“Estamos a viver um tempo muito difícil, onde o cristão está a vender a sua identidade”

Em vésperas de apresentar o seu concerto, a cantora evangélica Teresa Kuanzambi Neves Carlos, “Tê Kuanzambi”, recebeu no estúdio, onde tem ensaiado com a sua banda, a equipa de reportagem do portal Arautos da Fé. Em pouco menos de um quarto d’hora, a cantara falou da sua carreira e analisou o estado da música evangélica feita em Angola.
Nascida em Luanda no dia 2 de outubro, Tê Kuanzambi, é uma referência da música cristã. É casada e mãe de 4 filhos (3 meninas e 1 rapaz) e como fez questão de reiterar, é serva de Deus. 

Tê Kuanzambi
Tê Kuanzambi

Arautos da Fé: Quando é que descobriu sua vocação para a música?
Tê Kuanzambi: Não me lembro quando foi que descobri que tinha vocação para música. Eu nasci numa família cristã, graças a Deus e desde pequena frequentava a igreja, mas como alguém que vai a igreja para ouvir a música, comer um bolinho. Mas, em 1994 graças a Deus comecei a cantar na igreja IEBA onde fui corista durante 3 ou 4 anos. Depois eu queria mais! Saí da IEBA e fui na Evangélica da Reconciliação onde estou até hoje. Encontrei-me com o meu mentor que é o Frederico Manguei, que pela primeira vez me deu o microfone. Graças a Deus foi ele quem me descobriu.
AF: Teve alguma influência de músicos nacionais ou internacionais que ouvia naquela época?
TK: A minha mãe e o meu pai já me influenciam. A minha mãe foi corista por um longo tempo e o me pai também. Mas para fazer carreira não precisei de ouvir músicos nacionais ou internacionais. Eu mesma não sabia que tinha talento para fazer uma carreira. Os meus mentores é que foram dizendo faz isto, faz aquilo. Eu fazia por eles, não fazia por mim. Fazia por eles e graças a Deus, em 2007 depois do meu matrimónio decidi fazer carreira mas, com a ajuda de um amigo que é o irmão Tati Cabata. Fui com ele até ao Congo, fiz um trabalho mas estava mais inclinado para o estilo da cantora congolesa Lor Mbongo, pelo menos três músicas, mas outras músicas tinham os nossos estilos kizomba, zouk e tal. Mas quando cheguei aqui as músicas não correspondiam com o padrão daqui. Então tive que guardar o disco. Em 2010 pensei criar uma banda com a ajuda dos meus amigos, meus irmãos da igreja, que são Jhon Kalo, Ricardo Massaki, Samuel e outro irmão que agora está no Brasil, o Silven. Em 2010 começamos a banda a Glória da Última Casa. DSC_3874 copy
AF: Quantos integrantes tem a banda?
TK: Neste momento não tem um número exato porque todos os dias tem um filho novo. Mas na verdade foi uma banda que começou com 5 pessoas, quatro instrumentistas e eu, não tinha coristas. Mas graças a Deus em 2011 começamos a ter coristas e nesta altura temos 6 vocalistas e somos ao total 15 e mais filhos que não consigo contar. Somos muitos. Uma família.
AF: Como é que está o vosso ministério?
TK: Não vou dizer totalmente bem porque quem diz que está totalmente bem, diz que o que tenho basta. Mas está num bom caminho, que eu sei que é o caminho da perfeição. Vamos buscando todos os dias a perfeição e pela ajuda do Senhor vamos estar bem.
AF: Quais são os projectos em que está a trabalhar neste momento?
TK: A Tê Kuanzambi está na preparação da segunda edição do “Obrigado Pai”. Começamos em 2016, fizemos um trabalho e queríamos agradecer a Deus. Porque, em 2015, não disse antes, nós conseguimos ganhar o prêmio de melhor voz feminina e o trofeu revelação. Isso foi em Dezembro. Então eu disse que não posso ficar calada, não fiz nada, não tenho o melhor CD e se formos a falar dos melhores eu não sou a melhor, então o que é que devo fazer para Deus? Daí veio o pensamento de criar a celebração gospel “Obrigado Pai”. Eu queria agradecer a Deus de uma maneira diferente, testemunhar ao mundo que Deus fez isso para mim. Fizemos a primeira edição no ano passado e vimos que devemos continuar. Obrigado Pai é todos os dias, todos os anos, mas como requer dinheiro e tel… vamos fazer uma vez ao ano, voltar na presença do Pai e dizer: Te agradecemos pela vida. Temos esse projecto, também estamos em estúdio, já temos seis músicas gravadas. Temos Obrigado Pai, Dê-me forma, Tempo de Deus, Adonai e mais uma que não me vem a mente. Estamos para gravar um disco de 13 títulos ainda este ano. DSC_3908 copy
AF: E em termos de participações em eventos como é que está?
TK: Graças a Deus somos abençoados porque em cada dia, cada sábado, cada domingo, tem sempre um irmão que Deus está abençoando e está a nos convidar para participar. Estamos sempre nas vigílias, nas igrejas, estamos quase todos os dias a trabalhar graças a Deus sem parar. Estamos muito bem nessa área, o Senhor tem nos abençoado para mostrar o nosso trabalho aos nossos irmãos e as pessoas que conhecem ou não conhecem. Deus tem nos dado essa graça para mostrar de uma forma ou outra o nosso trabalho.
AF: Como é que está a sua agenda para este mês?
TK: Estou feliz porque dia 6 (de Agosto) estaremos em concerto, só faltam algumas semanas, mas eu já tenho uma vigília hoje (a entrevista foi feita na sexta feira 07), sábado um concerto, domingo também e nos dias 29 e 30 (de Julho).
AF: Já possível viver da música gospel em Angola?
TK: Gospel não. Estou a ser muito sincera e acho que ninguém vai me contrariar a dizer eu já vivo a 100% da música gospel. A Tê Kuanzambi não ganha nada para fazer a obra do Pai. Até hoje. Nunca fui a uma igreja que no fim disseram: amada este é o teu cache. Nunca aconteceu. Se tenho um transporte, tenho 5.000 num envelope ou tenho 7.000 que tenho de dividir com os rapazes que trabalham comigo. Tenho fé que vou chegar lá, mas ainda não vivo da música.
AF: Como é que vê a música gospel angolana, comparando com a que é feita nos outros países africanos?
TK: Não vamos fazer comparação porque Angola há muitos anos foi o país que menos desenvolvia o gospel. Então, comparar com outros países estaríamos a dizer que estamos no 2 e eles já estão no 10. E dizer que já estamos no mesmo nível, nada disso. Mas Angola está muito bem, estamos a conquistar os nossos passos. Todos os dias, como eu havia falado, quase todos os sábados e domingos tem um concerto, tem um irmão que está a agradecer a Deus por esta ou aquela coisa que Deus fez na sua vida. Agora o gospel está a ganhar um rumo. Estamos num caminho que eu sei que é bom, porque já podemos testemunhar que quase em todos os lugares, antes de fazer qualquer coisa tem que ter o gospel. Estamos a desenvolver a nossa música graças a Deus. Temos muitos jovens a cantar muito bem, eu sou testemunha disso e acho que alguém que vai ler está entrevista não vai me contrariar. Os jovens estão a trabalhar muito bem, estamos cada dia buscar nos igualar com irmãos de outros países, mas não vou comparar. DSC_3917 copy
AF: Há uma questão que é muito polémica: o músico gospel pode participar num evento secular?
TK: Que evento secular? Qual por exemplo?
AF: Um concerto de música secular?
TK: Bom! A principio vou falar da Tê para não ter que tocar outros irmãos. Eu não sei quem faz disso polemica! Não deveria ser polemica. A Tê Kuanzambi não iria fazer participação no concerto de um irmão angolano que faz secular. Não iria. Se convidou para estar lá para vê-lo fazer, não iria negar o convite, mas estar para cantar antes do amado cantar não. A Tê Kuanzambi não faria isso. Agora, se for eventos tipo… o país está a organizar um evento, tipo a festa da paz. Quem é que não gosta da paz? A paz vem de Cristo. Então se vai ter músicos seculares ou não, eu vou fazer o meu trabalho que é agradecer a Deus pela paz, pela independência do nosso país. Eu vou agradecer por isso. Mas se for para abrir o concerto de um irmão angolano (que canta música secular), não.
AF: Para terminar que mensagem quer deixar para todos que acompanham a sua carreira, todos que admiram a sua música.
TK: Só tenho que agradecer a Deus pela vida de todos as pessoas que tem me acompanhado e aqueles que ainda não nos acompanham mas vão nos acompanhar a partir d’agora. Dizer que a vida cristã é um caminho que a pessoa cai, mas não pode ficar deitada depois de cair. Tem que levantar, sacudir a roupa e continuar o caminho. É um caminho longo, podes ter falhas, podes até cair. Sê forte porque estamos a viver um tempo muito difícil, onde o cristão está a vender a sua identidade por esta ou aquela coisa. Se você vendeu caiu. De uma forma ou de outra levante-se, o caminho é longo, sacode a tua roupa, Cristo esta a tua espera lá em frente.

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