Casa cheia, pessoas em pé e outras regressando para casa, por falta de espaço. Dentro da sala emoções ao rubro, fora, a tristeza de quem não teve a oportunidade de entrar. Esta é a fotografia que se pode fazer do concerto realizado ontem, pela Monumental Gospel, no Royal Plaza Hotel, em Luanda, que teve o Coral Estrela da Paz, como principal atrativo.
O evento preparado com rigor para quebrar certa rotina de atrasos e desorganização, que se verifica em vários eventos de música gospel, tinha no cartaz os nomes de Beth Mambo, Gonçalves Diogo, Dodó Miranda, Nsimba Reoboth e Guy Destino.
A margem do concerto, Fungamesso Xalita, membro da organização, fez balanço positivo e destacou a participação do público que chegou a pedir por mais.
“Há a imagem de que, o que é gospel, o que é da Igreja deve ser a qualquer hora, não se respeita os convidados e tudo mais. Mas, para aquilo que é a organização da Monumental Gospel, fizemos tudo para cumprir. Anunciamos que abriríamos as portas as 15 horas e começaríamos a sessão fotográfica, assim aconteceu. Também dissemos que o concerto iria começar 16 horas pontualmente, fizemos um esforço e aconteceu. 16 horas em ponto o primeiro músico estava em palco e o programa estava a começar.” Disse.
Fungamesso, realçou, durante a entrevista que concedeu ao portal Arautos da Fé, que a Monumental Gospel está a trabalhar com vista a mudar a forma como músicos e o público olham as actividades de música gospel e para a oferecer maior qualidade.
A aderência ao evento que terminou por volta da 19 horas como previsto, foi grande, que algumas pessoas ficaram em pé e outras que chegaram tarde, porque pretendiam comprar os ingressos na porta, tiveram de regressar com os seus valores monetários.
“Já não tinhamos ingressos e ainda assim a sala já estava lotada. Então, apelo também aqui ao povo, para termos o hábito de adquirir os ingressos com alguma antecedência, porque houve quem voltou mesmo. Chegou a porta e não tinha mais ingressos e a sala já estava cheia.”
Novo paradigma na organnização de eventos gospel
Segundo Fungamesso Xalita, a produtora Monumental Gospel, se propós a trabalhar para a mudança de paradigma, no que a realização de eventos gospel, diz respeito.
“Essa questão de que é gospel, está marcado para as 16 horas, mas vai começar as 17, eu posso chegar e comprar ingresso na porta; aos poucos queremos mudar e reeducar as pessoas. Se a Bíblia diz que o povo perece por falta de conhecimento, nós estamos a passar conhecimento, estamos a passar informação. E diz mais, façai tudo decentemente e com ordem. Quer dizer que o povo cristão deve ser um povo organizado.”
Por uma questão que considerou de respeito, não citou nome, mas revelou, que fruto desses novos ventos de organização, um dos convidados não subiu ao palco do Royal Plaza, por ter chegado com muito tempo de atraso. “Só por uma questão de respeito não vou dizer o nome do músico, mas há um músico que estava em cartaz e foi convidado, não cantou infelizmente, não foi por nossa vontade. É que nós combinamos com ele as 16 horas e ele chegou com 1 hora e 17 minutos de atraso. Nós recebemos o músico e o colocamos na sala de espera. Desculpamo-nos, mas infelizmente em função do programa, esse músico já não se apresentou. E é um músico conceituado não vamos dizer o nome por uma questão de respeito e idoneidade.”
A reportagem do portal Arautos da Fé que esteve no local, soube de uma fonte, que trata-se do músico Nsimba Reoboth, que esteve na mesma tarde, a cantar noutra actividade. A fonte, indicou que por razões de agenda, o músico Guy Destino, que estava no cartaz, não se fez ao local do evento. Adiantou também, que o gospel precisa de mudanças e é oportuno começar a corrirgir “certos males” que impedem o seu desenvolvimento.
Novos projectos
O Coral Estrelas da Paz, já trabalha na gravação de uma obra discografica, que poderá ser apresentada ao público, em 2019. Fungamesso Xalita, informou que o trabalho já se encontra num estágio avançado e só por uma questão de agenda, não pode ser apresentado este ano.
Já a Monumental Gospel, avançou, prepara para o dia 11 de Novembro, o primeiro concerto da carreira artistíca do músico evangélico Dodó Miranda.
“Vai acontecer no Cine Atlântico e aproveito para apelar as pessoas para a fazerem um esforço de chegar cedo, porque tal como fizemos aqui, no Royal Plaza, para o concerto do Dodó Miranda, a Monumental está a fazer tudo para termos as coisas organizadas a tempo e hora.”
O coral é uma grande escola
A cantora evangélica Beth Mambo, afirmou a reportagem do portal Arautos da Fé, que o coral é uma grande escola, principalmente, para quem descobre e entende que tem um chamado de Deus.
A artista, que além de estar ligada ao Coral Monte Sinai, leva uma carreira a solo, revelou que 80% do que é hoje, é “é fruto do Coral Monte Sinai.”
Hoje, considerou, há mais valorização e os corais que existiam naquela altura, já compreendem que precisam trabalhar mais.
A cantora lembrou, que antigamente, os grupos corais por “conta da doutrina religiosa” cantavam mais acapela, mas que, nos nossos dias, já se vê corais a cantarem com bandas, o “que era muito difícil”.
“O nosso Deus é um Deus de excelência e tudo que formos a fazer, desde que não escandalize e se for para honra e glória do Senhor, eu acho que nós podemos e devemos aproveitar.”
Está aí o Coral Estrela da Paz, exemplificou, que é um coral evangélico pentecostal, mas parece mais um coral metodista. Porque, justificou, “a vertente que eles assumiram agora, quem conhece os corais metodistas, vai logo associar a isso. Mas acredito que é interesse dos próprios líderes desses corais em evoluir, em levar mais conhecimento para os coristas, no fundo para agradarem a Deus e os amantes da música.”
Fraca visibilidade dos corais
O músico Xavier Viegas, acredita que as Igrejas ainda não deram conta que há necessidade de “tirarmos” os corais da Igreja para levar a Palavra fora, daí a fraca visibilidade dos mesmos.
Para ele, cabe as lideranças, compreenderem esta visão e incentivarem mais. “Como ainda temos aquela defesa do que é da nossa congregação, limita um bocadinho os corais irem realizar concertos fora. Mas há muitos por aí, também a realizarem (concertos), só que internamente.”
O líder do grupo JTS, cré que da parte do corais há vontade de sair dos quatro cantos da igreja. “Há e sempre haverá, mas é necessário que os pais deixem os filhos saírem, para transmitir aquilo que eles mesmo ensinaram.”
Mais qualidade
Para o músico Gonçalves Diogo, que creceu no Coral Monte Sinai, o trabalho que os corais desenvolvem, tem melhorado significativamente.
“Há um tempo, fazíamos alguns concertos com menos qualidade, com menos alegria, com menos qualidade sonora”.
Mas agora, observou, nos eventos que se têm realizado, como o do Coral Estrela da Paz, já se pode ouvir um bom som, o que é de louvar.
“Estamos agora a trazer um louvor com excelência. As pessoas agora estão mais preocupadas a fazer bem o que é para Deus.”
Sobre o número reduzido de grupos que se notabilizam, o músico entende, que falta oportunidade a alguns.
“Nós na verdade, temos muitos grupos corais. O que acontece, é que a maioria dos grupos corais são congregacionais ou seja, estão cativos nas igrejas, não saem para fora, não têm oportunidade de se expandir conforme os outros coros têm, como o Coral Monte Sinai, Coral a Graça e outros coros que já conhecemos.”
Gonçalves Diogo, pensa que o apoio dos meios de comunicação, é fundamental para a viragem do quadro. “Precisamos é mais divulgação, mais abertura, para a media, mais espaços para a divulgação da música, mais oportunidades nas rádios, na televisão, para que se conheçam esses grupos.”
A falta de patrocínios, foi indicada pelo músico, como outro obstáculo com que se deparam os grupos. “Há muitos coros que cantam muito bem, mas por causa da falta de apoios, de abertura, esses coros continuam guardados.”
Menos disponibilidade para cantar no grupos
Dodó Miranda, uma referência da música angolana, forjada num grupo coral, disse a reportagem do portal Arautos da Fé, que no seu tempo, os coristas eram mais disponíveis.
“São tempos diferentes, nós precisamos compreender que estamos noutra realidade.” Hoje, disse o cantor, devido a conjuntura, por causa das ocupações e de muitas situações, o tempo de preparo reduziu.
“No coro em que fui maestro durante muitos anos, desde a minha infância, nós ensaiavamos 5 vezes por semana.” Recordou.
“Claro que, também estamos numa era em que a mente das pessoas está muito mais evoluída e as pessoas conseguem acatar um pouquinho mais acelerado do que naquela altura. Razão pela qual vamos notar que as crianças hoje cantam muito cedo.” Reconheceu.
Segundo Dodó Miranda, naquela altura as pessoas tinham mais empenho e a performance vinha em função disso. Actualmente, considera, não é só o empenho que funciona. “Precisamos de empenho, sabedoria e técnicas para fazer com que a obra fique pronta em pouco tempo.”
“Os tempos são outros e eu fico muito feliz em ver coros que estão a apresentar bom trabalho nos tempos de hoje, porque não é fácil.”
“Deserção” de músicos dos corais
Xavier Viegas, pensa que as “deserções” são potenciadas pelo facto dos músicos terem menor possibilidade “sobresairem” quando estiverem em grupos numerosos. “Muita gente tem se afastado dos corais para fazer carreira a solo, isso porque na carreira a solo ou em grupo com número reduzido, há mais chances de sair.”
Beth Mambo, entende que “existem níveis espirituais” e a vida com Deus, reflete isso. “Chega uma altura em que você tem algo dentro do teu coração e você quer mostrar ao mundo.”
“Se você não sair do coral, dificilmente vais conseguir fazer isso. Não estou a dizer sair da Igreja, atenção! Estou a dizer, fazer um trabalho para além do coral.”
A cantora que divide o tempo fazendo carreira a solo e participando no Coral Monte Sinai, disse que respeita, quem decide abandonar determinado grupo. “Quem sai completamente, eu também respeito, porque não é fácil gerir uma carreira a solo. Mas quem consegue ainda conciliar coral e a carreira a solo, Amém.”
Dodó Miranda, respeita quem decide seguir carreira a solo, mas entende que em grupo, seria melhor.
“Claro que hoje, há a necessidade da música evangélica, se tornar também obra de arte. Por isso estamos a ver o surgimento de vários artistas a solo. Porque a arte, tem um pendor muito elevado e nós queremos aproveitar isso para evangelizar. É simplesmente isso. Senão, na minha ótica, minha opinião pessoal, a música ainda continua e continuaria a ser no plural e não no singular. É muita gente que tem de trabalhar para uma obra e não uma pessoa.”
Apelo a unidade no seio da classe
Celso Mambo, outra referência da música angolana forjada num grupo coral, destacou durante a reportagem do portal Arautos da Fé, a unidade que deve haver entre os músicos cristãos. “Nós somos cristãos, quão bom e quão suave, é que os irmãos vivam em união.”
Mambo, afirmou que sempre que tem oportunidade, participa num evento de um colega. “Hoje a minha agenda deu para enquadrar esta actividade. E olha, estou muito feliz, saio daqui com o coração preenchido. Bom saber que a música gospel, graças a Deus, já está a ir para salas que outrora, era quase impensável.” Destacou.
“Tenho dito, o nosso Deus é um Deus de excelência e para o nosso Deus temos que fazer melhor.” Exortou.
O músico felicitou o Coral Estrelas da Paz, “principalmente pela ousadia” de ter realizado um concerto a este nível e reconheceu que não é fácil, “atendendo a conjuntura financeira” realizar evento do género.
“Mas eles não olharam meios, nem fins, para estarem aqui hoje a nos proporcionarem uma tarde e uma noite também, bastante agradável, a ouvir música de salvação.”
Sobre o facto de poucos músicos se disponibilizarem a participar de actividades de outros músicos, quando não são chamados para cantar, de não comprarem ingressos e CDs, Celso Mambo, apontou a educação como causa do “problema”.
“Isso é tudo uma questão muito pessoal e as vezes viemos de famílias completamente diferentes onde não se nutriu o amor ao próximo. Porque começa na família, então eu olho muito para a base família, mas do que do ser, músico gospel”.
Para o músico, há valores que devem ser passados pela família, muito cedo. “A própria Bíblia diz, instrua o menino no caminho em que deve andar. Alguém que não está habituado a ajudar, a amar o próximo, quando crescer não terá referenciais.”
“Eu penso que é nossa missão também, apelar para que outros artistas, sigam o mesmo exemplo. Porque nós, somos todos uma família e todos unidos, vamos vencer.”
O músico apelou aos colegas, para participarem nos eventos, sempre que as suas agendas permitirem. “Quando possível, apareçam, partilhem o evento dos outros.” É curioso, disse, alguns músicos não apoiam os colegas, mas quando têm um evento, pedem ajuda para divulgação da publicidade do seu evento.