Entre os casos mais comuns estão olhos secos por falta de pestanejo causado pela exposição excessiva ao computador, cataratas, glaucoma, conjuntivite e tensão alta nos olhos.
O leitor lembra quando foi a última vez que consultou um médico oftalmologista? Pelos vistos, não. Mas saiba que cuidar da saúde ocular é fundamental, independentemente de ter algum problema relacionado com os olhos.
Porque os olhos são a porta de entrada para o mundo. Por meio deles, recebemos as informações externas que, codificadas pelo cérebro, dão sentido à nossa percepção visual e possibilitam um entendimento sensorial do espaço à nossa volta e a conexão com o mundo.
Para manter todo esse mecanismo a funcionar, é necessário que a saúde ocular esteja em dia. Por trás dos olhos, há várias ferramentas como a pupila, íris, córnea, retina, nervo óptico e cristalina que devem funcionar correctamente, para que o cérebro assimile as mensagens externas e haja um bom funcionamento da visão.
A nível do mundo, os números são muito altos e Angola não foge à regra. O Instituto Oftalmológico Nacional de Angola (IONA) atende, em média, entre 350 e 450 pacientes por dia, em consultas e exames diversos, perfazendo, assim, uma média mensal de oito mil pacientes.
Em declarações à imprensa, a directora-geral do IONA, Luísa Paiva, disse que todos estes pacientes são encaminhados dos vários hospitais do país, com realce para as zonas onde não existe nenhum serviço de Oftalmologia.
Casos mais comuns
Luísa Paiva explicou que os casos mais comuns no IONA são olhos secos por falta de pestanejo causado pela exposição excessiva ao computador, cataratas, glaucoma, conjuntivite, tensão ocular (tensão alta nos olhos), retinopatia diabética (diminuição da visão de forma progressiva ou subitamente, quando o nível de glicose está elevado por muito tempo).
Além destas, disse, existem também a degeneração ocular relacionada com a idade, a doença afecta a parte central da retina (área do olho responsável pela formação da imagem), a miopia (observa os objectos que estão perto, mas tem dificuldades de ver ao longe), hipermetropia (quando o olho é menor do que o normal) e presbiopia (vista cansada que se manifesta geralmente depois dos 40 anos). Luísa Paiva explicou que a problemática dos olhos secos é que mais afecta as pessoas a nível do mundo, daí que, por mês, o IONA receita entre 500 a 750 colírios de lágrimas artificiais para resolver a situação.
Questionada sobre a média de cirurgias realizadas no IONA, Luísa Paiva disse que, por dia, podem ser feitas entre 40 a 50 cirurgias, dependendo da gravidade dos casos. Mas a solicitação tem sido grande porque, a nível do país, só existem dois centros oftalmológico de referência: o IONA e o Centro Oftalmológico de Benguela (COB), que fazem quase todas as cirurgias ligadas à visão.
Além destes, disse, há serviços de ofatalmologia em Cabinda, na Huíla (no Hospital Agostinho Neto) e Uíge, onde existe um centro que trabalha em parceria com algumas organizações não-governamentais (ONG).
Outra causa das enchentes registadas no IONA, segundo a directora, é a procura naquele estabelecimento de uma simples consulta de oftalmologia ou a graduação de óculos. “Isso é errado, porque este hospital é de nível terciário. Ou seja, é para atender os casos mais graves dos problemas de visão”, sublinhou.
De acordo com Luísa Paiva, as consultas básicas e graduação dos óculos podem ser feitas em ópticas e as pessoas precisam ganhar o hábito de ir a estas ópticas fazer consultas com um optometrista que, ao notar algo estranho, deverá encaminhar os pacientes para algum centro de referência.
Números tendem a crescer
A directora-geral do Instituto Oftalmológico Nacional de Angola disse que, em anos anteriores, o número de pacientes com problemas oculares era de 4 mil pacientes por ano, mas, em 2022, subiu para 64 mil e, em 2023, atingiu os 86 mil.
Segundo Luísa Paiva, tudo isso é sinal de que as pessoas já estão a ganhar consciência sobre a importância da saúde visual, daí as enchentes nos hospitais oftalmológicos.
No caso particular do IONA, a directora defendeu que se aumentem as actuais instalações para melhor atendimento dos pacientes. “Apesar de ter quase todos os meios médicos com tecnologia de ponta e medicação para atender os pacientes, precisa de funcionar num espaço maior, porque, aqui onde estamos, já não satisfaz a procura. Os doentes ficam na rua por falta de espaço para acomodá-los convenientemente”, disse.
Questionada sobre o aumento do número de pessoas com problemas de visão, a médica oftalmológica explicou que isto sempre existiu, pois as consultas de visão são as mais frequentes em todo o mundo. Doenças como cataratas, exemplificou, estão ligadas ao avançar da idade.
“A partir dos 60 a 65 anos, é normal que as pessoas não consigam ver bem as letras pequenas ou colocar linha no orifício da agulha, porque faz parte do envelhecimento natural das pessoas, é fisiológico”, disse a especialista, ressaltando que, embora precisem de tratamento cirúrgico, as cataratas podem surgir em qualquer pessoa, mais cedo ou mais tarde.
Crianças com problemas de visão
A directora-geral do IONA referiu-se a crianças com problemas de visão e atirou as culpas aos progenitores. “Os pais têm culpa nisso porque deixam os filhos desde cedo usarem dispositivos electrónicos como telefones e tabletes e ficam muitas horas a jogar, exigindo delas muito esforço visual”, criticou.
Este esforço visual, esclareceu, é causado pela falta de divergência no olhar, fazendo com que os músculos oculares deixem de funcionar devidamente, porque estão constantemente a convergir o olhar. “Logo, a criança começa a desenvolver defeito de visão como estrabismo, embaciamento no olhar, olhos secos, pestanejo e dores de cabeça constantes, fruto da fraca visibilidade”, alertou.
Um dos cuidados a ter é não permitir que crianças que tenham menos de 2 anos usem dispositivos electrónicos. Depois disso, os meninos até aos 5 anos podem usar estes dispositivos durante meia ou uma hora por dia, para evitar que, futuramente, tenham sérios problemas de visão que podem causar cegueira”, aconselhou.
A médica disse ser, igualmente, importante que as crianças, ao nascer, façam o “teste do olhinho” – tal como fazem o do “pezinho” –, para saberem quais as possíveis doenças de visão que têm ou podem vir a desenvolver futuramente.
E mesmo que esteja tudo bem, sublinhou Luísa Paiva, aos seis meses de vida e pouco antes de entrar para a escola, as crianças devem voltar a ser consultadas pelo oftalmologista, evitando assim problemas de visão.
Dados mundiais
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem em todo o mundo pelo menos 2,2 biliões de pessoas que apresentam algum tipo de problema de visão. Destas, mais de 285 milhões de pessoas têm incapacidade visual e 39 milhões são mesmo cegas.
Os dados da OMS indicam, ainda, que 80 por cento dos casos de cegueira são preveníeis e poderiam ter sido evitados ou curados se o acesso à saúde ocular fosse para todos. As doenças oftalmológicas estão associadas a diversos factores, incluindo componentes genéticos, estilo de vida e complicações decorrentes de outros problemas.
Por isso, a OMS adverte que o acompanhamento oftalmológico deve acontecer desde cedo. O primeiro exame deve ser feito a nascença ou entre os 6 meses. Após essa primeira avaliação, é recomendado que as consultas sejam feitas anualmente.
Porque, segundo a OMS, 90 por cento de toda a percepção sobre o que está ao redor parte da visão, que responde em grande medida pela interacção com o meio. É um dos sentidos mais importantes e um dos que mais impacta no dia a dia. “Boa qualidade de visão é boa qualidade de vida”, ressalta.
Por isso, o Dia Mundial da Saúde Visual foi criada pela OMS e a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB) para impulsionar a prevenção da doença e gerar consciência social sobre a importância da prevenção e tratamentos que podem ser aplicados para evitar a perda parcial ou absoluta da visão.
A escolha do dia teve como objectivo alertar a população e os profissionais de Saúde para a importância da prevenção e do diagnóstico de doenças oculares que, se não tratadas, podem levar à perda da visão.
Dicas para proteger os olhos
De forma geral, para se ter uma boa saúde ocular, deve-se evitar coçar os olhos, ter cuidado com a maquiagem, remover os produtos de beleza dos olhos antes de dormir, não usar produtos fora do prazo de validade e de outra pessoa e usar óculos ou lentes de contacto apenas quando for prescrito por um médico oftalmologista.
Ao menos uma vez por dia, higienizar a área em volta dos olhos, como pálpebras, cílios e cantos, para remover impurezas e secreções secas, irritação ou até conjuntivite, verificar regularmente o nível de glicose no sangue para evitar problemas oculares provocados pela diabetes.
Piscar com mais frequência para lubrificar as córneas, usar protector ocular sempre que houver risco de algo atingir seus olhos, lavar os olhos com bastante água limpa caso entre qualquer substância, utilizar óculos escuros em ambientes com claridade excessiva e consumir mais peixe, porque este alimento é rico em ômega 3 e contém vitaminas A, B, D e E, essenciais para a saúde ocular.
Fonte: JA
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