Uma criança perdeu a vida por falta de sangue no hospital. Uma jovem precisa com urgência de sangue. Relatos como estes, são muito frequentes.
Falta sangue em muitas unidades hospitalares, que em muitos casos, é a componente necessárias para salvar vidas.
O número de doadores de sangue em Angola -dados recentes indicam que o país tem mais de 28 milhões de habitantes- não chega a 1% da população. “Não satisfaz. Porque, cumprindo com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1% da população deveria ser doadora de sangue”, explica a Directora do Instituto Nacional de Sangue (INS).
Em 2017, em todo país, o Instituto registou 151 mil doadores, dos quais, mais de 80% familiares de pacientes. “A Organização Mundial da Saúde orienta, que seja doação voluntária. 100% das pessoas que doam sangue, deviam fazê-lo de forma voluntária, ou seja, dar de livre e espontânea vontade e não porque têm alguém que precisa de sangue”, diz Deodete Machado.
Diz a médica, que todo cidadão deveria ter a consciência de que nos hospitais existem pessoas que precisam de sangue e “nunca vir atrás pelo facto de ter um doente, alguém que numa cama de hospital padece”.
Longe de cobrir às necessidades
Só a província de Luanda, precisa mais de 200 unidades por dia e o Instituto consegue colher apenas 70/dia. Número insuficiente, considerando a crescente demanda. “Aqui no Instituto, abasteço directamente a pediatria e a oncologia. Todas as outras unidades colhem.” Esclarece.
Entre os pacientes que acorrem as várias unidades hospitalares, um grupo definido é o que mais precisa de sangue. Crianças com malária, com anemia, pacientes com anemia falciforme (drepanocíticos), com cancro, com insuficiência renal, vítimas de acidentes de viação e grávidas com anemia severa.
Movidos de compaixão
O país precisa de no mínimo, 300 mil dadores voluntários e regulares para minimizar a carência de sangue nos hospitais. O alcance desta meta, conta, também, com a ajuda de várias Instituições religiosas que já têm trabalhado com o INS, na sensibilização da população, em particular dos seus fiéis.
Adventista do 7 dia, Cristã Evangélica de Angola, Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Evangélica Congregacional de Angola, JOSAFAT, Universal do Reino de Deus, Metodista, Baptista Cristo Rei, Evangelho de Jesus Cristo, Católica, Baptista de Angola e Igreja de Deu Sociedade Missionária Mundial.
CONICA, União da Igrejas Evangélicas de Angola, Conselho de Igrejas de Reavivamento de Angola, Núcleo de Doadores da Paróquia de São Mateus, Núcleo de Doadores da Paróquia de São Pedro e o Secretariado Arquidiocesano da Juventude.
Entraves
“É preciso que se fale cada vez mais, as pessoas têm que perceber que não há sangue disponível nos hospitais e que o sangue só é doado por humanos”, apela a Directora Deodete Machado.
Se de um lado religiosos se movem de compaixão e incentivam a doação, num outro, questões religiosas impedem que outros religiosos, se submetam a transfusões de sangue. Situação para qual, o INS nada pode fazer. “Mas existe uma lei, que acredito já tenha sido remetida à Assembleia Nacional. O grande objectivo desta lei, é defender aquelas pessoas indefesas na cama, as crianças, as pessoas em coma, que se calhar o sangue é o tratamento indispensável para eles naquela altura.” Revela a Directora.
Uma “dadiva”, a qual depende da vontade dos sujeitos, não podendo ser obrigado a ninguém, explica um jurista. “A única possibilidade que pode ser usada como fundamento para que os profissionais de saúde possam submeter pessoas à transfusões, contra as suas vontades é o dever de protecção da vida enquanto um bem jurídico superior à liberdade, embora, em regra, deve ser feito com o consentimento do doente ou parentes.” Esclarece.
A par das questões religiosas, desconhecimento, mitos e outras crenças, constituem entrave ao cumprimento das metas desejadas. Um artigo recente, intitulado “Angola tem baixa média de dadores de sangue” de Eurídice Vaz da Conceição, publicado no portal Angop, ilustra bem isso.
<Vânia Santos, funcionária pública, não aceita doar sangue, porque teme adoecer.
“Já tive situações familiares em que precisavam urgentemente de sangue, mas por receio não consegui colaborar”, disse, afirmando que já esteve perante muitos casos de vida ou de morte, e ainda assim não doou sangue para ajudar a salvar vidas.
“Acho que ao dar sangue poderei ficar doente ou perder todo o sangue do corpo, Por isso não encaro este desafio”, expressa.>
A médica Sílvia Santos, citada no artigo em referência, deixa uma mensagem de encorajamento e afirma que a doação de sangue no país ainda é cercada de “mitos”.
“Infelizmente, ainda existem alguns mitos em relação à doação de sangue. Muitos não aceitam receber, porque acham que podem contrair doenças.
A especialista explica que há pessoas que acreditam que, se doarem uma vez, terão de doar sempre, enquanto outras acham que doar sangue engorda. “É preciso desfazer esses mitos e informar a população sobre os benefícios da doação”, recomenda.