Proposta de lei sobre liberdade de religião longe do consenso

O conteúdo legislativo da proposta de lei, sobre a liberdade de religião, crença e culto, continua a suscitar posições que se mostram distantes de serem consensuais. Desta vez a controvérsia tem como pano de fundo, o artigo 25 e os seus primeiro e terceiro pontos, sobre o idioma das actividades de culto. O ponto um do referido artigo, sugere que as instituições e comunidades religiosas legalmente reconhecidas em Angola, devem praticar seus cultos em língua portuguesa, podendo utilizar além da língua oficial, outras línguas nacionais de Angola.

liberdO membro do Concelho de Igrejas Cristãs em Angola(CICA), pastor Vladimir Agostinho, considera incorreto, instituir-se tal princípio. “As línguas da nossa terra não devem ter restrições de se falar num culto e isso contradiz com o processo de ensinar as línguas nas escolas, para resgatarmos então a cultura angolana. A experiência da Namíbia e África do Sul, para não dizer de outros países que já passámos, não existem restrições com relação as línguas nacionais.”

O sociólogo Paulo Ganga, se juntou a posição do CICA, considera retrocesso o artigo em questão. “É um erro que embora já se tenha verificado na constituição da república, a partir do momento que reconhece a língua portuguesa como a única oficial em Angola, deve ser revisto neste anteprojecto.”

“Porque a partir do momento que em 2010 constituição instituiu a língua portuguesa com a única língua oficial de Angola, já regredimos, porque nós não devíamos ter apenas uma língua oficial, devíamos ter várias, portanto essa ideia de termos apenas uma língua oficial e as outras línguas nossas, precisam pedir autorização, é uma aberração. E de facto este é um retrocesso, mas como estamos a discutir e ainda bem que o CICA, está atento a isto e já colocou essa questão, é importante que os órgãos competentes do estado possam ouvir.

No entanto, nem todos se revêem neste diapasão. O jurista Pedro Chilikuesi, pensa que o espírito do artigo traduz-se no reforço da unidade nacional. “Por causa do nosso mosaico cultural linguístico, aquilo que nos congrega a todos, que todos bem ou mal falam é o português.”

Embora reconheçam existir, bíblias, dicionários, gramáticas e outros livros em línguas como o umbundo, kikongo e o kimbundu, bem como a duplicidade linguística, durante as celebrações religiosas em determinadas regiões do país, com vista a facilitar a percepção dos diferentes destinatários das mensagem , em debate os intervenientes contestam por outro lado, a tradução obrigatória em português dos cultos ou cerimónias religiosas, realizadas em outras línguas como proposto no número 3 do artigo 24 do anteprojecto.

“Se estivermos na França, vamos falar francês, não queremos saber se aquelas pessoas estão a entender francês, quando chegarmos lá teremos de falar francês. Agora, nós não podemos fazer da língua portuguesa o elemento de mediação das nossas populações, porque isso até é contra o espírito da independência, nós quando fizemos a luta de libertação, a ideia central era resgatar os nossos valores, era fazer das nossas línguas, principais. Portanto o português já é uma língua nacional, faz parte da nossa cultura, mas não deve ser a única, porque isso vai contra a nossa população, nós cantamos, oramos, pensamos em língua nacional.” Afirmou Paulo Ganga.

Fonte: R. Ecclesia

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