Padre faleceu aos 96 anos, no convento de São Domingos em Lima. Obra sobre engajamento em prol dos pobres influenciou nomes como Leonardo Boff e deu origem às comunidades de base, ideia que segue viva na América Latina.O teólogo e padre peruano Gustavo Gutiérrez morreu nesta terça-feira (22/10), aos 96 anos, em Lima. Daqui a 50 anos, quando alguém se perguntar que figura influenciou decisivamente a teologia na segunda metade do século 20, com certeza escutará o nome do “pai” da teologia da libertação.
Outros religiosos, como o brasileiro Leonardo Boff, são talvez mais conhecidos. Porém também as obras deles se baseiam no esboço sistemático desse pioneiro, que levou a sério, do ponto de vista teológico, a pobreza de amplas parcelas da população latino-americana.
Nos anos 1950 e 1960, em que o empobrecimento de amplas parcelas da população crescia de forma crassa, a abordagem de Gutiérrez era “refletir, no sentido da realidade e do Evangelho”, tanto a situação dos pobres e párias, quanto a prática pastoral da Igreja.
“Como dizer aos pobres ‘Deus vos ama’? Essa é a questão mais significativa para o nosso mundo de hoje. Impossível respondê-la. Mas parte da resposta é viver com os pobres, tornar-se um deles”, frisou certa vez. Onde quer que lecionasse, ele voltava com frequência aos bairros pobres do Peru, lá estava em casa. Seu forte não era a interconexão global da teologia, mas sim encontrar o lugar dela em meio aos habitantes das favelas latino-americanas.
Para o religioso morto aos 96 anos, por mais crítica da sociedade que fosse, a teologia partia sempre “do coração da Igreja”, sendo, ao mesmo tempo, a “resposta à realidade societal”.
Uma de suas virtudes era a capacidade de duvidar. Assim, quase 20 anos após o lançamento de sua Teologia da libertação, teve a grandeza de publicar uma versão “revisada e corrigida”.
Nascido em 8 de junho de 1928 em Lima, numa família modesta, e após uma enfermidade forçá-lo a passar diversos anos numa cadeira de rodas, o jovem Gustavo Gutiérrez estudou primeiro medicina, depois psicologia, filosofia e teologia, nas universidades de Leuven, Bélgica, e Lyon, França. Pouco a pouco amadureceu sua determinação de tornar-se padre.
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