Com mentalidade tacanha um músico não consegue ir muito longe
É notória a evolução, em termos de qualidade, no trabalho de alguns artistas e produtoras gospel, bem como na produção de eventos mas ainda é cedo para começarmos a estabelecer grandes comparações com o mercado secular e já explico porquê.
Num artigo interessante, publicado nesta quarta feira 23 de março, o músico Carlos Astro, dos poucos que mostra capacidade para promover dialogo necessário e urbano, para que a classe dos artistas cristãos saia do marasmo em que se encontra, levanta questões que devem merecer mais do que likes ou mero consentimento.
O Astro começa por questionar a razão dos cristãos reclamarem do preço dos concertos de músicos gospel, sublinha-se baratos, mas pagam caros ingressos para assistirem eventos seculares, se “a qualidade musical é a mesma?”
Não é não, Carlos. A forma de pensar, a ambição, o marketing, a produção, o investimento (financeiro e não só) que faz um músico secular, é completamente diferente do músico gospel.
Convenhamos Carlos, muitos eventos que chamam concerto no meio gospel, são cultos com alguns arranjos.
“Precisamos entender que no secular, quando alguém decide fazer música hoje em dia, já vem com uma mentalidade de negócio, de fazer daquilo, sua profissão, ainda que não tenha nome” no mercado, diz o Carlos e está coberto de razão. No gospel, muita gente deseja efectivamente viver da música sem, no entanto, querer assumir as exigências dessa profissão.
“Deus me sustenta não preciso cobrar”. Dica habitual dos músicos gospel. Analisando este chavão, podemos logo avaliar a que altitude pode chegar o voo de quem assim pensa. Artista que assim pensa, vive uma vida cheia de dificuldades e pouco consegue para investir em si. Mas não estou a dizer que devem ficar a porta da igreja, a exigir kumbú para cantar no culto.
Sim, é razoável, que alguém que vive exclusivamente da música receba uma compensação justa para fazer o seu trabalho quer na igreja ou noutro lugar. Podemos discutir muito sobre isso, mas a verdade é que até quem diz que nada pode pedir a igreja, depois reclama das migalhas que a igreja lhe oferece.
Só uma nota breve, os pastores quando estão a começar uma igreja, a primeira e se calhar a maior preocupação ao longo do trabalho, é a sustentabilidade. Por isso desenvolvem técnica de marketing para alcançarem seus intentos. Me parece, não estão preocupados se lhes vão chamar de satã. Isto para dizer que os músicos também têm de se preocupar com a sua sustentabilidade e buscar caminhos razoáveis.
Carlos, para vocês que já abriram a mente, não podem aceitar que o facto da maioria dos eventos se realizar em igrejas se constitua num problema. Não.
A igreja pode vos dar compensação justa. Pode memu, mas os artistas têm de se despir da capa da hipocrisia e assumir que precisam do kumbú.
Sejam razoáveis, mas vendam o vosso serviço à igreja, assim como faz o Hino, profissional que hoje é referencia dentro e fora da igreja. Os pastores quando estão em campanhas usam os músicos, porquê que os músicos não podem beneficiar!?
Têm medo dos hipócritas criticam de manhã e lamentam de noite o kabukado de oferta que receberam!
Creio que o público cristão não vai respeitar artista que não se valoriza. O artista também não pode pensar ser dono das multidões. É impossível. Deve é, construir o seu público, pode até ser pequeno, desde que seja constituído por pessoas que realmente gostem do trabalho dele.
Não gostaria de nos próximos anos ouvir falar de artista que desmaia no altar porque saiu de casa sem comer.
Não posso terminar sem dizer que a Asso-Música, deve focar sua acção na defesa dos interesses da classe artística gospel.
Mas com ou sem ela, busquem fazer o melhor. O mercado é virgem.