A última semana, foi marcada pela denúncia de mais uma adolescente, que se diz vitima de abusos sexuais do pastor responsável pela Igreja Nova Jerusalém, localizada no distrito Urbano da cidade universitária em Luanda.
Só neste ano, 2 pastores foram condenados por abusarem sexualmente de menores e outros investigados por suspeitas de cometerem crimes.
Em Janeiro, o pastor da Igreja Ministério de Alsadam, no Cunene, Cornelius Simon, de 42 anos de idade, nacionalidade namibiana, foi condenado a 10 anos de prisão maior pelo Tribunal Provincial por abusar sexualmente de três das quatro meninas crentes que viviam na sua residência. Em Agosto, a 13ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda condenou, a 12 anos de prisão maior, João Pedro Maria, 44 anos, pastor da Igreja Pentecostal Efatá por ter violado sexualmente uma menor de 14 anos, crente da mesma.
Desde Março, está detida em Luanda, a pastora e empresária, Celeste de Brito do antigo Ministério Aleluia Angola, suspeita da prática dos crimes de falsificação de documentos, burla por defraudação e associação de malfeitores, num caso amplamente divulgado pela imprensa nacional.
Amiúde, fala-se do envolvimento de outros “homens e mulheres da Palavra” em práticas que contrariam os princípios por eles ensinados nos púlpitos.
Medo de represálias, vergonha, podem estar na base da fraca cultura de denúncias, sobretudo para situações que ocorrem dentro das comunidades religiosas. Há também a destacar o medo de sofrer alguma maldição familiar, já que muitos pastores dizem ser homens de Deus, com poderes sobrenaturais para abençoar ou amaldiçoar.
O receio de prejudicar a imagem da instituição a que pertencem, pode, ter influenciado outros líderes religiosos e mesmo fiéis, a guardarem silêncio sobre práticas indecorosas de que tenham conhecimento.
Falta de literacia jurídica, fraco conhecimento da Bíblia, da parte dos fiéis, pode também ter potenciado o crescimento de pastores com más condutas.
Muitos deles, passam mais tempo a falar dos seus “milagres” e das suas realizações pessoais, do que a ensinar a Palavra de Deus. As suas audiências são formadas maioritariamente por pessoas pobres e pouco instruídas, que buscam caminhos para resolverem os seus problemas. Se tivermos em consideração que a maioria dos angolanos estão relegados a uma condição de pobreza, veremos que não faltarão espectadores para os cultos destes “milagreiros”, transformados em shows.
A mensagem da Igreja cristã, que já enfrenta muitos desafios, vai ficando desacreditada a medida que mais pastores forem apanhados na contramão.
Os casos mediatizados, envolvendo pastores, devem levar à uma mudança de paradigma, tanto as lideranças religiosas, como as instituições do Estado.
Das lideranças religiosas exige-se uma postura diferente, sobretudo em ralação a protecção das crianças e de pessoas em situação de vulnerabilidade, que procuram a Igreja, sob pena de poderem vir a serem acusadas de cumplicidade. Especulações dentro de uma comunidade religiosa, sobre a prática de determinado acto ilícito, devem merecer investigações sérias para se apurar a verdade, credibilizar o trabalho da igreja e conservar a fé dos membros.
Do Estado, exige-se mais investimento na educação, nos serviços de justiça e na melhoria da condição sociais, porque muitos crentes que também são cidadãos, vêm a igreja, como última alternativa para a resolução dos seus problemas de saúde, financeiros…