Durante sete dias consecutivos, a Ilha do Sal, em Cabo Verde, foi palco de intensas discussões e reflexões, reunindo centenas de participantes de todo o mundo no Colóquio “Centenário de Amílcar Cabral” e no Festival Literatura-Mundo do Sal 2024. Organizados pela editora Rosa de Porcelana, sob a curadoria de Inocência Mata, os eventos promoveram mais de quinze debates sobre literatura e o legado de Amílcar Cabral.
Márcia Souto, uma das responsáveis pelo evento, compartilhou suas percepções sobre os dias repletos de atividades diversas e enriquecedoras. “Esse ano foi mais desafiador porque o festival já vai na sua sexta edição, mas o Colóquio Centenário foi um desafio maior para nós. Contamos com muitos parceiros e participantes que vieram para conferências e diálogos, o que nos permitiu fazer um balanço altamente positivo,” afirmou Márcia.
Ao destacar a importância de Amílcar Cabral no cenário global, Márcia mencionou que o colóquio abordou suas diversas facetas, desde o político, pedagogo e filósofo até o escritor. “Tentamos fazer essa divisão de assuntos de acordo com a temática, e a Rosa de Porcelana pretende continuar a levar o legado de Cabral a todos, principalmente às novas gerações,” acrescentou.
Gratidão e continuidade
Durante o encerramento do festival, a historiadora e poetisa angolana Ana Paula Tavares refletiu sobre os ensinamentos de Cabral e a relevância de sua figura nos dias atuais. “Grande sentimento de paz e gratidão por ter sido levada através das imensas propostas e desafios aqui apresentados. Retomar Cabral é procurar, através dos seus ensinamentos e poesias, uma forma de voltarmos à prática,” disse Ana Paula.
A poetisa africana de reconhecimento internacional enfatizou a importância de não transformar Cabral apenas em uma figura histórica, mas em um exemplo vivo de conciliação e participação popular. “No momento onde o mundo muda de forma tão rápida e triste, retomar a ideia da participação do povo e do significado das fronteiras é fundamental. Cabral realizou pela primeira vez uma utopia: a ideia de dois países sem fronteiras tradicionais,” destacou.
Ana Paula também comentou sobre a poesia como um instrumento poderoso para a paz, citando o Papa Francisco. “A poesia é uma forma de tocar os corações de todos, “todos” como tem falado o Papa, no caminho de preparação da paz e não da guerra. É um caminho mais fácil de ser usado nas escolas e pode ser mais eficaz para criar uma consciência global de inclusão.”
O impacto na nova geração
Inocência Mata, curadora do festival, expressou a satisfação com o evento e a importância de manter o legado de Cabral vivo para as novas gerações. “Foi gratificante trabalhar mais de um ano na organização. Foram momentos de grande emoção, ouvindo pessoas que conviveram com Cabral e acadêmicos que estudam profundamente sua obra. Cabral não é uma figura conhecida entre os mais jovens, e é crucial que seu legado seja passado adiante,” afirmou.
Inocência Mata ainda ressaltou a importância do contato com os jovens estudantes: “Os professores estiveram aqui e disseram que, na verdade, Cabral não é uma figura conhecida, não é uma figura estudada. E eu acho que é muito importante que Cabral seja do conhecimento dos mais novos, para que a sua memória e ensinamentos não se percam.”
O Futuro do Festival Literatura-Mundo do Sal
Inocência Mata finalizou com uma perspectiva para os próximos eventos:
“No próximo ano, com a celebração dos 50 anos das independências de vários países africanos de língua portuguesa, homenagearemos escritores desses países. Vamos celebrar as independências políticas que custaram suor e lágrimas aos nossos antepassados. É crucial que trabalhemos juntos para consertar as coisas, reafirmando a importância das independências e homenageando os escritores que representam esses valores.”
Detalhes do último dia
No último dia do evento, as atividades começaram com uma mesa redonda sobre concursos literários e a visibilidade autoral, moderada por Márcia Souto e contando com a participação de Cláudio Garrudo, José Joaquim Cabral e Samira Lélis. A discussão girou em torno da importância dos prêmios literários como uma porta de entrada para a consagração junto à crítica e uma possibilidade de inserção nos cânones literários nacionais e internacionais.
O destaque do dia foi o lançamento do livro “No Encanto da Ilha”, de Samira Lélis, vencedor do Prémio Lhana-2023. A obra foi apresentada aos presentes com grande entusiasmo, marcando um momento significativo para a autora e para os participantes do festival.
Um convite ao turismo cultural
A cerimônia de encerramento contou com discursos emocionantes e a presença de diversas personalidades literárias e culturais. Júlio Lopes dos Reis, Presidente da Câmara Municipal do Sal, aproveitou a ocasião para convidar todos a visitarem a Ilha do Sal. “A Ilha do Sal é hoje um centro turístico de referência, situada perto dos continentes europeu e africano, e a apenas três horas e meia do Brasil. É um local de lazer e de contato principalmente com a cultura africana e cabo-verdiana,” afirmou Lopes dos Reis.
Os eventos encerraram com um sentimento de gratidão por parte de todos e com um compromisso renovado de continuar promovendo a literatura e a memória de figuras fundamentais como Amílcar Cabral, reforçando o papel de Cabo Verde como um ponto de encontro cultural e literário no cenário global.
Fonte: VATICAN NEWS
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