Paz e desenvolvimento para Angola, só com joelhos dobrados e oração sem cessar, afirma a Pastora Filipa Tadeu, líder da Associação de Mulheres Intercessoras para Angola (Mulheres que Lamentam).
Em entrevista ao portal Arautos da Fé, em que falou do trabalho que desenvolve em prol de Angola, a mamã Filipa como também é tratada, disse que o objectivo da associação é interceder a favor de Angola e ela, congrega mulheres de várias denominações e estratos sociais.
Ligada a uma rede de mulheres de 180 países, para 2019, a associação projecta realização de uma conferência nacional e a expansão da sua acção a todas províncias de Angola.
Arautos da Fé: Quando é que começa este movimento de mulheres intercessoras?
Filipa Tadeu: Sempre tive a vontade de crescer, de conhecer e saber cada vez mais sobre Cristo, sobre a oração, porque a minha mãe foi uma mulher muito consagrada a oração. No ano 2002, através do Reverendo David Kossi, recebi o recado que viriam umas senhoras da Nigéria, que eram mulheres de oração. Duvidei, pensei: já passaram por aqui muitas e que decepcionaram-nos. Depois ele falou comigo que eram mulheres muito sérias, mesmo assim fiquei na desconfiança e mandaram-me organizar o acolhimento das irmãs. Organizei com a Igreja IMA, Mão do Oleiro, a CERA, onde estou. Quando elas chegaram, foi aquilo que desejava. Mas antes disso, em 2002 mesmo antes delas chegarem, já no âmbito da reconciliação nacional, entre as mulheres angolanas cristãs, fizemos uma actividade na cidadela, onde pregaram várias mulheres de Deus de destaque e ali também começou a crescer a vontade até que apareceram as mulheres da Nigéria.
AF: O grupo de mulheres que intercedem cresceu?
FT: Sim. Não foi fácil. Haviam muitos combates porque os Pastores não entendiam, pensavam que queríamos fazer outra igreja. Foram muitas batalhas, mas tudo que é de Deus é incombátivel. Deus defendeu a sua própria obra. E nós fomos crescendo, andando, estamos em algumas províncias e também passamos a ir a Nigéria, lá o Senhor começou a lançar-nos mandando em missões. A primeira missão missionária foi a Brazavile, tivemos muito êxito, depois Portugal, fomos a África do Sul, depois novamente a Portugal. Fomos a Bélgica, França, Alemanha, Holanda e temos girado o mundo e as províncias também.
AF: Em Angola o vosso trabalho vai para além das sedes provinciais?
FT: Além de estarmos no centro de Luanda, estamos nos bairros, onde cada uma é chamada a orar a favor do seu bairro. Estamos nas províncias e as províncias transmitirem a missão aos municípios. É assim que nos estamos expandindo. Estamos um pouco limitados financeiramente porque nós vivemos de nós próprias, cada uma dá a sua contribuição, sabe que foi salva para salvar. E nós contribuímos, queremos fazer uma visita ao hospital nos juntamos. Já visitamos várias instituições assim como o Beiral, que é o lar da terceira idade, o lar dos leprosos, o Padre Horácio, a Remar, o lar Kuzola e tantas outras instituições, órfãos e viúvas. Mesmo com as nossas contribuições estamos a pagar o estudo para dois órfãos. O pai faleceu, foi um caimanero e deixou 7 filhos. Tiramos os dois mais velhos para formarem-se e depois formarem os mais novos.
AF: Quais são as principais preocupações do grupo de mulheres intercessoras?
FT: Nós somos Associação de Mulheres Intercessoras para Angola, <Igrejas e nações>. O nosso objectivo é interceder a favor do nosso país e não só. Dos governantes, das famílias, hospitais, dos presos, órfãos e viúvas. O nosso específico trabalho é este: trabalho de solidariedade.
AF: Vocês têm um calendário de encontros?
FT: Todas as terças e quintas, nos encontramos. Nós somos muitas, há senhoras que trabalham, não podem vir. Então, temos sessões de orações e vigílias.
AF: O grupo de mulheres que intercedem também olha para os problemas sociais de Angola?
FT: Sim.
AF: Olham para desafios que o país começa a viver como é o caso da homossexualidade que começa a ganhar uma grande dimensão, descriminalização do aborto. Analisam estes problemas, contribuem com ideias?
FT: Nós somos uma associação cristã. E como cristãos, nós conhecemos a Palavra. Baseamo-nos muito nas escrituras. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Homossexualismo, o quê que a Bíblia diz? “Deixará o homem seu pai e sua mãe, para se unir a sua esposa e ambos serão um.”
Acerca do aborto, o quê que a Bíblia diz? “Não matarás.” Nós defendemos estes princípios.
AF: Tem recebido testemunhos do impacto deste trabalho nas comunidades?
FT: Nós temos grandes testemunhos. Nós somos parceiros número um do Estado. Existimos a praticamente 16 anos. E durante os 16 anos, foram muitas experiências que nós ganhamos. Trabalhamos com a nossa querida irmã Cândida Celeste, com o Movimento Nacional Espontâneo, com a doutora Filomena Delgado, com a nossa querida irmã, hoje, ministra dos desportos, Paula Sacramento. Trabalhamos com a doutora Genoveva Lino, trabalhamos com várias entidades que abriram portas para nós. O Governo Provincial de Luanda, as vezes, as ofertas que se dão aos bebés, o primeiro bebê do ano, fomos chamados para poder dar oferta as mães.
AF: Quais são os vossos principais desafios para o ano 2019, já que estamos na recta final do ano 2018?
FT: Viramo-nos muito mais para as províncias de Angola. Porque nós, estamos preparando uma conferência nacional e depois, virá a internacional. Nós estamos ligados a uma rede de mulheres e estamos em 180 países do mundo. Angola pelo mérito, pelo visão que temos, mereceu um título de honra. Entramos na coordenação dos países africanos. Coordenamos os países de expressão portuguesa, coordenamos os países américo latinos. Por isso é que nós organizarmos há 3 meses, a conferência dos PALOPs em São Tomé e Príncipe, que foi um sucesso, foi uma bênção. Demos a conhecer ao nosso governo, demos a conhecer o nosso embaixador em São Tomé. Porque nós preparamos em quase 2 nos, primeiro foi camarada Panda como embaixador, depois saiu e fomos a procura do camarada Pombo. Graças a Deus correu bem. Agora estamos a nos preparar para o grande desafio: as províncias de Angola.
2017 e 2018, tendo em conta o aperto que tivemos, fez com que tivéssemos muita dificuldades.
AF: Têm recebido apoios do Estado?
FT: Não temos recebido apoios do Estado. Mas pessoas que têm vivido a mão de Deus neste lugar, dão a sua contribuição. Nós não pedimos, mas as pessoas são tocadas pelo Espírito Santo. Temos a contribuição da renda, todo mundo sabe que temos que pagar a instalação onde nós encontramos anualmente. Como não somos igreja, segundo o estatuto nosso, não podemos pedir dízimos, mas dons voluntários.
AF: Que mensagem endereça as mulheres angolanas?
FT: Dediquemo-nos muito a oração. Angola precisa de oração. Muitas vezes, as pessoas pensam que oração é ir a um lugar, chamar as pessoas e dizer vamos orar. Não.
A Bíblia diz: “orai sem cessar”. Se queremos ver o desenvolvimento do nosso país, a paz no nosso país, orai sem cessar. Não é orar uma vez por ano quando nos encontrarmos. Devemos orar sem cessar.
MINISTÉRIO
AF: Quando é que sentiu esse chamado para servir o Senhor?
FT: Quando tinha os nove anos, na IECA, província de Benguela, Lobito, Canata, apareceu um missionário americano que me viu a dirigir o culto da escolinha dominical e disse que queria falar com os meus pais. Falou com os Pastores e no fim chamaram a minha mãe porque o meu pai já não estava em Angola. Era político e estava fora do país. Disse que eu tinha um chamado de Deus muito grande e que ele queria levar-me para a América para ajudar na minha formação. Mas a minha mãe disse que tinha de falar com os familiares do meu pai, eles não concordaram. O missionário ofereceu-se para pagar os meus estudos e durante nove anos patrocinou os meus estudos. Na era colonial, pediram a conta de um senhor que foi padrinho da minha irmã e ele passou a mandar dinheiro para mim. Antes dele ir, orou para mim e disse que eu seria uma grande missionária, que iria pregar a Palavra não apenas em Angola, mas na Europa e pelo mundo. Trinta e tal anos depois a profecia cumpriu-se.
AF: Como é o ambiente familiar da mama Filipa?
FT: Nos primeiros anos não foi fácil abandonar a casa, a família, a nação. Na medida em que o tempo foi passando, fui me habituando, o marido e os filhos foram se habituando e porque depois, na medida em que as coisas foram se apertando, recebi a mensagem de Deus através do profeta David. Ele chamou o meu marido, conversou com as minhas filhas e disse que a partir do próximo ano vocês terão muito pouco tempo com a vossa mãe porque Deus irá girar com ela, não apenas em Angola, mas em diversos países do mundo.
AF: Tem recebido apoio da família?
FT: Muito apoio.
AF: Sente que o trabalho que faz para levar bênçãos a outras famílias tem sido recompensado em sua casa?
FT: Tem sim. Deus é justo e fiel. Ele disse, vos me servireis e eu abençoarei o vosso pão e a vossa água. Não tem faltado nada em minha casa graças a Deus. Deus me tem surpreendido em muitas coisas e sobretudo, pela saúde que é um dom que vem dele. Estou aqui, praticamente nunca fui para a um hospital. Deus tem sabido proteger a minha casa, a minha família e é uma graça.
AF: É mãe de quantos filhos?
FT: Tenho duas meninas muito lindas. Dois rapazes faleceram.
AF: Tem alguma filha que compreende essa visão, esse chamado e quer seguir?
FT: Para ser sincera, elas ficam nervosas as vezes, não gostam de orar. Mas como recebi isso da minha mãe, mesmo em casa da minha mãe éramos obrigadas a orar, porque nós crescemos pela fé. O meu pai foi um político, ele foi o fundador da UPA-FNLA na província de Benguela, no entanto, depois teve de desaparecer de Angola e nós crescemos sem ele. O que seria de nós se não orássemos? Todos os dias as 5 da manhã até as 6, era oração em casa.
As minhas filhas as vezes pensam que estão num outro mundo, não. Eu puxo-as para o meu mundo, mas na medida em que elas estão crescendo, agora são mães, estão entendendo a importância da oração.
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