Os eventos não tem hora de começar, nem de terminar. Mais do que apoios, falta conhecimento científico para que os eventos sejam feitos com qualidade internacional. Para conquistar a confiança dos patrocinadores, defendeu que as produtoras criem projectos sérios e viáveis. Estas observações foram feitas pelo director geral da Monumental Gospel, em entrevista que concedeu ao portal Arautos da Fé na última semana.
Trazer excelência a música gospel, é de acordo com Manuel Fiel, o objectivo da produtora. A entrevista completa, você lê a seguir.
Está mais fácil fazer eventos nem por isso?
Não, não está fácil. Primeiro porque, gestão de eventos hoje é ciência: precisamos sentar e aprender. No seio cristão, no seio evangélico, as pessoas não querem sentar para aprender. Segundo, porque exige uma certa estrutura para que o seu evento aconteça. Existem passos (a seguir), existem padrões. Outro factor, tem haver com financiamento. Hoje, os eventos exigem-nos muito. exigem uma certa preparação financeira. Como estamos num período de crise, os patrocinadores não aparecem. Por isso é que considero que está cá vez mais difícil fazer eventos.
Já procurou estudar o porquê que os patrocinadores ainda não se abriram para o gospel?
Estamos a estudar, é um processo. Claro, vamos chegando a algumas conclusões e acredito que, primeiro precisamos investir na qualidade. Para conquistarmos patrocinadores, há necessidade de termos projecto sério e viável. Também aqui consiste uma das nossas deficiências. Nós os cristãos, as vezes, pensamos que os patrocínios e os apoios vêm de mão beijada. Mas para para convencermos um patrocinador com capacidade financeira acima dos 100 milhões de kwanzas, é necessário termos um projecto viável.
Pecamos aqui: não consultamos, não temos assessoria com consultores financeiros/económicos que podem fazer planos. Outra questão, os empresários cristãos não acreditam muito no gospel. Até às vezes, preferem apostar no secular.
Pelo Facebook vemos um número elevado de actividades. Há uma desproporção entre a quantidade e a qualidade?
Com certeza. Hoje, crescemos na quantidade. Segunda à segunda há muitos eventos, também porque as igrejas cresceram -hoje temos muitas igrejas – mas não basta só termos quantidade, temos de investir na qualidade.
Eu acredito que os eventos surgem para evangelizar. Seja eventos de música gospel, teatro, poesia, dança, enfim, sobretudo quando tiramos das quatro paredes das nossas igrejas. Mas a evangelização deve ser acompanhada da qualidade. É tipo um pastor pregar e não ter conhecimento daquilo que está a falar. Hoje, se nós exigimos que os pastores devem ter, por exemplo, formação teológica, conhecimento, o mesmo (deve) acontecer com os produtores de eventos. Têm que sentar e aprender. E eu, sinceramente, estou muito preocupado com a área de eventos porque, como disse, temos muitos eventos, mas muitos não cumprem com os requisitos. Há pouca qualidade nos eventos.
A Monumental é hoje, senão a maior, pelo está no grupo das 5 maiores produtoras de eventos gospel. Tem tido algum resultado financeiro desta actividade que desenvolve?
Infelizmente ainda. Porque a Monumental só existe há dois anos e estamos a trabalhar pouco a pouco. É plantando, é caminhando que vamos chegar lá. Estamos a plantar agora para colhermos daqui a 5, 6 ou 10 anos. Mas nós já estamos preparados psicologicamente, não somos imediatistas. A Monumental está a fazer o seu trabalho para que a música gospel seja respeitada, para que exista certa qualidade. A Monumental não vai mudar sozinha, é importante que as produtoras estejam unidas e todos no mesmo ideal, no mesmo foco, no mesmo pensamento. Senão, não vamos chegar lá.
O que é mais difícil na produção de um evento? Espaços, som…
Primeiro tem há ver com a visão. É aquilo que se diz: você as vezes tem dinheiro mas não é feliz. Tens dinheiro mas não consegues realizar os teus sonhos.
O importante é ter visão, a ideia de mudança. Segundo, tem haver com a determinação. De resto, a questão do dinheiro, é uma consequência. A outra questão se coloca, tem haver com trazer sala condigna e custa caro. O som, até hoje é o calcanhar de Aquiles para os produtores porque temos poucos técnicos, temos poucos engenheiros e temos poucas empresas que prestam serviço de qualidade.
Sala, som e marketing, considero que são os factores principais para você realizar o teu evento. Voltando as questões financeiras, o povo pede qualidade mas não quer pagar um preço justo. Por exemplo, a Monumental tem o programa Canções da Alma e o nosso preço é quatro mil kwanzas. Claro, temos tido muitas reivindicações, mas nós sabemos porquê que cobramos quatro mil. Porque o custo de produção é muito elevado.
A Monumental tem recebido bom feedback dos eventos que realiza?
Temos sim. Nós temos um conceito, nos preocupamos com o rigor e a excelência. Modéstia a parte, é importante que as produtoras fidelizem o seu público e nós temos um público fiel a Monumental, que sabe que nós preparamos um evento de A a Z. Nós concordamos que o nosso Deus é de excelência, exige respeito e o respeito é naquilo que nós fizemos: trazer eventos com qualidade. Quanto a isso não temos tido problemas com o público.
Qual é a meta da Monumental?
Quando criamos a Monumental, o objectivo foi o de trazer a excelência. Nós temos muitas metas por isso é que dissemos que a Monumental sozinha não vai conseguir. A nossa meta (principal) é dignificar a música gospel. Como? Que todos os eventos realizados em Angola, tenham qualidade. Qualidade internacional. Não só eventos realizados pela Monumental. Dois, que o músico gospel e todos os fazedores da artes sejam respeitados e vivam da música gospel.
Para nós Monumental, isso não é pecado, mas é uma luta que tem de ser conquistada. Desde os músicos, os produtores, os agentes musicais, todo mundo que faz gospel, os que filmam, os que fazem fotografia, os portais, consigam viver da arte. Claro, viver da arte gospel, desde que façam a arte com qualidade.
Hoje ainda temos problemas, quando um músico cobra um cachê, quando um portal cobra um cachê. Temos problemas dos atrasos nos eventos. Não tem hora de começo nem hora de fim, os músicos gospel também atrasam, então, isso nos levou a criar a Monumental. Vamos deixar de criticar e criar uma plataforma que traga uma nova visita. Essa é a luta da Monumental.
A Monumental nos seus eventos negoceia um cachê com os músicos?
Já negociamos, mas não na proporção que gostaríamos porque, estamos a começar e a Monumental não tem ainda patrocinador. Temos apenas 2 anos, vamos equilibrando. Onde conseguirmos honrar com um cachê, nós honramos. Mas como disse, é um processo. Uma coisa que não deixamos de fazer, é respeitar os nossos parceiros. Podemos até não ter dinheiro hoje, mas respeita-los, trata-los com amor, com carinho, é isso que se pretende para a música coisa. Hoje achamos que os realizadores aí da desprezam os músicos gospel. A Monumental não prima por esse caminho.
Já sentiu alguma vontade de outras produtoras em sentar, reunir e discutir o futuro da música gospel, o futuro da produção de eventos?
Não. Também, modéstia a parte, não conheço muitas produtoras. Precisamos ter mais produtoras, mas produtoras que vistam a camisola da excelência porque o nosso Deus é de excelência. Está na forja, queríamos fazer no segundo aniversário – não conseguimos – mas terceiro aniversário da Monumental que será no próximo ano, uma conferência. Onde se debatam esses assuntos sem tabus. E nessa conferência vamos chamar todos, vamos discutir todos.
Já disse, há alas na música gospel. Sinto que também, as denominações religiosas nos separam muito. Cada um tem a sua crença e assim não vamos longe. A Monumental quer, não obstante cada um ter a sua crença, mas o objectivo, o foco é único: trazer a excelência na música gospel.
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