Caminhada de 800 quilómetros de Luanda à cidade do Lubango

A paróquia da Imaculada Conceição, no Lubango, realizou uma missa de acção de graças a favor da peregrinação de Bade Canhanga, um escuteiro que caminhou de Luanda ao Lubango, para assinalar os 30 anos de existência da Associação dos Escuteiros de Angola (AEA).

A missa foi proferida pelo padre André Satchicuata, cuja mensagem bíblica destacou a resistência sobre o pecado. A homilia contou com a participação de dezenas de escuteiros de várias regiões do país, que se deslocaram ao Lubango para festejar o fim da peregrinação.

Depois, os escuteiros seguiram, com muito entusiasmo, para um passeio turístico à Fenda da Tundavala, uma das sete maravilhas do país.

Na noite anterior, foi feita uma fogueira no pátio da Igreja Imaculada Conceição, onde cantaram, contaram testemunhos e oraram.

A caminhada teve início no dia 18 de Maio, com mais de 100 escuteiros, que chegaram perto da Barra do Kwanza e regressaram à capital do país, conforme o programa.

No Sumbe, Cuanza-Sul, juntaram-se cerca de 50 escuteiros, em Benguela, 20 na Canjala e mais de 200 no centro da cidade, incluindo não escuteiros.

“Estas pessoas caminharam apenas nas suas localidades, nenhum grupo saiu das suas províncias. Logo, quem veio de Luanda foi apenas Bade Canhanga”, conta o chefe do Departamento dos Grandes Eventos da AEA, Mário Joaquim.

Próximo desafio

Segundo Bade Canhanga, caminhar de Luanda até à província do Moxico vai ser o desafio do peregrino, previsto para 2027. “Neste momento, estou a me preparar, preciso de apoios, pois a intenção é reunificar a família do escutismo angolano”, disse.

Bade Canhanga revelou não ter ganho nenhum bem material, porém, “houve crescimento na fé, alegria e mais união membros da Associação dos Escuteiros de Angola”.

Em Agosto deste ano, a caminhada vai ter como destino a província do Huambo, até ao Morro do Moco, à semelhança do que fez no Lubango, onde escalou a montanha do Cristo Rei, em companhia de dezenas de escuteiros.

Baptizado com o nome de Silvestre Adelino Vulembue, Bade Canhanga é escuteiro há 30 anos, tempo que coincide com a existência da Associação, fundada em Dezembro de 1994, tendo revelado que a iniciativa, embora seja pessoal, é um propósito aberto a todos os escuteiros de Angola e ao povo angolano.

Segredos da caminhada

Ao longo da caminhada dentro do território da Huíla, Bade Canhanga andava com um telemóvel analógico e conversava, quase sem parar, com amigos, colegas, familiares e irmãos em Cristo. O tempo passava, os quilómetros se esfumando pelo diluir do dia, e, quando dava por conta, atingia o percurso estipulado.

Além dos diálogos por telefone, conversava, também, com os demais peregrinos, e, algumas vezes, andava com um cajado na mão direita.

O escuteiro não bebia muita água nem fazia muitas paragens para urinar. No percurso, acenava para os automobilistas e passageiros de autocarros, kupapatas e carrinhas com os quais se cruzava.

Escolta da polícia e INEMA

Até Quilengues, “tivemos o melhor acompanhamento quer da Polícia quer dos médicos, por meio da ambulância do INEMA”, realçou.

A partir do município da Cacula, que antecede o do Lubango, esse acompanhamento reduziu e ficou descontinuado. Já não dispunha da ambulância do INEMA e algumas vezes era acompanhado por uma motorizada da Polícia com dois efectivos.

“Os bombeiros deram-nos o maior suporte a partir de Luanda, porém, sem a Polícia, no geral, teríamos muitas dificuldades em caminhar com segurança ao longo desse trajecto”, reconheceu.

Cuidados médicos e carinho

Em cada cidade, o escuteiro parava para fazer exames médicos. Medir a pressão arterial e outros sintomas. Recebia, igualmente, o carinho da população e dos responsáveis de alguns supermercados, que ofereciam alimentos e bebidas.

Entre Luanda e Benguela, bebia muita água devido às altas temperaturas. De Benguela ao Lubango, reduziu a ingestão de líquidos e comia muito mais, segundo o cozinheiro Alexandre Paulo.

Bade Canhanga é instrutor da secção sénior, terceira secção (dos exploradores séniores). Existem outros níveis, designadamente, lobitos dos 5 aos 11 anos, exploradores juniores, entre os 12 e 14 anos, os exploradores séniores, dos 15 aos 17 anos e os caminheiros, entre os 18 e 22 anos.

Propósito da caminhada

“Atingi o ponto mais alto da minha vida, agora sinto-me um verdadeiro escuteiro”, afirmou Bade Canhanga que, pela primeira vez, andou mais de 500 quilómetros. De Luanda até ao Lubango, são mais de 800 quilómetros, e teve como propósito rezar “para todos os escuteiros, para a minha família e para mim”.

A caminhada, disse, reflectiu-se em momentos de oração e meditação, sinónimo de que era de todos os escuteiros, de todos os angolanos.

Inspira-se em Baden Powel, o fundador do escutismo, que foi cristão católico do exército britânico. “Essa figura tem sido a minha bengala, a minha forma de viver no escutismo, logo, tudo que estou a fazer não é somente para mim, é para todos os escuteiros”.

No decurso da caminhada, já na zona de Luyovo, Bade Canhanga foi surpreendido por alguns familiares que foram ao seu encontro para constatarem a realidade.

A esposa, Josefa Lucas, revelou sentir enorme alegria. “Acho que ninguém esperava por esse feito, é uma surpresa para nós, e só temos de agradecer a Deus, porque não é fácil caminhar de Luanda até a Huíla”, realçou.

A tia materna, Angelina Mutango, não acreditava que o sobrinho fizesse a caminhada desde Luanda, por isso foi, também, confirmar e o encontrou em plena caminhada.

Visivelmente alegre, exclamou “Será que é verdade, meu Deus? O meu filho andou de Luanda até aqui ao Lubango!”

A cunhada, Leya, que conduzia uma viatura, disse: “Estou sem palavras por ver o meu cunhado a percorrer aproximadamente mil quilómetros. Acho que não é para qualquer um. Que ele continue firme e que os outros jovens possam seguir o mesmo rumo”.

Bade Canhanga não esperava esse encontro com os familiares. Por isso, sentiu-se mais forte e encorajado. “Deram-me mais motivação para chegar à cidade do Lubango”.

Uma equipa coesa

A peregrinação de Bade Canhanga teve o suporte de outras três pessoas, que também são escuteiros, formando uma equipa coesa. A enfermeira Maria Bento, que fazia mel com limão substituir a vitamina C, o coordenador de logística (cozinheiro) Alexandre Paulo, que tinha de fazer refeições pesadas, como funge, feijão, entre outros pratos e o chefe do Departamento para Grandes Eventos, Mário Joaquim, acompanharam a peregrinação desde Luanda, numa viatura.

Em cada província, Bade Canhanga teve acompanhamento de vários escuteiros. No Lubango, juntaram-se dois, Graciano Canjongo e Chefe Mestre e um de Quilengues, Jesus António, com os quais selou o seu nome na História da Igreja Católica no país e em África.

 

Fonte: JA

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *