O sangue é o bem mais precioso que o ser humano possui, e a decisão de doar constitui um acto de amor e nobreza. Esta acção ajuda a salvar milhões de pessoas que necessitam dele para sobreviver a acidentes, cirurgias e doenças como anemia falciforme, hemofilia, cancro e outras patologias causadoras de anemia grave.
É neste espírito de verdadeiro amor que Cecília Marques e Eduarda Gourgel, ambas dadoras de sangue da “Associação Amor Gera Amor”, se dedicam de corpo e alma, salvando vidas com actos contínuos, sem ter qualquer ligação sanguínea com os beneficiários.
Eduarda Gourgel é dadora de sangue há 10 anos. Antes de fazer parte da Associação, realizava doações juntamente com o grupo da igreja Sagrada Família, onde professa a sua fé cristã. Em 2022, Eduarda decidiu tornar-se membro da associação, para de forma mais regular doar o seu precioso líquido, com o objectivo de ajudar crianças em tratamento no Instituto Angolano de Controlo do Cancro (IACC).
Eduarda conta que, por ser cristã, reflete no sacrifício feito por Jesus Cristo ao dar sua vida para salvar a humanidade, então decidiu tornar-se dadora de sangue para ajudar a salvar o maior número de pessoas possível. Questionada sobre quando pretende parar de doar sangue, Eduarda respondeu que só deixará de fazê-lo quando não tiver mais idade ou condições de saúde para continuar com este acto tão nobre.
“Isso já faz parte de mim e faço três doações anuais, de quatro em quatro meses. Para tal, procuro me cuidar ao máximo, não ter uma vida de risco, me alimentar bem, praticar exercícios físicos e manter boa saúde para oferecer sangue saudável a quem precisa”, disse.
Cecília Marques doa sangue há três anos. Nos dois primeiros, fazia doações de forma individual, mas precisou interromper por questões laborais. Mas, desde que integrou a Associação Gera Amor, em 2023, não pretende mais parar de doar. “Senti-me motivada a voltar a doar sangue quando visitei o filho de uma amiga que padecia de cancro e estava internado no Instituto Angolano de Controlo do Cancro (IACC). Ele precisava de transfusões frequentes devido à anemia causada pela doença”, relata Cecília. Infelizmente, o menino faleceu, o que a deixou profundamente triste e também revoltada.
“Prometi a mim mesma que voltaria a doar sangue de forma regular para apoiar as crianças do hospital oncológico até que eu envelheça ou não tenha mais saúde para doar. Meu gesto tem motivado familiares, amigos e vizinhos a se tornarem também dadores”, salientou Cecília.
Necessidade de mais doadores voluntários
Assim como Eduarda e Cecília, muitos outros dadores voluntários oferecem regularmente seu sangue para salvar milhares de vidas.
Em 2023, o Instituto Nacional de Sangue (INS) registou um total de 127.625 dadores. Destes, 113.696 são dadores familiares e 10.772 são voluntários regulares, de acordo com Deodethe Machado, directora da instituição.
Em declarações à im- prensa, alusivas ao Dia Mundial do Dador de Sangue, Deodethe Machado explicou que o total de dadores familiares corresponde a 83% e apenas 7% são dadores voluntários, cifra bem abaixo da estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a diretora, a OMS recomenda que 100% das doações devem ser voluntárias.
O factor de coagulação e o plasma desempenham papéis vitais na regulação da função hepática, mas vale ressaltar que o componente mais solicitado pelos hospitais são as plaquetas.
Distribuição nas unidades de saúde
Em relação ao processo de distribuição de sangue nas várias unidades de saúde do país, Deodeth Machado informou que, até 2022, o país contava com cerca de 193 serviços de hemoterapia. Porém, com a inauguração de novos hospitais, este número aumentou consideravelmente, acompanhado uma maior procura de sangue.
O Instituto Nacional de Sangue (INS) é o órgão responsável que, diariamente, colhe em média 50 bolsas de sangue, realizando testes para despistar a malária, hepatite A, HIV/AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Segundo Deodeth Macha- do, o INS fornece sangue directamente aos hospitais Pediátrico David Bernardino e ao Instituto Angolano de Controlo do Cancro, pois essas instituições não têm serviços internos de hemoterapia para coleta, testagem e conservação em grandes quantidades.
“Já os demais hospitais de nível terciário em Luanda, têm serviços de hemoterapia. Nós, como instituto, apenas testamos o sangue
que eles colhem. Nas províncias, temos centros provinciais de hemoterapia que pertencem ao INS e trabalham de forma autónoma
para atender todas as unidades de saúde destas localidades”, sublinhou.
Deodeth Machado informou que Luanda tem cerca de 45 serviços de hemoterapia, entre privados e públicos, consumindo aproximadamente 350 unidades por dia.
Grupo sanguíneo
Além da falta de dadores voluntários, uma das maiorespreocupações da instituição é o número reduzido de dadores com grupos sanguíneos negativos (ABO negativos), que representam apenas 15% da população geral.
“Nós, enquanto INS, temos a responsabilidade de garantir a disponibilidade deste tipo de sangue. Embora sempre recebemos apoio das famílias dos pacientes, a demanda às vezes é maior do que a oferta”, revela Machado.
O conhecido sistema sanguíneo ABO é composto por oito tipos principais: A+ (positivo), B+ (positivo), AB+ (positivo), O+ (positivo), A- (negativo), B- (negativo), AB- (negativo), O- (negativo). Existem também tipos sanguíneos raros, como o Bombay – considerado um falso O –, e o sangue dourado com Rh Nulo (sem antígeno Rh).
De acordo com a OMS, estima-se que menos de 50 pessoas em todo o mundo possuem Rh Nulo, tornando estes doadores extremamente raros.
Segurança na transfusão
A especialista em imunohemoterapia adverte que a transfusão de sangue mais segura é aquela que nunca é feita, ressaltando que, quando possível, deve-se evitar ao máximo a realização de transfusões.
“Ainda que todos os processos de testagem e conservação sejam seguidos rigorosamente, o risco de contaminação, imunológica ou infecciosa, está sempre presente, afinal, trata-se de um líquido proveniente de outro corpo”, explica a médica.
Dia Mundial do Doador de Sangue
O Dia Mundial do Dador de Sangue é comemorado, anualmente, em 14 de junho, em homenagem a todos os dadores e para consciencializar os não-dadores sobre a importância deste acto altruísta, que salva milhares de vidas. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde em 2014, como uma homenagem ao nascimento de Karl Landsteiner (14 de junho de 1868 – 26 de junho de 1943), imunologista austríaco que descobriu o factor Rh e as diferenças entre os diversos tipos sanguíneos. portas, às vezes conseguimos atender os pedidos recorremos à chamada de familiares que, de facto, têm nos ajudado muito”.
O conhecido sistema sanguíneo ABO é fundamentalmente composto por oito tipos sanguíneos: A+ (o sinal de mais significa positivo), B+, AB+, O+, A- (o menos significa negativo), B-, AB-, O- mas existem também tipos de sangue raros como o caso do Bombay – considerado falso O –, e o “sangue dourado” que tem RH Nulo (não conta com nenhum tipo de antígeno RH este tipo sanguíneo é considerado o mais raro do mundo, de acordo com a OMS, estima-se que o RH nulo ou, como é conhecido, sangue dourado, acomete menos de 50 pessoas em todo o mundo, nestes casos, os dadores destes grupos são muito raros.
Entretanto, a especialista em imunohemoterapia adverte, a transfusão mais segura é aquela que nunca é feita. Quer dizer que, se todos evitarem ao máximo realizar uma transfusão de sangue será sempre melhor.
Porque, prosseguiu a médica, numa transfusão, apesar de todos os processos de testagem e conservação, o risco de alguma contaminação está presente, quer seja do ponto de vista imunológico como infecciosos, por se tratar de um líquido que não é nosso, é proveniente de um outro corpo.
O Dia Mundial do Dador de Sangue é comemorado, anualmente, a 14 de Junho, com o objectivo de homenagear todos os dadores e consciencializar os não-dadores sobre a importância deste acto, que é responsável pela salvação de milhares de vidas.
A data foi criada por iniciativa da Organização Mundial da Saúde, em 2014, e o dia escolhido é uma homenagem ao nascimento de Karl Landsteiner (14 de junho de 1868 – 26 de Junho de 1943), um imunologista austríaco que descobriu o factor Rh e várias diferenças entre os diversos tipos sanguíneos.
Dez critérios para ser um dador de sangue
- Idade: ter entre 16 e 69 anos. Menores de 18 anos precisam de autorização dos responsáveis, e pessoas acima de 60 anos só podem doar se já tiverem doado antes.
- Peso: pesar no mínimo 50 kg.
- Saúde: estar em boas condições de saúde no dia da doação.
- Intervalos entre doações: homens podem doar a cada dois meses, até quatro vezes por ano. Mulheres podem doar a cada três meses, até três vezes por ano.
- Alimentação: não estar em jejum. Fazer uma refeição leve antes da doação e evitar alimentos gordurosos nas 4 horas que antecedem a doação.
- Hidratação: estar bem hidratado, ingerindo bastante líquido nas 24 horas que antecedem a doação.
- Doenças transmissíveis: não ter doenças transmissíveis pelo sangue, como hepatites B e C, HIV, sífilis, entre outras.
- Uso de medicamentos: informar sobre o uso de qualquer medicamento. Alguns medicamentos podem ser impeditivos temporários ou permanentes para a doação.
- Procedimentos médicos recentes: não ter realizado procedimentos médicos invasivos recentes, como cirurgias, endoscopias ou tatuagens, nos últimos 6 a 12 meses.
- Estado geral: não estar com febre, sintomas de gripe ou resfriado, ou qualquer infecção no momento da doação.
Anualmente são feitas 118,5 milhões de doações de sangue no mundo
Todos os anos, a 24 de Junho, comemora-se o Dia Mundial do Doador de sangue. Este ano, o tema é “20 anos a celebrar a dádiva: obrigado, dadores de sangue!”. O 20.º aniversário do Dia Mundial do Doador de Sangue é uma excelente ocasião para agradecer aos doadores de sangue de todo o mundo por suas doações que salvaram vidas ao longo destes anos, rever a situação das transfusões e do acesso as mesmas a nível do mundo, considerando a realidade dos países e da sua população.
As transfusões são importantes, contribuem para diminuição da mortalidade infantil e materna melhoria drástica da esperança de vida dos pacientes que sofrem de doenças hereditárias potencialmente fatais, como a hemofilia e a talassemia e de doenças adquiridas, como o cancro e a hemorragia traumática, bem como no apoio dos procedimentos médicos e cirúrgicos complexos, incluindo transplantes.
Em países de alta renda, a transfusão é uma intervenção comummente realizada em cirurgia cardiovascular, cirurgia de transplante, grandes traumas e tratamento de tumores malignos sólidos e neoplasias sanguíneas. Em países de baixa e média renda, é mais frequentemente usada em casos de complicações da gravidez e anemia infantil grave. Por isso, nos países onde se regista penúria de sangue, as crianças e as grávidas são as mais afectadas, pois são as que mais dele necessitam.
Dados da OMS mostram que anualmente, no mundo inteiro, são feitas 118,5 milhões de doações de sangue, das quais 40% em países de renda alta, onde vivem 16% da população mundial. Nos países de baixa renda, o número de doações é inferior a cinco por cada 1000 habitantes, nos países de renda média e média baixa é de 16,4 e 6,6, respectivamente por cada 1000 habitantes, enquanto nos países de renda alta é de 31,5 por cada 1000 habitantes. Estes dados expõem uma diferença importante no acesso ao sangue e seus derivados, o que faz com que numerosos pacientes que têm necessidade de transfusão não tenham acesso a este produto.
A Resolução WHA63.12 da Assembleia Mundial da Saúde exorta os Estados-membros a estabelecerem, implementarem e apoiarem programas de sangue e plasma sustentáveis, geridos de forma eficiente e coordenados a nível nacional, de acordo com a disponibilidade de recursos, a fim de alcançar a auto-ssuficiência. É responsabilidade de cada Governo garantir o fornecimento adequado e equitativo de derivados do plasma, como imunoglobulinas e fatores de coagulação, necessários para prevenir e tratar várias condições graves que ocorrem em todas as regiões do mundo.
Para garantir o aprovisionamento de sangue, os países contam com três tipos de doadores de sangue: (i) voluntário e não renumerado (ii) membros da família e (iii) renumerados. Sendo que o aprovisionamento adequado e seguro de sangue é assegurado por doadores voluntários e não renumerados, porque neste grupo a prevalência das infecções transmissíveis pelo sangue é mais fraca. Assim sendo, neste Dia Mundial do Doador, é importante destacar o papel essencial dos doadores voluntários e não renumerado de sangue que garante o acesso universal deste produto e de seus derivados para todas as comunidades.
Em cada país, o aprovisionamento do sangue seguro e adequado deve fazer parte integrante da política nacional de cuidados de saúde, garantindo tal como a OMS recomenda, o uso seguro e racional do sangue para reduzir transfusões desnecessárias e inseguras, melhorando assim os resultados e a segurança dos pacientes e minimizando o risco de eventos adversos, incluindo erros, reações transfusionais e transmissão de infecções.
O risco de transmissão de infecções graves devido ao uso de sangue inseguro e a escassez crónica de sangue fez com que o mundo apercebesse da importância da disponibilidade e segurança do sangue. Por isso, a gestão do sangue é crucial para optimizar os resultados, garantir a segurança e transfusões apropriadas. A OMS apoia os países a criarem sistemas nacionais de transfusão para garantir o acesso rápido ao sangue e seus derivados seguros em quantidades suficientes, bem como a estabelecer boas práticas de transfusão sanguínea para atender às necessidades dos pacientes.
Assim sendo, a OMS exorta os Estados-membros a adoptarem estratégias integradas que incluem: a) estabelecimento de um sistema nacional de sangue, com serviços transfusionais bem-organizados e coordenados; b) colecta de sangue, plasma e outros hemoderivados de doadores em populações de baixo risco, regulares, voluntárias e não remuneradas; c) triagem de todo o sangue doado para infecções transmissíveis por transfusão, como HIV, hepatites B e C e sífilis; d) uso racional de sangue e hemoderivados para reduzir o número de transfusões desnecessárias e minimizar os riscos relacionados à transfusão; e a e) implementação gradual de sistemas de qualidade eficazes.
Importa aqui destacar a necessidade de assegurar como prática rotineira dos profissionais de saúde à realização de diagnóstico e correcção de deficiência de ferro e anemia, consideração de alternativas à transfusão, uso de medicamentos e dispositivos para reduzir a necessidade de sangue, uso clínico adequado do sangue e manejo eficaz dos pacientes que precisam de transfusão.
O sangue salva-vidas e os doadores no seu conjunto e individualmente prestam um grande serviço solidário às comunidades doando sangue. Salvar vidas deve ser uma missão de todos e com o apoio de todos. Vamos todos doar sangue para que o seu acesso seja universal.
Fonte: JA