preço considerável para aquelas pessoas que gostariam muito de ler a Bíblia nas suas línguas maternas porque, o material quando vem de fora, fica muito caro.
A Sociedade Bíblica já beneficiou de algum incentivo do governo?
Infelizmente nunca. Nunca, e nós estamos a trabalhar, é aquilo que se diz: onde o governo não está, as igrejas estão. Esperamos que o governo olhe para a Sociedade Bíblica como uma instituição que quer realmente ajudar o resgate dos valores culturais, a perpetuação da nossa identidade. O que nós identifica é a língua, aquilo que nos falamos, aquilo que nós somos. Estamos a lutar e sei que um dia o governo… houve uma altura em que o governo falava da introdução das línguas nacionais no sistema de ensino, como introduzir se não temos pessoas que conhecem, se não temos algo escrito? Nós Sociedade Bíblica temos a Sagrada Escritura já escrita nessas linguas que nunca tiveram registo, isso vai ajudar os professores. Vão encontrar aí a ortografia, termos novos, vai servir de acervo histórico para as bibliotecas também.
Vamos esperar, um dia, cedo ou tarde, o governo vai andar connosco.
Além da Bíblia há um outro livro que já foi traduzido para uma língua nacional pela Sociedade Bíblica?
Não. O nosso foco é a Bíblia ou partes da Bíblia. Quando falamos partes da Bíblia, pode ser a vida de Jesus, livros de Atos, a vida do rei Salomão. Fizemos uma tradução da vida de Jesus em Kikongo e Umbundu.
Falou em dificuldades. A Sociedade tem muitos membros, não contribuem?
Infelizmente! Temos um número de membros, nós consideramos membros individuais, membros colectivos (os colectivos são as instituições ou igrejas). Temos estado a receber contribuições destes membros, agradecemos muito do fundo do coração e este é um trabalho para Deus e Deus está vendo o esforço de cada membro que contribui mensalmente com 1.000 kwanzas, mas ainda assim, é uma gota de água no oceano. Ainda é muito pouco para os desafios. Nós pensámos, as dificuldades estão em todo mundo, um dia as Igrejas, por exemplo temos o projecto Songo que está a ser financiado pela Igreja americana – não é a Igreja mas são membros individuais que apoiam, um dia quando aqueles membros pararem, não sei se o povo angolano, os membros ao nível de Angola conseguirão suportar um projecto de tradução.
As Igrejas estão a trabalhar com que o cidadão seja mais benévolo, estenda mais a mão e esse é um trabalho que vai caracterizar e orgulhar qualquer angolano. Temos fé, que daqui a mais algum tempo possamos ser fortes e poder ajudar outras sociedades porque hoje, estamos a ser ajudados por uma Sociedade ou Igrejas da América, mas amanhã gostaríamos de sermos nós a ajudar. A Sociedade Bíblica está na luta para alguns países africanos terem representação das Sociedades Bíblicas, como Moçambique e São Tomé. Mas precisamos de dinheiro para lá estar. Como um dia a Sociedade Bíblica britânica esteve aqui para colocar a Sociedade Bíblica de Angola e quando viu que as coisas estavam bem definidas deixou na responsabilidade as Igrejas, nós também podemos fazer isso. Isso foi uma bênção… Nós podemos ser também bênção para o povo de São Tomé, da Guiné Bissau, de Cabo Verde, que ainda não têm nenhuma representação da Sociedade Bíblica, nem têm as Bíblias traduzidas nas suas línguas.
Cada um que sente que devemos fazer mais para que a Bíblia chegue lá naquelas localidades do país, nas áreas mais recônditas, onde a pessoa só fala a sua língua materna e até temos, que fazer trabalhos de alfabetização para ele poder ler, porque muitos só falam não lêem, são muitos desafios.
Deixa lhe dizer que tivemos uma visita da Sociedade Bíblica da Holanda e fomos até ao Uíge, foi triste ver que duas, três ou quatro pessoas tinham a Bíblia. Eles disseram: quando começamos a Sociedade Bíblica há 200 anos também éramos assim. Mas hoje, temos membros que doam e como não temos línguas para traduzir, estamos a suportar as traduções de Angola. Eles estão a suportar Kikongo e Umbundu. Fomos lá para o lançamento, quer dizer, eles vão suportar até a Bíblia estar pronta. Nós dissemos isso é uma bênção.
Ainda temos muita carência de literatura nas comunidades rurais. Precisamos de alfabetizar o povo, precisamos ensinar o nosso irmão a ler, precisamos ensinar os nosso filhos. Então, temos muitos desafios. E queria frisar que para além dos projectos de tradução que é o foco principal da instituição, nós temos projectos sociais. O nosso foco é Bíblia para todos. Como é que vamos ter Bíblia para todos se aqui onde estamos, em Luanda, nem todos têm a Bíblia? As Igrejas são chamadas a ir à Sociedade Bíblica, as Igrejas são chamadas a abrirem pequenas livrarias, de forma que o cristão não compre Bíblia numa zungueira, não compra Bíblia na praça, mas compre na própria Igreja a um preço igual ao da Sociedade Bíblica, porque a Igreja quando é membro tem direito a desconto. Aquele desconto é para que a Igreja possa vender no mesmo preço.
As vezes um material barato que está a ser comercializado por nós, vemos alguém a comprar 3 vezes mais que o nosso preço aqui em Luanda. E se formos nas comunidades? Se o nosso foco é levar a Palavra, é transformação de mentalidades, ainda temos muito por fazer.
Estamos a trazer a Bíblia em Braille para aqueles que são deficientes visuais e nós apelamos as Igrejas que têm deficientes visuais, a contactar a Sociedade Bíblica. Não estamos a suportar financeiramente, é a Sociedade Bíblica da Holanda que está a patrocinar este projecto, alguns membros de Igrejas que nos contactaram estão a ir para a ANDA para serem alfabetizados e depois eles vão ser agraciados com uma porção da Bíblia em Braille. Digo porção, porque a Bíblia em Braille é volumosa.
Ela (Bíblia) está em partes. O livro de Marcos ou de Mateus podemos encontrá-lo em 3 books grandes.
Nesta fase é só em língua portuguesa?
Sim, só em língua portuguesa.
As Bíblias estão a chegar e vamos fazer uma cerimónia onde vamos entregar essas Bíblias. O nosso trabalho é ajudar a Igreja, mas nós não podemos fazer o trabalho que a Igreja faz que é de evangelização, de sensibilização. A Igreja, pode muito bem numa manhã dominical, um irmão cego fazer a leitura bíblica. É incluir essas pessoas que muitas vezes se sentem afastadas de nós, do nosso meio. Ele pode participar num estudo bíblico, pode muito bem fazer leitura responsiva. Nós estamos a incluir, porque o nosso trabalho é este. Ninguém é excluído aos olhos do Senhor.
Também estamos a lutar para o projecto com as cadeias, continuar. No ano passado, fizemos, com várias igrejas, distribuição gratuita de Bíblias. Fizemos na Cadeia Central de Luanda, na cadeia de Viana, na cadeia de Calomboloca. A Igreja leva a Palavra, a Sociedade Bíblica leva Bíblia para estas pessoas. Nós queremos é mudança de mentalidade.
Só a Palavra transforma. O cego, o mudo, o preso, o analfabeto, todos precisam da Palavra. É missão da Igreja levar a Palavra e até, a grande comissão que Jesus deixou é: Ide pregai o Evangelho a toda terra.
A procura por Bíblias em línguas nacionais é grande?
É grande em certas regiões.
O povo da parte sul é um povo que lê muito. As Bíblias em Português – Umbundu são as Bíblias mais comercializadas. A título de exemplo, nós mandamos vir 10 mil Bíblias em línguas Umbundu e 2 mil em Kimbundo. Em um ou dois anos as Bíblias terminam mas, as de Kimbundo ficaram ainda muito tempo, 3 ou 4 anos para terminar.
Hoje já vimos uma certa apetência das pessoas porque está-se a falar muito das línguas nacionais, já se vê uma certa apetência das pessoas em procurar a Bíblia em Kimbundo. Mas as Bíblias em línguas nacionais que têm muita saída e considerável, são Umbundu, Lingala – uma língua que não é nossa, mas muito procurada, Kikongo também e a Bíblia em Cokwe. Ngangela nem tanto, mas estamos a fazer a tradução. Um dos problemas, é a alfabetização. As pessoas sabem falar mas não sabem escrever, nem sabem ler. Isso já é trabalho das Igrejas criarem escolas de alfabetização para facilitar.
Para quando o lançamento destas Bíblias que estão sendo traduzidas agora?
Umbundu e Kikongo que já tiramos o Novo Testamento depois de 19 anos e também havia muitas dificuldades, não haviam condições de trabalho, não haviam computadores, começamos a fazer a tradução a mão, estamos a prever tirar até 2020/2021. As outras, novas, Umbangala e Songo, estamos a pensar tirar em 2025 porque elas começaram praticamente em 2012/2013. Já tinham boas condições de trabalho, energia já não faltava tanto, já tínhamos computadores, pessoas com mais formação, 2025 é a nossa meta.
Mas quando vamos as comunidades… sair daqui até Lunda e sabemos que as estradas não estão boas e as vezes temos impecilhos o pessoal vai para lavra, é muita dificuldade ainda, as Igrejas não vêem isso como uma mais valias. Apelamos as Igrejas mais uma vez, quando os nossos colegas vão para as comunidades, recebam eles, é um trabalho de Cristo. Deiam a vossa igreja para eles fazerem o trabalho de revisão, porque eles ficam ali, ora a igreja está ocupada, ali não pode, então, as vezes leva muito tempo e o trabalho pára.
Qual é o apelo que faz ao líderes das Igrejas?
Apelamos que trabalhem mais com as comunidades porque vemos muitas Igrejas representadas aqui, mas quando vamos nas áreas rurais não é o que vimos. Trabalhem de formas a levar a Palavra.
A Sociedade Bíblica está de braços abertos, nós existimos para ajudar as Igrejas. Há aspectos que não podemos desenvolver se a Igreja não vir até nós e dizer nós precisamos disso. Mesmo no caso da tradução, a Igreja tem de dizer: nós precisamos de tradução nesta língua, nós precisamos de 3 ou 4 Igrejas que se juntam e dizem nós precisamos… Se as igrejas chegarem até nós e disserem nós temos dificuldades para evangelização e precisamos material deste tipo para evangelização, olha precisamos material que fala um bocadinho mais do tabagismo, fala um bocadinho mais… essa é a altura que nós paramos e se realmente esse pedido tocar alguém de fora, eles financiam o projecto ou então o programa. Queremos que suportem também, as línguas são nossas. E quando vamos evangelizar também, na língua que bem lhe convier e lhe toca na alma, está pessoa ganha, essa alma é ganha para Cristo. Essa pessoa vai para a Igreja, seja Igreja A ou B. Ela não vem para a Sociedade Bíblica.
O trabalho que se está a fazer de tradução é para benefício da própria Igreja, é para a Igreja poder evangelizar lá onde eles falam a própria língua. Precisamos que a Igreja sinta-se parte, senão um dia, se a América fechar as portas, nós não vamos resistir e fecharemos as portas como muitas organizações estão a fechar. É altura de dizermos nós próprios podemos nos sustentar, nós podemos suportar o trabalho de tradução porque no fundo, o trabalho de tradução é para benefício da Igreja.
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