A edição da última segunda-feira , do programa televisivo Janela Aberta, da TPA, trouxe a terreiro, uma discussão sobre a prosperidade e milagres propalados por algumas Igrejas neopentecostais em Angola.
Sob o tema “Tudo pela fé “, o debate foi consequência de uma reportagem apresentada na passada quinta-feira, pelo jornalista Cabingano Manuel, da referida estação.
Isidro Fortunato, Afrocata, disse no início do debate, que as religiões neopentecostais e tantas outras que aparecem em África e pregam a teologia da prosperidade, não são uma causa, mas sim, consequência das políticas falhadas dos Estados.
Segundo o estudioso, África é conhecida por ser um continente em que há muita corrupção e esta, se estende e torna a manifestação dessas Igrejas que pregam a prosperidade, reais.
“Notamos que essas pessoas são atraídas por promessas de cura. Cura que um hospital bem apetrechado poderia tratar sem problema algum.” Mas, sublinhou, “nós não temos essas infra-estruturas em condições e as pessoas são facilmente enganadas por esses detratores que usam a teologia da prosperidade.”
Ao tomar a palavra, o Reverendo Luís Nguimbi, disse que o que se vê em Angola são sinais dos últimos tempos.
“A profecia tem de encontrar o seu cumprimento total. É uma palavra que foi lançada pelos antecessores.” Lembrou.
O teólogo, referiu que Jesus Cristo em seus discursos foi claro ao dizer que na plenitude dos tempos, os homens trarão esses comportamentos. “Correrão mais de um lado para o outro a busca de soluções, do que antes se preocupar com a sua própria salvação, pela sua própria transformação.”
Essa agitação toda que estamos a viver, observou, são sinais dos tempos e o cumprimento da própria profecia.
O Pastor Luciano Bunga, outro participante, afirmou que a religião cristã, está aqui (na Terra) para dominá-lá e não “para brincar”.
“Porque estamos a preparar o regresso do Senhor. Justificou-se.
O psicológico Carlinhos Zassala, apontou a falta de cultura de visitar o psicólogo, como factor que potencializa a busca por Igrejas.
“Muitas vezes quando a pessoa está a sofrer vai a um médico, este, se não encontra uma causa biológica ou física, diz que a pessoa não está doente. Como não temos a cultura de procurarmos um psicólogo, aquilo que o médico não pode resolver, resolve a Igreja.”
O ideal, segundo o Bastonário da Ordem dos Psicólogos, é que em qualquer centro de saúde haja médico e psicólogo.
“Quando a doença é de fórum psicossomático, então procura-se o psicólogo. Quando é do fórum somatopsíquico, então procura-se o médico.”
Como no nosso país não se valoriza a figura do psicólogo, referiu, o que o médico não consegue resolver, o doente procura por uma confissão religiosa para resolver.
Rebatendo as colocações do psicólogo Zassala, que afirmou, a determinada altura, que algumas Igrejas fazem lavagem cerebral aos seus membros, o Líder da Igreja do Deus Vivo Shekna, afirmou que todo cientista fora do seu campo, é um tolo, um analfabeto.
“Nós temos os pastores, homens de Deus. Existem problemas que a medicina não consegue, psicólogo não consegue, não é problema de lavagem da mente. Imagina, nós recebemos casos de pessoas que nos trazem tala.”
Quem vai curar isso, questionou e respondeu que se trata de um problema do fórum espiritual.
“O médico diz não consigo, o psicólogo vai lá, pode fazer a sua psicologia, mudar a mente da pessoa, mas o problema está lá. Quem vai resolver esse problema? Existe outra pessoa que foi preparada. Nesse caso o homem de Deus.”
O Apóstolo Horácio dos Anjos, esclareceu no debate que não cobra pelo trabalho espiritual que faz como se tem propalado.
“Existe um momento as quartas feiras, que chama-se consulta profética. Agora, vocês antes de falarem alguma coisa, temos que ir para a Bíblia e ver o que é consulta profética, o quê que se faz numa consulta profética.” Alertou.
É bíblico o que se faz. Realçou.
Sobre a tala, Isidro Fortunato, retorquiu dizendo ao Apóstolo, que a também chamada de mina humana, não é um problema do fórum espiritual e sim do fórum físico, um envenenamento, feito através do pé.
“A tala é preparada e requer o uso de vários tipos de ervas venenosas, veneno de sapo, cobras, tudo misturado num único sítio, põem-se pequenas laminas e mete-se em lugares estratégicos. É um envenenamento e o veneno é progressivo.”
O especialista, afirmou que o homem que coloca a tala, tem sempre perto de si o homem que tem o antídoto. “É um dueto, são pessoas que actuam sobre a mesma base. Eles actuam em conjunto”. Denunciou.
Os hospitais, referiu, não vão conseguir encontrar um diagnostico certo para tratar a tala como doença, por resultar de uma mistura complexa.
“Normalmente, essas igrejas têm cadastrado os seus fieis, sabem quem é quem e têm os grupos de campo que fazem esse tipo de trabalho. Então, esse grupo, pode ser o responsável por disseminar as tais minas.”
O Pastor Luciano Bunga, rebateu dizendo que muitas pessoas com as quais teve contacto, disseram-lhe que estavam a dormir e de repente algo aconteceu na perna.
“Temos provas de jogadores de futebol, profissionais onde a medicina é evoluída, na Europa, apanham (tala). Voltam aqui em África ou procuram igrejas lá.”
A Bíblia, referiu, diz que, o que é revelado é para os homens, o que é escondido é para Deus.
“Há coisas que você não conhece, imagina, bruxaria por exemplo, quem trata isso, sociólogo, psicólogo?” Questionou.
O religioso, aconselhou as pessoas que padecem de enfermidades, a dirigirem-se aos hospitais. “O homem de Deus vai ministrar a cura no hospital.” Porque lá, referiu, há técnica de como evitar que o micróbio se espalhe.
No debate que contou com a participação dos telespectadores da estação televisiva, Isidro Fortunato, afirmou também, que existe um problema de negação da espiritualidade e as pessoas quando vão para as igrejas, não vão para se encontrar Jesus Cristo, nem com Deus.
“As pessoas estão cansadas do sofrimento, por isso é que os milagres são muito na base do materialismo. Quer dinheiro, quer casar, quer ter um carro novo vai a igreja e pede, faz o tal propósito.”
A busca de condições, continuou, leva as pessoas a estarem na igreja, a fazerem esses pedidos e os propósitos. Uma consequência da pobreza que graça.
“A pobreza hoje em dia, é um produto de péssimas políticas do Estado. Nesse caso podemos falar, que a Igreja é o parceiro do Estado corrupto.”
O Estado sem capacidade de levar felicidade as pessoas, realçou, permite a proliferação de Igrejas, porque (elas) aparecem como uma muleta para o próprio Estado.
Carlinhos Zassala voltou a carga para dizer que muitos que se dizem pastores vendem gato por lebre. “Ele não diz a verdade, quem não diz a verdade, não merece ser chamado de pastor.”
Hoje em dia, disse, o magico, o feiticeiro e o homem das ciências ocultas são chamados de pastor. Um problema, que entende, deve ser resolvido com a definição clara de papéis.
O psicólogo que revelou na reportagem de Cabingano Manuel, que a sua filha saiu de casa por força dos ensinamentos que recebeu numa igreja, afirmou que quem com os seus ensinamentos cria divisões no seio das famílias, não é pastor, pois, a Igreja veio para unir.
“O que deve predominar primeiro, é o amor, a verdade e a justiça.”
O bastonário, denunciou também, a existência de confissões religiosas onde não existe amor, nem verdade, nem justiça.
Ao intervir no debate, o jurista Almeida Lucas, referiu que a temática religião é problemática em qualquer parte do mundo e não muito pacífica.
Afirmou que em Angola, convivem várias religiões de forma “relativamente” pacificas.
Chamou a atenção para a intolerância apresentada pelos antigos fieis e vizinhos da Igreja Jotel do bairro Palanca, em Luanda.
Estratos do reportagem apresentador durante o debate, mostraram jovens e adultos, antigos fieis e vizinhos da referida denominação, a arremessarem objectos para o templo, um dos quais atingiu um fiel que se encontrava no interior.
“Acabamos de verificar no video que foi exibido a pouco, uma situação de intolerância. Ali ocorreram crimes de danos e crimes de ofensas corporais e isso é caso de polícia.”
Todas as Igrejas, alertou, devem actuar sobre o primado da legalidade, não obstante haver separação entre a actividade da Igreja e do Estado.
Se uma Igreja não age em conformidade com a lei ou os seus actos põem em causa a integridade física dos seus membros, a vida ou a ordem constitucional, o Estado deve intervir, observou.
O jurista, disse também, que a proliferação de Igrejas, pode ser um indicio do branqueamento de capitais. A par deste crime, referiu, está o de apoio a imigração ilegal, praticado “principalmente” por Igrejas do oeste africano e o financiamento ao terrorismo.”