Défice de pessoal alarma Saúde no Cazenga

Cazenga – À semelhança das demais regiões de Luanda, e do país em geral, o município do Cazenga tem no défice de pessoal da Saúde o seu calcanhar de Aquiles no desafio que enfrenta para oferecer um serviço de qualidade e ininterrupto, nas várias unidades sanitárias de que dispõe.

Com uma população de mais de dois milhões de habitantes, a circunscrição encontra-se muito aquém dos índices recomendados internacionalmente, para a cobertura médico-sanitária de localidades ou comunidades.

Segundo o director municipal da Saúde, Caetano Miguel, o município regista um défice de 820 profissionais de saúde, dos quais 112 médicos, 379 técnicos de enfermagem e 152 especialistas de serviços terapêuticos.

A expectativa é, por isso, enorme em torno dos concursos públicos que vão sendo organizados pelo Ministério da Saúde (MINSA), na esperança de que alguns dos apurados possam aumentar o leque de trabalhadores do município.

Luanda faz parte das sete províncias do país com unidades hospitalares que vão beneficiar dos cerca de cinco mil profissionais admitidos por repescagem, no quadro do último concurso público do sector realizado, em 2022.

Trata-se de uma quota adicional autorizada pelo MINSA, este mês, para os candidatos apurados mas não admitidos, na altura do concurso, por insuficiência de vagas.

São médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica do regime geral e trabalhadores sociais que vão preencher vagas, nas províncias de Luanda, Bengo, Moxico, Huambo, Cunene, Cuanza-Sul e Cuanza-Norte.

“Esperamos que dos apurados alguns possam aumentar o leque de trabalhadores do município” do Cazenga, desejou o director municipal da Saúde.

Em recentes declarações à ANGOP sobre o estado actual do sistema de saúde no município, Caetano Miguel explicou que, em conformidade com as recomendações internacionais, o Cazenga devia ter acima de 200 médicos.

Porém, lamentou, o município conta, actualmente, com 51 médicos apenas, o que representa “um défice total” diante das exigências da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esta situação afecta seriamente a capacidade de fazer face à demanda dos munícipes que procuram um atendimento contínuo e à altura das suas necessidades, diz o director.

Argumentou que a OMS preconiza um médico por cada mil habitantes, o que significa que se devia ter acima dos 200 profissionais para uma municipalidade que tem apenas 51.

O responsável fez saber que, ao todo, o Cazenga tem mil e 301 trabalhadores da Saúde, incluindo 51 médicos, 758 técnicos de enfermagem e 243 técnicos de serviços terapêuticos, entre psicólogos, terapeutas e especialistas de laboratório, bem como 82 técnicos de apoio hospitalar.

Entre estes últimos estão os maqueiros e os motoristas aos quais se juntam 167 trabalhadores administrativos.

Quanto às especialidades disponíveis, Caetano Miguel apontou para a presença de médicos internos de serviços como ginecologia, obstetrícia, pediatria, cirurgia, ortopedia e outros, faltando completar a equipa com especialistas de nível terciário como neurologistas e neurocirurgiões.

Acrescentou que o Ministério da Saúde têm conhecimento do défice de recursos humanos, e que continua a seguir os planos estratégicos do Governo, incluindo, neste caso, o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).

15 unidades sanitárias

Cazenga possui 15 unidades sanitárias, sendo um hospital-geral de nível provincial (dos Cajueiros), dois hospitais municipais, cinco centros de saúde de referência, com salas de parto, quatro centros normais, sem salas de parto, e três postos médicos.

Segundo Caetano Miguel, não somente há défices na questão dos recursos humanos mas também em camas, pois que, de forma geral, o município tem 594 leitos para fazer face aos pacientes.

Defendeu, por isso, a necessidade de se aumentar também o número de camas, por via do acréscimo de serviços no município, em pelo menos mais um hospital municipal.

A seu ver, são necessários mais cinco centros de referência e 10 novos postos de saúde, por estes constituírem a primeira porta (de entrada) do paciente.

Revelou que os primeiros passos nesse sentido já começaram a ser dados, nomeadamente, com a recuperação do Centro de Saúde do Asa Branca, com fundos próprios da administração.

Enquanto isso, outros projectos estão inscritos no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) como o Centro de Saúde do Hoji-Ya-Henda, disse.

Em Fevereiro deste ano, o Presidente da República, João Lourenço, efectuou uma visita de constatação ao Hospital dos Cajueiro e anunciou que o mesmo vai sofrer uma reabilitação profunda, abarcando todas as suas áreas.

Sem apontar datas, o estadista avançou que a decisão foi tomada e que vai ser executada, apesar de ainda haver necessidade de mobilizar recursos, devido às insuficiências constatadas no terreno pelo próprio Presidente.

Na altura, declarou que a situação actual do Hospital Geral dos Cajueiros (HGC) exige uma intervenção bem maior do que a que está a acontecer actualmente, cingindo-se apenas ao bloco operatório e ao depósito de medicamentos.

“Só isto não é solução para o estado em que o hospital se encontra”, destacou João Lourenço à imprensa durante a sua jornada de campo.

Perfil epidemiológico

A malária é a primeira doença, no perfil epidemiológico do Cazenga, de acordo com os dados comparativos da Direcção Municipal da Saúde para o primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023.

Seguem-se as doenças respiratórias e diarreicas, a má nutrição, a tuberculose e as doenças crónicas como a hipertensão e a diabete.

De Janeiro a Março do corrente ano, o município registou mais de 75 mil casos de malária, contra perto de 80 mil do período homólogo, em 2023, referem os mesmos dados.

As mulheres grávidas e as crianças menores de cinco anos de idade são as mais afectadas, sublinhou Caetano Miguel, adiantando que, para se combater a doença, as principais medidas têm sido a eliminação dos focos criadores de mosquitos, através de acções de saneamento ambiental, bem o uso de mosquiteiros e insecticidas.

O director indicou que a Direcção Municipal da Saúde (DMS) do Cazenga tem distribuído mosquiteiros e realizado acções de fumigação intra e extra domiciliares, assim como palestras de sensibilização nas comunidades.

Já para a tuberculose, referiu, foram reportados às autoridades sanitárias do município, mil e 500 novos casos, durante o primeiro trimestre do ano em curso, um aumento de 510 casos em relação a período anterior.

O elevado número de casos da tuberculose é atribuído ao alto índice de consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e má alimentação, sendo a faixa dos 20 aos 45 anos, principalmente homens, a mais afectada, disse.

Considerou que a situação é preocupante pelo facto de a doença ter registado, só no mês de Fevereiro deste ano, 25 óbitos a nível da municipalidade, onde existem cinco centros de saúde disponíveis para o diagnóstico e tratamento de doentes com tuberculose.

Cariango, Paz, Progresso, Compão e IEBA, este último afecto a uma congregação religiosa, são os centros de saúde em causa que atendem não só os pacientes do Cazenga como também os dos municípios limítrofes (Cacuaco, Viana e Kilamba Kiaxi), explicou o director.

O médico fez saber ainda que as estratégias para cortar a cadeia de transmissão da tuberculose passam por rastrear os familiares mais próximos do doente e o contacto telefónico deste para se saber se cumpre a medicação.

Disse serem distribuídos medicamentos de forma gratuita, bem como aconselhados os doentes para não desistirem da medicação, uma vez que “a tuberculose não tem cura”.

Depósito de medicamento

De acordo com director da Saúde do Cazenga, o município não tem problemas com a distribuição de medicamentos, mas que é desejo da sua Direcção construir um depósito de medicamentos para seu acondicionamento e levantamento.

Nesta fase, adiantou, os medicamentos estão guardados em sítios diferentes, nos centros de Saúde do Calawenda, da Paz e do 11 de Novembro, locais que não permitem que haja uma distribuição rápida, fazendo com que haja atrasos na distribuição para as unidades sanitárias.

“Temos medicamentos no município, as unidades sanitárias têm medicamento. Claro que a nossa preocupação (é que) seria bom que tivéssemos uma unidade única para o depósito de medicamentos e também para ser sítio de levantamento”, frisou.

Realçou que, apesar dessas pequenas ilhas de depósito de medicamentos, não há influência sobre o controlo dos fármacos, uma vez que, até então, tem sido eficaz, mediante um sistema de gestão de stock.

Além disso, contou, o Cazenga não tem uma morgue municipal e que, apesar de se usar as três existentes nas unidades de referência, existem necessidades que somente uma morgue pode suprir para a população.

Falou também da carência de ambulâncias, uma vez que só existem cinco veículos a nível do município, um número “insuficiente”, ao lado da necessidade de intervenção nas vias de acesso às unidades sanitárias para facilitar a circulação de pessoas e bens.

O director Caetano Miguel referiu ainda que a DMS tem feito um trabalho conjunto com os outros sectores da administração municipal, apresentando as dificuldades e que têm recebido alguns apoios.

“Neste momento, a título de exemplo, a estrada que nos leva até ao Hospital Municipal do Cazenga, o famoso Somague, está em obras, temos o acesso bom para o Hospital Geral dos Cajueiros. Então, pouco a pouco, os acessos estão a ser melhorados”, reforçou.

Cazenga, um dos nove municípios da província de Luanda, está constituído pelos distritos urbanos do Tala-Hadi, do Cazenga, do Calawenda, do Kima-Kieza, do Hoji-Ya-Henda e do 11 de Novembro.

Tem uma área territorial de 41,2 quilómetros quadrados e uma população estimada em dois milhões de habitantes.

 

Fonte: Angop

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