As doenças infecciosas ainda representam uma grande ameaça à saúde pública. A prática de lavar as mãos com sabão surge como uma solução eficaz e acessível. No Dia Internacional da Lavagem das Mãos, o sector da Saúde lembra às pessoas que um gesto simples pode ajudar a salvar vidas, especialmente em comunidades mais vulneráveis onde o acesso à água corrente e o sabão é escasso.
A lavagem das mãos não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas também de saúde pública. “A maioria das doenças que afectam crianças menores de cinco anos, como a diarreia, pode ser prevenida com algo tão simples como a lavagem regular das mãos com sabão”, explica Artur Luciano, mestre em Saúde Pública e Coordenador Provincial das doenças Negligenciadas.
Gestos diários como esse, realçou, são muitas vezes subestimados, mas podem fazer toda a diferença no combate de algumas doenças que, em Angola, ainda são causas significativas de mortalidade infantil.
Doenças e o impacto
Artur Luciano explicou que o não lavar as mãos regularmente, principalmente após usar a casa de banho ou antes de manusear alimentos, expõe o corpo a agentes patogénicos que podem causar infecções graves.
“As mãos são um dos principais veículos de transmissão de bactérias, parasitas e vírus”, disse, acrescentando que entre as doenças mais comuns que podem ser contraídas por falta de higiene adequada estão a diarreia e as infecções respiratórias, que incluem desde gripes até a pneumonia.
“Doenças diarreicas são uma das principais causas de morte infantil e são amplamente evitáveis com a prática regular da lavagem das mãos”, avança o especialista.
A diarreia infecciosa, confessou, muitas vezes causada por bactérias como a E. coli ou o parasita Giárdia. Pode resultar de mãos contaminadas que entram em contacto com alimentos ou água.
Outra doença causada pela falta da prática, destacou, é a hepatite A, uma infecção que ataca o fígado e é frequentemente transmitida pela ingestão de alimentos ou água contaminada. “Mãos sujas podem transferir o vírus directamente para o corpo, através da boca, principalmente em ambientes onde o saneamento básico é precário”, explicou.
Para o especialista, muitas das doenças que se combate são amplificadas pela ausência de práticas de higiene adequadas. “A falta de lavagem das mãos, especialmente em áreas rurais e zonas com condições de saneamento deficientes, acelera a propagação de doenças negligenciadas que poderiam ser drasticamente reduzidas com hábitos simples.”
Responsabilidade social
A lavagem das mãos, defendeu, é mais do que uma questão individual de saúde. “É uma responsabilidade social para todos, sendo criança ou adulto. Quando alguém não pratica a higiene, não está apenas a pôr em risco a própria saúde, mas a de todos com quem entra em contacto. Num ambiente de trabalho, por exemplo, uma pessoa pode espalhar germes para colegas, aumentando o risco de contaminação e infecções colectivas”, disse.
As consequências de uma má higiene, realçou, podem ser devastadoras para os sistemas de saúde já sobrecarregados, por doenças evitáveis, como as infecções respiratórias e gastrointestinais. Além disso, recordou, as consequências da má higiene consome, também, recursos médicos valiosos, que poderiam ser destinados a tratamentos mais complexos.
“Prevenir é sempre mais barato e eficaz do que tratar. O simples acto de lavar as mãos pode reduzir significativamente o número de internamentos hospitalares por doenças infecciosas”, sublinhou.
Prevenção e educação
De acordo com Artur Luciano, a educação continua a ser a chave para mudar comportamentos da população e a lavagem das mãos ainda não ser vista como uma prática desnecessária. “Precisamos de campanhas de sensibilização mais abrangentes, que cheguem a todos os cantos do país, desde as zonas urbanas até as áreas rurais. A informação deve ser clara e acessível, para que todos entendam o quão importante é lavar as mãos”, defendeu.
Programas de sensibilização para a higiene, avançou, têm sido implementados tanto em áreas urbanas quanto rurais, com foco especial nas escolas. “As crianças são agentes de mudança poderosos”, disse Renato Gomes, primeiro secretário da JMPLA do Comité de Acção do Partido (CAP) n.º 83, que colabora em campanhas de educação para a saúde nas escolas. “Quando ensinamos às crianças a importância de lavar as mãos, estamos a criar uma geração mais consciente e saudável”.
A JMPLA, referiu, tem trabalhado em várias províncias angolanas, em parceria com o Ministério da Saúde, para levar informações sobre a higiene das mãos nas escolas, mercados e centros de saúde. Em muitas comunidades, destacou, a falta de informação sobre os riscos associados à má higiene ainda prevalece, agravada pela dificuldade de acesso à água potável.
Desafios na implementação
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), estudos demonstram que lavar as mãos com água e sabão pode reduzir a incidência da diarreia em cerca de 40 por cento e as infecções respiratórias em até cerca de 25 por cento. Lavar as mãos, recordou a organização, pode contribuir de maneira significativa para a redução da mortalidade e da malnutrição infanto-juvenil.
Para comunidades como o bairro da Sapu, em Luanda, as fontes de água são distantes e a sua qualidade nem sempre é garantida. Em situações como esta, a lavagem das mãos, uma prática crucial para a saúde, torna-se um verdadeiro desafio.
“Às vezes, temos de escolher entre usar a pouca água que temos para cozinhar ou para lavar as mãos”, conta Joana Alfredo, residente no bairro, que cuida de quatro crianças pequenas. Sem acesso fácil ao sabão, recorre ao uso de cinzas, uma prática tradicional, mas menos eficaz, para a eliminação de bactérias e vírus.
Acto de cidadania
A pandemia de COVID-19 foi um alerta global sobre a importância da higiene das mãos e, em Angola, não foi diferente. “Muitas pessoas começaram a entender a ligação directa entre a higiene e a saúde e a ver como um hábito que precisa de ser reforçado constantemente”, alertou Artur Luciano.
Para o Coordenador Provincial das Doenças Negligenciadas, a prática da lavagem das mãos é um acto de cidadania e responsabilidade social. “Não se trata apenas de se proteger a si mesmo, mas também os outros. Num país com um sistema de saúde sobrecarregado, prevenir é sempre melhor do que tratar”.
Este ano, referiu, o Dia Internacional da Lavagem das Mãos é uma oportunidade para reforçar a importância de manter este hábito simples, mas vital, em todas as comunidades angolanas.
“O lema deve ressoar como um compromisso de cada cidadão, em cada lar, escola e espaço público” defendeu, acrescentando que a consciencialização sobre a higiene das mãos não pode ser apenas um evento anual, mas uma prática diária que, literalmente, salva vidas.
Para Artur Luciano, as mãos limpas não só previnem doenças, como simbolizam a possibilidade de um futuro mais saudável e equitativo para todos.
Fonte: JA
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