Nada impede os cristãos de participarem nas decisões "mais importantes" do país

Angola vai realizar em 2020 as primeiras eleições autárquicas. O processo que culminará com as eleições, tem sido dominado por partidos políticos e marcado por apelos de organizações da sociedade civil a uma maior participação  de outros sectores da sociedade. Para alguns cristãos, esse é um exercício reservado aos políticos, a Igreja não deve participar. 

Reverendo Ovídio de Freitas
Reverendo Ovídio de Freitas.

Recorrendo a um adágio antigo utilizado por Martin Luter King Júnior, “que provavelmente advém do século XVI, mas que foi passando de geração à geração, que diz que “a Igreja não é escrava nem é dona do Estado, mas a a consciência do Estado”, o reverendo Ovídio de Freitas, garante não haver mal algum o cristão participar nas decisões importantes do seu país em prol de algo que lhe beneficia.
Falando ao portal Arautos da Fé, a margem de uma palestra sobre “A influência das autarquias locais na vida das famílias cristãs”, realizada a 22.06 em Luanda, pela Sociedade Média Joyce da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), o pastor, observou, que a participação da liderança religiosa,  na política é que exige alguma cuidado.
Enquanto sacerdote, exemplificou, se quiser dedicar-se a vida política, tem que se despir da sua capa sacerdotal porque, justificou, é suposto que quando as pessoas vão à igreja para ter o contacto com a Palavra de Deus proferida pelo pastor, vêm de diferentes filiações partidárias.
“Não ficaria muito bem, se eu vestisse a capa de um determinado partido e as minhas prelecções podiam ter alguma conotação, mesmo que não queira, partidária.”
No entanto, sublinhou, não há mal, serem abordadas questões políticas, o quê que as autarquias vão trazer para o país, como elas beneficiam o cidadãos, quais são as implicações que terão na relação das pessoas, de forma a prepara-las para que quando chegarem as autarquias tenham a idoneidade suficiente para definirem correctamente que posições devem tomar. 
“Não há nada que nos limite neste sentido, embora a nossa cartilha (da IECA) produzida em 2000, adverte-nos para que em determinados escalões da Igreja, quando alguém quiser seguir uma vida política activa, sobretudo partidária, deverá colocar a disposição o seu trabalho religioso”, esclareceu.
Aos fiéis, o pastor, apelou a estarem sempre preparados para os grandes desafios do país, a serem honestas e a dedicarem-se a Deus de corpo e alma.
“Enquanto crentes devemos sempre privilegiar primeiro a oração, segundo ter um espírito investigativo. As pessoas devem ler, devem buscar cultura sobre os grandes desafios da sociedade moderna. Quando se fala de autarquias, o que é isso? A pessoa tem de ter pelo menos, o ABC, se não tem literatura que ajude, pelo menos  promova debates, convide pessoas com determinada autoridade para que falem sobre isso, que deixem em claro sobre esses desafios”.
 
Modelo de governação autárquico tem semelhanças com o congregacional
Nas formas de governo eclesiástico, existem o modelo episcopal – onde uma personalidade assume as rédeas da governação da Igreja – e o modelo congregacional – onde as congregações são autónomas, “que até certo ponto” tem semelhanças com o modelo de governação autárquico, segundo o revendo Ovídio de Freitas.
O governo congregacional, explicou, teve o seu início no século XVI da era cristã na Inglaterra, quando um grupo se demarcou da Igreja anglicana. Os congregacionais surgiram com a ideia de que as congregações são autónomas. 
Segundo o pastor, a palavra congregacional não vem do verbo congregar, mas do substantivo congregação.
Na IECA, as congregações podem ter uma representação de governo a nível provincial ou a nível nacional. No entanto, elas são autónomas na sua forma de gestão, na sua operacionalidade – quer a nível eclesiástico, quer a nível administrativo.
“É verdade que nós os congrecionais angolanos não somos o do tipo clássico. O nosso congregacionalismo não é rigorosamente como ele foi concebido”, referiu. Mas, acrescentou, “é importante e é interessante estabelecer esse paralelismo, porque (autárquia) não é uma coisa nova. Na verdade em termos de governação da Igreja, as capelas, as comunidades locais, desenham, traçam os seus planos estratégicos, o que é prioritário para elas, embora em alguns momentos temos alguma obediência a estrutura provincial e a estrutura nacional.” 
 

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