A igreja está doente e a esperança de Angola é Deus

Luanda – Abel Mande, é líder juvenil e em entrevista ao Portal Arautos da Fé, falou sem reservas de temas sensíveis para a igreja angolana. No seu entender, a igreja não está a responder fielmente os propósitos da sua criação. 

Arautos da Fé: Em sua opinião qual é o papel da igreja na sociedade?

Abel Mande: O papel da igreja na sociedade é influencia-la com os seus princípios, acima de tudo levar as pessoas a viverem para Cristo. É pregar o Evangelho. Se ela não estiver a cumprir com este papel, não estará a responder os propósitos da sua criação na terra.

AF: Olhando para a crise de valores que se vive na sociedade, podemos responsabilizar a igreja?

AM: Digo sempre que a igreja está doente, porque olhando para o que tem transformado a sociedade, atribuo a culpa na própria igreja, porque não se impõe como deve. Ela tem sido mais influenciada do que influencia este mundo.  Paulo e Silas fizeram uma viagem para Antioquia e lá houve um grande alvoroço pela chegada deles, de tal maneira que as pessoas que lá estavam se reuniram e disseram: estes que têm perturbado a terra, chegaram até aqui. Estas pessoas que tem influenciado, trazido um Evangelho puro e verdadeiro, chegaram também aqui. E hoje não se faz sentir isto. Quando subimos aos nossos altares, a maior parte do Evangelho que é pregado é, tu vais ter, é naquilo que Deus pode dar. E digo sempre que estamos a entrar nos mesmos princípios que o mundo. Repara que no mundo não vales pelo que és, mas pelo que tens. Hoje na igreja também é assim. Mas diante de Deus o teu valor está naquilo que és, no teu carácter. Hoje as pessoas não se importam com o que fazer para atingir os seus objectivos. Podem pisar os outros, mentir porque o mais importante é atingir os seus objectivos.

AF: Está resposta justifica os fenómenos que estamos a ver em Angola: homossexualismo, violência domestica, promiscuidade, senhores que se envolvem com adolescentes, professores com alunas, patrões com empregadas?

AM: Também. Já não existem valores. As pessoas não medem esforços, não se importam como alcançar, não querem esperam. Não querem lutar para ter, não querem trabalhar para ter. É uma série de fenómenos que estão a acontecer hoje na nossa sociedade, porque a igreja está a dormir, não está a cumprir com o seu verdadeiro papel na terra. Assistimos isto e não nos pronunciamos. Houve a bem pouco na novela que está a passar na televisão pública, cenas de homens que se envolveram, se beijaram e a igreja não se pronunciou, foram pessoas singulares que o fizeram.

Houve uma situação há anos atrás, fecharam a igreja Maná, a igreja também não se pronunciou. Cada um está preocupado com a sua denominação. Mas quando tocam numa igreja Maná, estão a tocar no corpo de Cristo. São muitas pessoas que em função daquela situação ficaram desviados, hoje estão perdidos no mundo. Mas muitos líderes, muitas igrejas, pensaram ok, fecharam a igreja Maná eu vou ganhar com os membros que vão para a minha igreja. É puramente isto que se pensa, quando deveríamos ter outra postura. É uma igreja, é o corpo de Cristo que está sendo afectado, deveríamos nos unir e posicionarmo-nos de maneira diferente.

AF: Olhando para o contexto actual, que futuro para a juventude podemos esperar?

AM: Como diz um amigo meu, se o barco continuar assim amanhã não teremos igreja. E eu digo sempre que se a Pedro, Paulo, João, Deus desse uma oportunidade de acordarem, ao olharem para este mundo actual, eles iria chorar. Diriam que não foi por isto que nós morremos. A história nos diz que Pedro foi crucificado e ele negou ser crucificado de cabeça para cima. Porque Jesus foi crucificado de cabeça para cima, ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. Tudo por causa do Evangelho.

E hoje, por causa do ter, as pessoas não querem saber, esquecem-se de tudo. Se o quadro continuar amanhã não teremos igreja, teremos associações, clubes. Mas é claro, temos orado para que esse quadro mude, para que as coisas  melhorem. Deus tem um propósito com a nossa nação.

Estamos a perder problemas de nações que já avançaram muito em termos de desenvolvimento. Estamos a herdar agora está questão do homossexualismo, do lesbianismo, dos Estados Unidos, mas nós não podemos nos comparar com os Estados Unidos, nem com o Brasil. Em termos de desenvolvimento eles estão muito distantes de nós. E o grande problema é este, não temos identidade, importamos tudo. Seria bom que importássemos mais coisas boas do que coisas más.

AF: O ensino da religioso cristã na escolas seria uma solução para mudarmos o quadro?

AM: Seria. A teologia pode ajudar muito. É uma ferramenta que dá capacidade de poder exercer a liderança ou dirigir com conhecimento. Se melhorarmos muito na questão de equipar e capacitar  líderes para melhor servir o Senhor, acredito que isto vai influenciar muito amanhã. Olho sempre para a metodologia de trabalho do Islão. Repara que não fazem o trabalho de evangelização. Nunca vais encontrar um discípulo de Maomé, na rua a evangelizar. O trabalho deles é na base, é na família, é com as crianças.

Eles têm a seguinte filosofia, se incutirmos os nossos princípios, os nossos ideais a uma criança, quando ela crescer, ninguém vai poder tirar. E bem raro encontrar alguém que cresceu com os princípios do Islão e depois desviou-se dele.

E a Bíblia nos diz que ensine a criança no caminho em que deve andar, para que amanhã não se desvie dele. Nós precisamos ensinar, o profeta Oseas fala de conhecimento. A igreja cristã precisa de investir muito na formação de líderes. Se investirmos mais, focando-nos não só nos adultos, mas também nas crianças, que é o leque de pessoas mais marginalizadas na igreja, conseguiremos influenciar as próximas gerações.

AF: Como é que os jovens cristãos podem neste momento influenciar mudanças em Angola, para transformar o País?

AM: Uma das coisas que temos falado muito na nossa igreja é que nós fomos chamados para fazer a diferença. Nós jovens.

Então, uma das formas pela qual podemos influenciar, é fazer a diferença onde estivermos inseridos. Se estas na faculdade, tens a responsabilidade de influenciar lá. Se estas no Ministério das Finanças, na Educação, na escola a dar aulas, tens a responsabilidade de influenciar vidas. Há uma necessidade de nós como cristãos, tomarmos posse de várias áreas da nossa nação. Eu acredito que só assim haverá mudanças. Imagens um cristão temente a Deus, a dar aluas, não vai receber gasosa. Se tiver um cristão na Assembleia, como Governador de uma província… Hoje vemos uma seria de coisas a ser a provada e a ser desaprovada no nosso país, porque não há pessoas que temem a Deus, que se levantam para dizer isto é ilegal. Isto não se pode fazer porque Deus não permite. Se nós jovens, nos levantarmos, nos empenharmos e é este trabalho que estamos a fazer agora, que é trazer a juventude a importância de estudar, não só estudar mas ser o melhor onde estiver a trabalhar, onde estudar, para marcar a diferença e quando as pessoas olharem vão dizer ele é cristão, só assim vamos marcar uma grande diferença nesta nação como jovens.

AF: Que mensagem deixa para a juventude cristã de Angola?

AM: Uma das mensagens que eu podia deixar, para a juventude angolana, diante deste quadro actual em que o nosso governo decretou falência, há uma crise mundial, há subida constante de preços, eu deixo uma mensagem a juventude e não só, de que a esperança de Angola está em Deus. A grande esperança de Angola e do mundo não está nos homens, não está nos recursos minerais que um Angola tem, mas em Deus. Eu acredito que se Angola, voltar para Deus, se os líderes voltarem para Deus, vamos voltar a ver mudanças no nosso país. Por muitos anos temos visto os líderes se distanciando de Deus, mas se voltarmos para Deus, muita  coisa vai mudar. A Bíblia fala que se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, e se converter nos bons caminhos, eu ouvirei do céu e sararei a sua terra. A terra só vai ser sarada, só vai ser frutífera quando nós cumprirmos com o que Deus disse.

Perfil

Nasceu no dia 2 de Julho de 1984, na província de Benguela, que situa-se na faixa litoral de Angola, no meio de uma família cristã, originaria da província planáltica do Huambo. Baptizado com o nome de Abel Chandamissa Mande, no seio familiar é tratado por…
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