Dia Mundial da Visão: Instituto Oftalmológico Nacional de Angola atende mais de 70 mil pessoas em oito meses

A visão desempenha um papel importantíssimo na aquisição de conhecimento, no desempenho das tarefas diárias e, consequentemente, na produtividade de cada um de nós.

Mas para que a mesma seja boa, é necessário cuidar bem dela, porque por trás dos olhos que observam há várias ferramentas, como a pupila, íris, córnea, retina e nervo óptico, que devem funcionar correctamente para que o cérebro assimile as mensagens externas e proporcione uma boa visão.
Por este motivo, o número de pacientes que acorrem ao Instituto Oftalmológico Nacional de Angola (IONA) em busca de solução para os seus problemas de visão tende a aumentar de forma considerável.
A directora-geral do IONA, Luísa Paiva, explicou, em declarações ao Jornal de Angola, que de Janeiro a Setembro deste ano foram atendidos em consultas externas 70.999 pacientes, enquanto em 2023 o Instituto assistiu 64.944 utentes, no mesmo período.
Em relação às cirurgias, Luísa Paiva disse que de Janeiro a Setembro foram operados 6.201 pacientes, ao contrário de 2023, em que se operaram 5.921 doentes.
Sobre a média diária de atendimento, a gestora do IONA informou que acorrem à unidade sanitária cerca de 400 pacientes e, neste número, não estão incluídos os 90 utentes que realizam exames complementares por dia.
Com base nos dados estatísticos, sublinhou, o Hospital Oftalmológico Nacional regista uma média de atendimento de oito mil pacientes por mês.
Todos estes pacientes, realçou, são encaminhados dos vários hospitais do país, com realce para as zonas onde não existe nenhum serviço de oftalmologia.
Por isso, justificou, a lista de pacientes à espera para serem operados no IONA é grande. Actualmente, referiu, estão notificadas 350 pessoas com diferentes problemas visuais.
Deste número, prosseguiu, 200 pacientes vão ser submetidos a cirurgias nos próximos meses. “Com as campanhas internas de cirurgia de catarata e o aumento do número de médicos cirurgiões, a lista de espera está a diminuir”, realçou.
Em relação à média de cirurgias realizadas no IONA, a médica disse que por dia podem ser feitas entre 40 e 50 cirurgias, dependendo da gravidade dos casos.
Enchentes diária
Segundo Luísa Paiva, a solicitação para se ter acesso aos serviços prestados na unidade sanitária tem sido grande, porque, a nível do país, só existem dois centros oftalmológicos de referência, o IONA e o Centro Oftalmológico de Benguela (COB), que fazem quase todas as cirurgias ligadas à visão.
Além destes, disse, há serviços de ofatalmologia em Cabinda, na Huíla (no Hospital Dr. Agostinho Neto) e Uíge, onde existe um centro que trabalha em parceria com algumas Organizações Não-Governamentais.
Outra causa das enchentes registadas no IONA, explicou, são as consultas de oftalmologia e a graduação de óculos. “Isso é errado, porque este hospital é de nível terciário. Ou seja, é para atender os casos mais graves dos problemas de visão”, sublinhou.
As consultas básicas e graduação dos óculos, referiu, podem ser feitas em ópticas e as pessoas precisam de ganhar o hábito de ir a estes locais fazer consultas com um optometrista que, ao notar algo estranho, deve encaminhar os pacientes para algum centro de referência.
Em relação à real capacidade de atendimento do IONA, a directora informou que em 10 anos a instituição passou de 22 mil pacientes para 86 mil. Este aspecto, acentuou, deixa claro que existe uma sobrecarga assistencial elevada, cuja estrutura da unidade sanitária não acompanhou.
A título de exemplo, explicou, no quinquénio 2019-2023, a unidade teve um aumento de 70 por cento nas consultas, ou seja, passou de cerca de 51 mil pacientes para quase 87 mil, assim como no total de cirurgias onde houve um aumento de 100 por cento, porque se saiu de 3.700 para 7.500.
“O hospital já não suporta a quantidade de pacientes que recebe todos os dias. A questão do espaço é o maior constrangimento. Aguardamos por um local temporário, enquanto não for construído o novo Instituto Oftalmológico, cuja previsão é de 18 meses”.
Convénio com outras unidades
Questionada sobre se o IONA tem convénio com outras unidades oftalmológicas no exterior do país, Luísa Paiva respondeu que não. Na maioria das vezes, explicou, os pacientes são encaminhados para a Junta Nacional de Saúde.
“Em relação a esse processo, é preciso realçar que houve uma redução de cerca de 80 por cento de casos enviados ao exterior do país, com patologia oftálmica, devido à melhoria das condições de trabalho e a aposta na formação de quadros em especialidades”, acentuou.
Casos mais comuns
Luísa Paiva explicou que os problemas de visão mais comuns registados no IONA são os olhos secos por falta de pestanejo, causados pela exposição excessiva ao computador, as cataratas, o glaucoma, a conjuntivite, a tensão ocular (tensão alta nos olhos), a retinopatia diabética (diminuição da visão de forma progressiva ou subitamente, quando o nível de glicose está elevado por muito tempo).
Além destas, disse, existem também a degeneração ocular relacionada com a idade, a doença afecta a parte central da retina (área do olho responsável pela formação da imagem), a miopia (quando o paciente observa os objectos que estão perto, mas tem dificuldades de ver ao longe), hipermetropia (quando o olho é menor do que o normal) e presbiopia (vista cansada que se manifesta geralmente depois dos 40 anos).
A médica oftalmológica explicou que a problemática dos olhos secos é que mais afecta as pessoas a nível do mundo, daí que, por mês, o IONA receita entre 500 e 750 colírios de lágrimas artificiais para resolver a situação.
“Este medicamento e tantos outros são dados de forma gratuita aqui no IONA, e raramente temos ruptura de stock. Todo o paciente que vai à consulta externa e os pós-operados levam a medicação, inclusive para o glaucoma, que é extremamente onerosa”, esclareceu.
Aumento de casos 
Sobre o aumento no número de pessoas com problemas de visão, a médica oftalmológica explicou que isto sempre existiu, pois as consultas de visão são as mais frequentes em todo o mundo.
Doenças como cataratas, exemplificou, estão ligadas à idade. “A partir dos 60 a 65 anos, é normal que as pessoas não consigam ver bem as letras pequenas ou colocar linha na agulha, tudo isso faz parte do envelhecimento natural das pessoas. É fisiológico”, disse, além de ressaltar que, embora precisem de tratamento cirúrgico, as cataratas podem surgir em qualquer pessoa, mais cedo ou mais tarde.
 Medidas de prevenção para se ter uma boa visão
Para se ter uma boa visão, Luísa Paiva aconselha as pessoas a evitarem coçar os olhos, ter cuidado com a maquilhagem, remover os produtos de beleza dos olhos antes de dormir, não usar produtos fora do prazo de validade, ou de outra pessoa, usar óculos ou lentes de contacto apenas quando for prescrito por um médico oftalmologista.
Na opinião da médica, ao menos uma vez por dia, deve-se higienizar a área em volta dos olhos, como pálpebras, cílios e cantos, para remover impurezas e secreções secas, irritação ou até conjuntivite, assim como verificar regularmente o nível de glicose no sangue para evitar problemas oculares provocados pela diabetes.
A directora-geral do IONA pede à população a piscar com mais frequência para lubrificar as córneas, usar protector ocular sempre que houver risco de algo atingir os seus olhos, lavar estes com bastante água limpa caso entre qualquer substância, utilizar óculos escuros em ambientes com claridade excessiva e consumir mais peixe, porque este alimento é rico em ômega três e contém vitaminas A, B, D e E, essenciais para a saúde ocular.
Dados mundiais
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem em todo o mundo pelo menos 2,2 biliões de pessoas que apresentam algum tipo de problema de visão. Destas, mais de 285 milhões de pessoas têm incapacidade visual e 39 milhões são mesmo cegas.
Os dados da OMS indicam, ainda, que 80 por cento dos casos de cegueira são preveníveis e poderiam ter sido evitados ou curados se o acesso à saúde ocular fosse para todos.
As doenças oftalmológicas estão associadas a diversos factores, incluindo componentes genéticas, estilo de vida e complicações decorrentes de outros problemas.
Por isso, a OMS adverte que o acompanhamento oftalmológico deve acontecer desde cedo. O primeiro exame deve ser feito à nascença ou entre os 6 meses.
A OMS recomenda, ainda, que as consultas sejam feitas anualmente, porque 90 por cento de toda a percepção sobre o que está ao redor parte da visão.
O Dia Mundial da Visão é comemorado todos os anos na segunda quinta-feira de Outubro e fomenta acções de consciencialização sobre a saúde dos olhos.
A data foi criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com o objectivo de mobilizar corporações, Governos, instituições e indivíduos a se engajarem nas acções em torno da prevenção e tratamento das deficiências visuais e da cegueira evitável.
Fonte: JA

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