Dois prelados cristãos apelaram ao governo angolano para reabrir os locais de culto religioso garantindo que as igrejas têm a capacidade de instituir medidas higiénicas e de segurança no combate ao coronavírus.
O Reverendo Kanasidibo Aleluya Charles Sebastião Janus e o Padre Daniel Malamba disseram no programa “Angola Fala Só” que as igrejas devem ser reabertas pois cumprem uma necessidade espiritual e social das populações.
“A fé e Deus não são um bem de primeira necessidade?” interrogou o Padre Malamba que sublinhou depois que “Deus não é um marginal, a fé não é um acto marginal”.
“Não sei qual é o critério (que utilizaram para encerrar as igrejas)”, disse o prelado católico.
Não confiam na nossa capacidade de organização mas duvido que os mercados sejam melhor organizados do que nós”, acrescentou.
Já o Reverendo Aleluya disse que as igrejas poderiam organizar-se facilmente para limitar o número de crentes presentes e fez notar também que as igrejas podem ter os meios de higiene previstos no combate ao coronavírus.
“Há muito mais população num mercado do que numa igreja”, disse afirmando que as igrejas podem organizar diversos cultos diários com lugares reservados.
“Como é que se pode pensar que há mais risco nas igrejas do que nos mercados?” interrogou.
O Reverendo Aleluya disse que um grupo de dirigentes religiosos tinha pedido uma audiência com o presidente da república para discutir a questão mas não tinha obtido qualquer resposta.
Ambos concordaram que o encerramento das igrejas teve um grande impacto.
“Muitas igrejas vivem do dia a dia das contribuições dos fiéis”, disse o Padre Malamba que sublinhou que houve também um impacto “nas relações humanas entre as pessoas”, recordando a este respeito que há pessoas idosas cuja ida à igreja é também o único local de socialização.
O Reverendo Aleluya disse que “a igreja é constituída pelas pessoas e tem identidade social”.
“A Igreja foi afectada e também os cristãos”, disse afirmando que a Igreja e o estado deveriam “trabalhar de comum acordo”.
Tanto o Reverendo Aleluya como o Padre Malamba alertaram para os “falsos profetas” que se dizem capazes de produzir curas da Covid-19 e outras doenças.
“Isso vem de igrejas doentes”, disse o Reverendo Aleluya para quem “os verdadeiros cristãos não podem clamar por milagres” algo que está aquém da compreensão humana.
Já o Padre Malamba disse acreditar em milagres “mas não na propaganda milagrosa”.
“Eu acredito que há gente que se salva por milagre por fé em Deus mas há profetas falsos”, disse o Padre Malamba, “na Bíblia Jesus Cristo quando fez milagres frisou sempre que foi a fé que salvou”, continuou.
O Padre Malamba avisou contra aqueles que usam a liberdade religiosa para “a libertinagem” e avisou contra os “falsos profetas”.
“Há muita gente que vai para o inferno de Bíblia na mão”.
“A polícia mata mais que o coronavírus”
Os dois prelados insurgiram-se contra a brutalidade policial na aplicação do Estado de Emergência.
O Reverendo Aleluya disse ter ele próprio testemunhado a polícia prender pastores religiosos.
“O pastores deviam ser um colaborador da polícia na educação moral e cívica”, mas “o poder está com o polícia que mesmo que tenha outras ordens faz outras coisas no terreno”.
Já o Padre Malamba disse que se assiste em Angola a uma degradação das relações entre a polícia e população: “Em Angola há mais divórcio e menos casamento entre a população e a polícia, há falta de uma consciência, e ética moral, cidadania e co-responsabilidade. Chegamos ao ponto de ter uma mamã sem arma a enfrentar um polícia armado”.
“A polícia e o estado não se faz respeitar e há um total desrespeito pelas autoridades”, acrescentou.
Para o Padre Malamba a polícia tem que ser treinada “a conviver com situações ‘‘stressantes’” e só assim poderá ganhar o respeito das populações.
Para o reverendo Aleluya a “polícia já matou mais do que o próprio coronavírus”.
Dois prelados cristãos apelaram ao governo angolano para reabrir os locais de culto religioso garantindo que as igrejas têm a capacidade de instituir medidas higiénicas e de segurança no combate ao coronavírus.
Fonte: VOA